Tecnologia

Empresa aprimora produção in vitro de embriões bovinos

Meios de cultura e reagentes usados na produção de embriões pela empresa In Vitro Brasil, que tem pesquisa apoiada pelo PIPE

Fertilização in vitro: gado híbrido vem aumentando a presença em fazendas produtoras de leite de estados como Pará e Alagoas (Getty Images)

Fertilização in vitro: gado híbrido vem aumentando a presença em fazendas produtoras de leite de estados como Pará e Alagoas (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de junho de 2014 às 08h35.

São Paulo – Nos últimos anos foi introduzida em rebanhos de gado de leite em diferentes regiões do Brasil uma vaca com alta produção leiteira, como o gado Holandês, e ao mesmo tempo resistente a doenças, a alterações climáticas e a escassez de água e de alimento, como o gado Gir.

Resultado do cruzamento genético entre essas duas raças, esse tipo de gado híbrido vem aumentando a presença em fazendas produtoras de leite de estados como Pará e Alagoas graças a uma técnica de produção in vitro de embriões (PIVE) aprimorada pela empresa In Vitro Brasil.

Sediada em Mogi Mirim, no interior de São Paulo, a empresa brasileira de biotecnologia de reprodução animal tem pesquisas apoiadas pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) desde 2007. Com a crescente demanda por embriões mais eficientes, a empresa começou nessa época a direcionar recursos para consolidar seu departamento de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P, D&I).

“Detemos mais de 45% do mercado mundial de produção in vitro de embriões bovinos”, disse Andrea Cristina Basso, diretora de pesquisa da In Vitro Brasil, à Agência FAPESP. “Em 2013, produzimos cerca de 266 mil embriões bovinos e estimamos que nossa participação nesse mercado, em que o Brasil lidera, tenha aumentado ainda mais.”

A empresa foi fundada em 2002, em um momento em que a técnica de PIVE começou a despontar como negócio no Brasil, o primeiro país a aplicá-la comercialmente.

A técnica apresentava na época algumas limitações, como o tempo restrito para coleta e envio ao laboratório dos oócitos (células sexuais produzidas nos ovários dos animais), além da impossibilidade de congelar e estocar os embriões. Além disso, a produção de embriões era baixa, as taxas de gestação eram insatisfatórias e havia muitos problemas no nascimento.

Por essas razões, os embriões produzidos por meio dessa técnica eram muito caros para os pecuaristas e, portanto, aplicados, em sua maioria, apenas em animais de alto valor genético – chamados de “gado de elite” –, especialmente em gado de corte da raça Nelore, contou Basso.

“A produção in vitro de embriões bovinos não era eficiente a ponto de ser transformada em um negócio, nem apresentava resultados significativos porque ainda estava pouco desenvolvida. Foi necessário torná-la aplicável comercialmente”, avaliou a pesquisadora.

Investimento em pesquisa

A fim de melhorar a tecnologia, aumentar a produtividade e viabilizar o uso de embriões não só em “animais de elite”, mas em todo o rebanho – de modo a reduzir o intervalo entre as gerações e acelerar o processo de melhoramento genético –, a empresa decidiu realizar esforços de pesquisa para mudar os conceitos da técnica de PIVE até então existentes.

Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Jaboticabal, e com mestrado e doutorado realizados na Universidade de São Paulo (USP), com Bolsa da FAPESP, Basso foi contratada em 2007, quando a empresa iniciou seu primeiro projeto de pesquisa.

Realizado com apoio do Programa PIPE da FAPESP, o projetou possibilitou à empresa certificar a validade de seus meios de cultura – meios líquidos utilizados na produção in vitro de embriões.

“Para assegurar que os meios de cultura apresentassem condições adequadas aos embriões, nós os preparávamos diariamente, antes da saída dos técnicos para as fazendas para coletar os oócitos das vacas doadoras”, contou Basso.

“À medida que conquistamos mais clientes, em diferentes regiões do Brasil e aumentamos o número de laboratórios, esse processo diário se tornou inviável”, disse a pesquisadora.

Por meio de análises realizadas com recursos do projeto no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi possível comprovar que os meios de cultivo embrionários produzidos pela empresa mantinham a estabilidade por até 90 dias.

Com isso, a empresa passou a produzir e armazenar meios de cultura em grandes quantidades e eles se tornaram o principal produto em termos de diferencial de mercado da empresa.

“Hoje temos uma flexibilidade muito grande para manipular os meios de cultura embrionários. Enviamos esse material para nossos laboratórios e temos a segurança de trabalhar com eles durante bastante tempo, porque têm validade longa e são enviados apenas após passarem por um rigoroso controle de qualidade”, contou Basso.

Já com um segundo projeto, realizado com Bolsa de Pós-doutorado da FAPESP e em colaboração com a Colorado State University, dos Estados Unidos, a empresa passou a utilizar um método de congelamento ultrarrápido de embriões.

Aprimorado com ferramentas desenvolvidas durante o projeto, o método mostrou ser tão eficiente que logo se tornou mais um produto comercial da empresa. Hoje, cerca de 20% dos embriões produzidos pela empresa são congelados e armazenados, segundo Basso.

“Essa técnica mudou o conceito da fertilização in vitro em bovinos no Brasil e possibilitou maior flexibilidade para administrar os embriões, o transporte a diferentes regiões do Brasil e até mesmo a exportação”, afirmou.

Obstáculo à exportação

De acordo com Basso, um dos principais obstáculos para exportar os embriões produzidos in vitro é a falta de um protocolo sanitário entre os países.

Há um protocolo sanitário válido apenas para embriões produzidos in vivo, no útero da vaca, e submetidos a alguns tipos de tratamento após serem extraídos para eliminar eventuais patógenos presentes neles provenientes do sêmen do touro doador ou da própria doadora.

No caso dos embriões produzidos in vitro, estudos mostraram que procedimentos utilizados em embriões in vivo não são efetivos, uma vez que foram encontrados patógenos nestes embriões, mesmo após o tratamento, contou a pesquisadora.

“Temos uma demanda enorme para exportar embriões congelados de vacas que se adaptam bem ao clima de outros países e não temos condições de fazer isso em razão da falta de um protocolo sanitário para esse tipo de embrião”, disse Basso.

A empresa pretende agora desenvolver um protocolo para atestar aos órgãos de defesa sanitária do Brasil e do exterior que os embriões in vitro estão livres de patógenos.

“Precisamos colocar não só nossos embriões, mas também a genética da pecuária brasileira disponível ao restante do mundo”, indicou Basso. “Pretendemos desenvolver uma metodologia que comprove que nosso sistema de produção de embriões está livre de vírus e protozoários, que possa ser reconhecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Brasil e pelas entidades responsáveis em potenciais países compradores”, afirmou.

A empresa brasileira já está presente na África do Sul, Rússia, Colômbia, Argentina, Austrália, Paraguai, Panamá, Uruguai e Venezuela e, mais recentemente, nos Estados Unidos, por meio de joint ventures com empresas de biotecnologia de reprodução animal.

No Brasil, além da sede em Mogi Mirim, possui um centro de referência em reprodução animal em Uberaba, em Minas Gerais, e um laboratório em Xinguara, no Pará.

Desde 2010, começou a oferecer a tecnologia de produção de embriões in vitro para diversos laboratórios afiliados, situados em diferentes regiões do país, contou Basso.

“Esses laboratórios afiliados são empresas que tinham uma tecnologia de produção in vitro de embriões já desenvolvida ou que tiveram resultados insatisfatórios”, afirmou Basso.

“Eles compram nossos meios de cultura e damos total assistência para eles montarem seus laboratórios e treinarem os técnicos na metodologia de congelamento dos embriões”, detalhou.

Segundo Basso, a empresa cresce entre 20% e 25% por ano desde que começou a investir em pesquisa e desenvolvimento e a modificar seu plano de negócios para agregar valor aos embriões que produzem e comercializam e, dessa forma, aumentar a margem de lucro.

“Começamos a nos desenvolver a partir do momento que passamos a fazer pesquisa por meio de programas, como o PIPE da FAPESP, para aprimorar nossos produtos”, afirmou a pesquisadora, que se tornou sócia da empresa.

“Hoje temos um doutor, um mestre e dois graduados e estamos ampliando nosso departamento de pesquisa, desenvolvimento e inovação introduzindo bolsistas”, contou Basso.

Atualmente, a empresa desenvolve dois projetos com apoio do Programa PIPE da FAPESP. Um deles, em parceria com a Unesp, campus de Araçatuba, e em fase de finalização, pretende dar origem a marcadores genéticos do tipo SNP (sigla em inglês de Single Nucleotide Polymorphism) em vacas Gir e Girolando de alta e baixa produção de oócitos.

Já por meio de outro projeto recém-iniciado, realizado em parceria com a USP, a empresa pretende desenvolver ferramentas para a produção in vitro de embriões a partir de bezerras nelore e holandesas de 3 a 5 meses de idade e em novilhas pré-púberes.

“Isso contribuiria para uma redução ainda mais significativa do intervalo entre as gerações e aceleraria drasticamente o melhoramento genético do rebanho”, avaliou Basso.

Chamada aberta

O Programa PIPE está com chamada de propostas aberta para o 3º Ciclo de Análises em 2014.

Estão reservados até R$ 15 milhões para atendimento às propostas selecionadas. A data-limite para apresentação das propostas na FAPESP (ou data de postagem) é 21 de julho de 2014.

As propostas de financiamento devem conter projetos de pesquisa que possam ser desenvolvidos em duas fases: 1) demonstração da viabilidade tecnológica de produto ou processo, com duração máxima de nove meses e recursos de até R$ 200 mil; 2) desenvolvimento do produto ou processo inovador, com duração máxima de 24 meses e recursos de até R$ 1 milhão.

Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a empresas de pequeno porte (com até 250 empregados) com unidade de pesquisa em desenvolvimento no Estado de São Paulo.

A FAPESP divulgará o resultado enviando a cada proponente os pareceres técnicos dos avaliadores. Os pareceres podem ser úteis para o aperfeiçoamento da proposta, seja ela aprovada ou não. Em caso de não aprovação, o proponente poderá aperfeiçoar a proposta corrigindo as falhas apontadas e submeter nova solicitação em edital subsequente.

“Os projetos apoiados pelo PIPE têm que acontecer nas empresas e apontar para uma inovação tecnológica em produtos ou processos que podem ser radicais ou incrementais, contanto que sejam inovadores”, disse Sérgio Queiroz, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador adjunto da área de Pesquisa para Inovação da FAPESP, durante o evento “Diálogo sobre Apoio à Pesquisa para Inovação na Pequena Empresa”, realizado no dia 11 de junho, na FAPESP.

Promovido em parceria com o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o evento teve o objetivo de oferecer às empresas que apresentaram ou têm interesse em apresentar projeto ao PIPE-FAPESP a oportunidade de resolver dúvidas antes do dia 21 de julho, fim do prazo para apresentar propostas para o 3º Ciclo de Análise de Propostas do programa em 2014.

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