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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h30.
Eles já foram sinônimos de ostentação e riqueza. Objeto de desejo de príncipes, milionários e astros de Hollywood. Os jatos executivos, porém, tiveram sua imagem transformada com a globalização. No mundo dos negócios, ter um "jatinho" (diminutivo que não condiz com o preço e os dotes tecnológicos dessas engenhocas) significa ganhar tempo e agilidade. Os jatos particulares já fazem parte do cotidiano de companhias em todo o mundo. Nos Estados Unidos, 90% das 500 maiores empresas listadas pela revista Forbes são usuárias da aviação executiva. Não é à toa que a frota americana, de 4 000 jatos, é a maior do mundo. O Brasil vem atrás, numa distante segunda posição, com cerca de 300 aviões. Para as empresas, o jato executivo é garantia de rapidez na manutenção e execução de novos negócios. Mas atenção: antes de sair por aí procurando um avião para comprar, o primeiro passo deve ser analisar a relação custo-benefício do investimento. Dependendo de fatores como a freqüência do uso e o porte da empresa torna-se mais compensador alugá-lo.
Manter um avião executivo sai caro. Os custos envolvem as parcelas do leasing - a forma mais usual de compra - a manutenção e a operação, que engloba despesas como combustível, hangar e tripulação (veja quadro "Quanto custa ter um jato"). "Gastamos 1 milhão de dólares por ano com nosso jato", afirma Alexandre Grendene, um dos donos da Grendene, fábrica de calçados baseada em Caxias do Sul. Proprietário de um Hawker 800 XP, no valor de 11,5 milhões de dólares, Grendene é usuário de avião particular há 25 anos. Ele e seu irmão Pedro usam o Hawker para fazer todo tipo de viagem, inclusive para o exterior. "Eu mesmo faço os horários e roteiros, o que me permite chegar diretamente em qualquer lugar", diz Grendene. Segundo ele, para quem tem unidades espalhadas entre Rio Grande do Sul, São Paulo e Ceará, o jato executivo é mesmo a melhor alternativa. Poupa escalas e permite ganhar tempo no deslocamento entre cidades que não são servidas por linhas aéreas comerciais. "Não há dinheiro que pague a agilidade que o jato executivo nos traz", diz Grendene.
Nem todo mundo, no entanto, tem o mesmo tipo de necessidade e a bala de Grendene. Por isso, ouça o que diz quem é do ramo para saber se vale a pena adquirir seu próprio jato executivo. "Uma empresa que utiliza jatos fretados por mais de 40 horas por mês já pode pensar em comprar seu próprio avião", diz Rui Thomaz de Aquino, diretor técnico comercial da Táxi Aéreo Marília, subsidiária da TAM, que tanto vende quanto aluga aeronaves. "Menos que isso, alugar é mais vantajoso." Tal afirmação é comprovada na ponta do lápis. Se, em vez de usar seu próprio jato, Grendene resolvesse alugar o mesmo modelo da Líder Táxi Aéreo, de Belo Horizonte, a despesa seria mais salgada. Pela média anual de 480 horas de vôo, a Grendene desembolsaria 1,7 milhão de dólares a mais do que gasta com o seu jato particular. "Avião é assim: quanto mais você usa, mais barato fica", diz Aquino.
Os usuários mais freqüentes parecem dar razão a Aquino. Prova disso é o crescimento das vendas de jatos executivos no país. No ano passado, a Líder Táxi Aéreo vendeu 17 aeronaves, um aumento de 20% em relação a 1995. "Os empresários perceberam que avião não é luxo, é ferramenta de trabalho", diz Paulo Assunção Filho, diretor comercial da Líder. Se você é daqueles que como Grendene precisa mesmo ter um jato, cuidado. Um ponto importante é escolher bem o modelo de avião a ser adquirido. Na hora da compra, o empresário precisa levar em conta itens como a autonomia de vôo e a depreciação da aeronave. O modelo ideal para viagens aos Estados Unidos, por exemplo, é diferente de um utilizado no Mercosul. "Quanto mais paradas para abastecer, mais caro fica e mais tempo dura o vôo", diz Aquino, da Táxi Aéreo Marília. Outro fator é a condição de uso. Apesar de alguns modelos serem homologados para vários tipos de piso, o ideal é que operem em pistas de asfalto. "Jato não combina com terra", afirma Assunção, da Líder. "É a mesma coisa que colocar um BMW para passar num mata-burro."
Quem não observar esses aspectos acaba embarcando num vôo superfaturado. Foi o que aconteceu com a Arezzo, fabricante de sapatos femininos de Minas Gerais. A empresa tinha um turboélice King Air F90 para seis passageiros, mas devolveu o aparelho assim que o contrato de leasing venceu. "A média de vôo era de apenas 12 horas por mês", diz Anderson Birmann, diretor comercial da Arezzo. Com isso, o custo do King Air, um avião mais lento e menos confortável que os jatos, chegava a 3 000 reais por hora, o equivalente a 6 reais por quilômetro voado. "É o preço do aluguel de um jatinho de bom porte", diz Birmann. Na TAM, em São Paulo, o aluguel de um Citation Ultra, para sete passageiros, sai pelo mesmo valor. Atualmente, a Arezzo alterna o fretamento de jatos executivos com a utilização da aviação comercial (veja quadro "Na ponta do lápis" na pág. 118). " Para Rio de Janeiro e São Paulo, bem servidos pelas companhias aéreas, não compensa fretar um jato", diz Birmann.
A política de alugar também é praticada por empresas como a Antarctica e a Odebrecht. Com 26 fábricas espalhadas por 18 estados, a cervejaria mantém um contrato de quilometragem com a Líder Táxi Aéreo. "Acertamos a conta quando atingimos 50 000 quilômetros de vôo, o que para nós equivale a seis meses de uso de jato executivo", diz Marcelo Limborço, gerente administrativo da Antarctica. Segundo Limborço, a principal vantagem é sempre ter uma aeronave à disposição da empresa, independente de qualquer parada para manutenção. "A Líder garante o avião na hora e no lugar que precisamos", diz ele.
A Odebrecht também recorre ao aluguel para suprir picos de demanda ou paradas em oficina de seus dois jatos próprios - um Challenger e um Hawker 800, ambos para nove passageiros. Com obras em 22 países, a Odebrecht gasta anualmente 11 milhões de dólares com os seus aviões. Custo exagerado? "Nem tanto", diz Gilberto Leal, diretor de equipamentos da Odebrecht. "Basta calcularmos quanto vale a hora de trabalho de um alto executivo." A revista Business & Comercial Aviation fez essa conta, tomando como base a hipótese de que 75% do tempo de trabalho dos executivos resulta em ganhos diretos para as empresas. Segundo a publicação americana, um executivo com salário anual de 200 000 dólares vale 5 000 dólares por hora para sua empresa. Quase 10 vezes mais que o preço por hora de um Cessna Citation II particular.