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Opinião – Temer bateu numa mina de TNT e está se desmanchando

A desgraça do governo Temer podia até ser esperada, dado seu histórico na política

Incerteza: com o presidente acuado, o Brasil está de volta à situação de um ano atrás (Ueslei Marcelino/Reuters)

Incerteza: com o presidente acuado, o Brasil está de volta à situação de um ano atrás (Ueslei Marcelino/Reuters)

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J.R. Guzzo

Publicado em 31 de maio de 2017 às 18h00.

Última atualização em 31 de maio de 2017 às 18h00.

São Paulo – O Brasil está mais uma vez à procura de um governo, situação em que vem vivendo desde a reeleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República no final de 2014. A presidente entrou em seu segundo mandato já em estado de morte clínica, e assim permaneceu até ser despejada do Palácio do Planalto pelo impeachment, enquanto se procurava um governo para tocar o país. Encontrou-se o único possível — o do vice-presidente Michel Temer, conforme manda a Constituição.

Agora, pela segunda vez em menos de três anos, temos de novo a mesma anomalia. Há um presidente no Palácio do Planalto, mas não há. Com pouco mais de um ano no cargo, Temer bateu numa mina de TNT e passou a se desmanchar, como sua antecessora se desmanchou. Acontecerá de novo, mais adiante, com praticamente qualquer político brasileiro hoje em atuação. É gente que só sabe participar da vida pública de uma maneira — a maneira errada. E isso fica muito difícil quando não se pode mais contar com o tapete que cobria tudo o que essa gente sempre fez.

A desgraça do governo Temer poderia ser até esperada, como uma questão de tempo, levando-se em conta as ligações que teve durante toda uma vida na política, seu entendimento do que é “governo” e seus anos a fio de participação na máquina pública. Mas sua agonia está sendo duplamente dolorosa. Nem tanto pelas consequências imediatas, pois é bastante provável, felizmente, que a orientação econômica de seu governo — um acerto acima de discussão — permaneça basicamente como está.

O que incomoda, em primeiro lugar, é a constatação da incapacidade terminal dos homens públicos brasileiros, de “direita”, “esquerda” ou do raio que for, para gerir o país com um mínimo de responsabilidade, aptidão gerencial e valores morais. Isso está presente no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Não é uma questão de ideologia errada, pois quase ninguém aí tem alguma ideia — não o que se possa realmente chamar de ideia.

Trata-se, desastrosamente, de uma questão de hábito, de apego fanático a um sistema de exploração criminosa do Estado em proveito próprio e da recusa absoluta em mudar. Em segundo lugar, incomoda a maneira abusiva, oculta e cada vez mais suspeita, do ponto de vista legal, com que está sendo conduzida a guerra contra o presidente.

Foi estranhíssima, desde o início, a conduta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de sua equipe no Ministério Público nas acusações feitas contra Temer. Depois, foi ficando mais estranha ainda. No aspecto mais alarmante de seu conjunto de ações, continua incompreensível o fato de os donos da maior empresa privada do Brasil, a JBS, que confessaram uma massa de crimes capaz de lhes render dezenas de anos na prisão, caso condenados, ter sido presenteados pelo procurador-geral com um extraordinário perdão em relação a tudo que fizeram.

Se as coisas continuarem assim, jamais serão julgados perante a Justiça brasileira pelos crimes que confessaram — jamais usarão, nem sequer por um dia, a tornozeleira da prisão domiciliar. Em troca, ofereceram ao MP denúncias até agora contaminadas por todo tipo de dúvida — a começar por uma fita gravada de uma conversa entre Temer e um dos donos da JBS tecnicamente arruinada como prova e considerada imprestável.

O ex-braço direito de Janot na PGR, até março último, trabalha hoje no escritório de advocacia que defende os empresários. Filmagens constantes da denúncia não foram feitas pela Polícia Federal, e sim por “uma equipe” da PGR.

Não se sabe, também, por que os procuradores não fizeram nenhuma perícia da fita gravada, por que deixaram sob controle do delator uma parte crucial da operação e por que fecharam em menos de um mês, com a aprovação do ministro Edson Fachin, do STF, um acordo explosivo como esse.

Não se sabe, na verdade, mais uma montanha de coisas. Resultado: a história toda encontra-se no momento debaixo de uma nuvem tóxica com a pior das aparências. Qui custodiet custodes? Quem vigia quem nos vigia?

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