Bunkers de dados
São Paulo concentra as empresas de data centers - o meio mais seguro de guardar informações eletrônicas
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h36.
Imagine uma caixa-forte de 15 mil metros quadrados. De fora, parece com uma filial da Nasa. Lá dentro, equipamentos biométricos lêem a palma da mão dos funcionários para permitir sua entrada, e geradores de eletricidade estão prontos para entrar em ação e garantir autonomia por 12 dias. Mais de 100 câmeras monitoram permanentemente o local e detectores de movimento alertam sobre a presença de intrusos. Toda a fonte de energia e água, assim como cada cabo de fibra óptica (por onde circulam as informações eletrônicas), é duplicada, o que garante que o sistema não falhe nunca.
Assim é o data center (ou centro de dados) da empresa americana Optiglobe, que inaugurou sua filial paulista -- a primeira da América Latina -- no final do ano passado, na Chácara Santo Antônio. Cada data center construído pela Optiglobe consome, em média, 100 milhões de dólares. Esse também foi o valor do investimento da Diveo, empresa com sede nos Estados Unidos, para montar um data center de 17 mil metros quadrados em Tamboré, nos arredores da capital, inaugurado em novembro de 2000. Nessas fortalezas, o que está guardado a sete chaves não é dinheiro, mas bilhões de bytes de dados. Os milhares de computadores resguardam o que hoje representa o ativo mais importante das empresas: a informação. Eles armazenam bancos de dados, cadastros de usuários e movimentações financeiras de grandes sites.
Lá, o cliente nunca vai ouvir que "seu servidor caiu". O monitoramento dos computadores é constante e o cliente é avisado uma semana antes de seu equipamento atingir a capacidade máxima. Essas empresas também cuidam da segurança das informações do cliente, protegendo-as do ataque de hackers e vírus. "O data center é muito mais que um simples centro de armazenamento de dados, como se fazia antigamente", afirma Luiz Eduardo Baptista, presidente da Optiglobe. "É a mais alta tecnologia a serviço da segurança da informação."
Preços em baixa
Além da Optiglobe e da Diveo, há em São Paulo uma dezena de data centers menores, com estruturas mais simples e preços mais acessíveis. Há serviços para todos os gostos: desde o aluguel do espaço para a hospedagem de servidores até o pacote completo de monitoramento, com banda larga, backup e outros serviços agregados. É por isso que a mensalidade de um data center pode variar de 4 mil a mais de 100 mil reais. Segundo o instituto de pesquisas Internet Data Corporation, o IDC, o mercado paulista conta hoje com 15 data centers, a maioria deles inaugurados há menos de um ano. As multinacionais vieram para cá atraídas pelas projeções de um crescimento vertiginoso desse mercado no país. Mas o desaquecimento da economia e a crise das empresas ponto-com jogaram um balde de água fria em quem esperava um retorno imediato. Hoje, 85% da capacidade dos data centers está ociosa, e o preço do serviço vem caindo de 15% a 20% anualmente, segundo o instituto de pesquisa Yankee Group. "Quem investiu quantias enormes em data centers vai demorar para se recuperar", diz Dário Dal Piaz, vice-presidente do instituto para a América Latina.
Em sua última pesquisa sobre o mercado de data centers, o IDC descobriu que o mercado movimentou 92 milhões de reais em 2001 -- quantia bem inferior à esperada pelas empresas. Mesmo assim, as operadoras de telecomunicações Brasil Telecom e Telemar anunciaram recentemente novos data centers, com investimentos que somam 400 milhões de reais. Ao lado de nomes como Telefônica e Embratel, as operadoras disputam o mercado de data centers com outros três segmentos de negócios: os fornecedores de serviços de tecnologia (IBM e EDS), os fornecedores de acesso por banda larga (Impsat, Diveo e AT&T) e as empresas especializadas na área, como a Optiglobe. É muita gente disputando um setor que ainda não amadureceu. "Mesmo com um mercado mais maduro, a oferta ainda seria muito superior à demanda", afirma o analista João Bustamante, do IDC.
A esperança de crescimento está nas empresas de fora da área de tecnologia da informação. Até hoje, elas mantinham dentro de casa sua infra-estrutura de computadores, o que exige altos custos de manutenção, salários elevados para técnicos e especialistas e substituição de equipamentos a cada seis meses. "A migração para um data center pode se traduzir em economias de 30% a 80%", afirma Claudio Pecorari, gerente-geral de data centers da Diveo. Hospedar informações essenciais fora da empresa também é sinônimo de segurança, como mostraram os atentados em Nova York ou mesmo a ameaça de apagão no Brasil. Outra vantagem é que o cliente passa a focar a atenção em seu negócio principal, deixando de se preocupar com questões periféricas. Segundo Dal Piaz, do Yankee Group, 95% das grandes empresas ainda mantêm dentro de casa sua infra-estrutura tecnológica. Esse número deve cair para 82% em 2002. O potencial é grande, mas a migração será lenta. Barreiras culturais atrasam a decisão de terceirizar a guarda das informações essenciais. Dal Piaz estima que o processo de migração das empresas da "velha economia" levará cerca de cinco anos. Vai sobreviver quem tiver capital suficiente para esperar.