Computadores estão no começo da onda verde
Além de criar equipamentos que consumam menos energia, fabricantes e usuários precisam encontrar um novo modelo de uso dos PCs, diz Nicholas Carr
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h29.
Ainda há muito o que fazer para transformar a indústria de computadores em um segmento que consome energia eficientemente. Para Nicholas Carr, ex-editor da Harvard Business Review e autor de livros sobre o impacto da tecnologia nos negócios, o setor não deve se preocupar apenas em desenvolver microchips e equipamentos que demandem menos eletricidade. O ponto principal é criar um novo modelo de uso dos PCs. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista a EXAME:
EXAME - O consumo de energia tem se tornado uma preocupação importante para a indústria tecnológica e, acima de tudo, para os compradores de tecnologia. O senhor acredita que este tema vá impulsionar a inovação? E com relação ao software? Há ganhos a se obter também nesta área?
Nicholas Carr - A demanda por eficiência energética na computação já resulta em grandes inovações por parte dos fabricantes de hardware, de fabricantes de microchips e fontes de energia aos montadores dos PCs. Como os custos de energia elétrica se tornam uma parte cada vez maior da porcentagem total dos custos de tecnologia de uma empresa, e a pressão pública por práticas ambientalmente corretas é cada vez maior, acredito que a inovação nesta área vá continuar. A indústria do software também tem um papel a cumprir. Códigos podem ser revistos para rodar com eficiência máxima nos novos processadores multinúcleo, o que significa reduções importantes no consumo. Estamos apenas no início desse processo.
EXAME - Quais são os principais desafios para tornar os computadores mais econômicos?
Carr - Não se trata apenas de tornar os computadores mais eficientes. Também temos de tornar a computação mais eficiente. O que quero dizer com isso é que é o uso que fazemos das máquinas precisa melhorar. Hoje, servidores e sistemas de armazenamento de dados nos data centers corporativos trabalham com uma carga extremamente baixa - mais de 50% de sua capacidade fica ociosa. Isso é resultado do modelo de cliente-servidor, que dedica equipamentos para rodar programas individualmente e gera muita redundância. Novas tecnologias como virtualização e o acesso a programas pela internet podem levar a uma utilização muito maior da infra-estrutura existente e, portanto, economia de energia.
EXAME - O senhor acredita que a pressão dos consumidores por um "estilo de vida verde" vá chegar aos computadores? Isso vai afetar as empresas que produzem PCs?
Carr - Com certeza. Grupos ambientais como o Greenpeace já pressionam os fabricantes de computadores a melhorar seus índices de reciclagem de materiais. Quanto mais esse grupos e o público em geral tomarem consciência da grande quantidade de eletricidade desperdiçada por computadores e data centers, maior será a pressão.
EXAME - No começo da década, a Transmeta chamou a atenção de muita gente ao lançar processadores eficientes. Mas a empresa provavelmente estava à frente do seu tempo. O senhor vê a chance de alguma ruptura tecnológica na indústria de processadores, baseada na idéia do baixo consumo?
Carr - Acredito que haverá muita inovação no desenho dos chips, mas a maioria dos avanços deve ser incremental. É claro que grandes rupturas são difíceis de prever. Elas podem acontecer. A maior ruptura a que estamos assistindo é a entrega de software pela internet, usando data centers gigantes como os que o Google e a Microsoft estão construindo. No futuro, as empresas não vão precisar erguer e manter seus próprios parques tecnológicos. Elas poderão comprá-los como serviços, pela web. Essa é a ruptura da computação - e ela terá um grande impacto na eficiência.