Revista Exame

Trump (quem diria) é o pobretão perto de Hillary Clinton

Na corrida presidencial, Hillary Clinton arrecadou 4 vezes mais e tem uma máquina eleitoral mais estruturada. Mas Trump se apoia no discurso populista.


	 Hillary Clinton, a candidata democrata tem uma equipe experiente de cerca de 700 funcionários; Donald Trump, o republicano conta com o apoio de pequenos doadores individuais
 (Lucy Nicholson / Jim Urquhart / Reuters)

Hillary Clinton, a candidata democrata tem uma equipe experiente de cerca de 700 funcionários; Donald Trump, o republicano conta com o apoio de pequenos doadores individuais (Lucy Nicholson / Jim Urquhart / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2016 às 05h56.

Nova York — A eleição presidencial americana é um processo peculiar. Os candidatos falam em grandes ideias e projetos, mas nos bastidores uma equipe de pesquisadores e estatísticos analisa com uma lupa o mapa eleitoral do país. A votação é indireta — ganha quem tiver mais votos no colégio eleitoral. A votação obtida nas urnas é fundamental, claro, mas alguns estados têm mais peso do que outros.

A campanha americana também é única em sua duração. Entre 12 de abril do ano passado, quando a democrata Hillary Clinton anunciou sua candidatura, e a eleição de 8 de novembro terão se passado 576 dias (o republicano Donald Trump declarou-se candidato dois meses depois). A corrida pela Casa Branca é também um esforço longo, complexo e caro, muito caro.

Até agora os dois candidatos já gastaram mais de 374 milhões de dólares e o valor deverá passar de 1  bilhão até novembro. A capacidade de organização e de arrecadação tem um papel essencial. Além dos estilos e das propostas quase opostas, as campanhas de Hillary e Trump não poderiam ser mais diferentes também nesses pontos.

Hillary foi a primeira-dama americana durante oito anos, e por outros oito ocupou uma vaga no Senado. Em 2008, ela foi a maior adversária de ­Barack Obama nas primárias democratas. Sua máquina eleitoral conta com cerca de 700 pessoas, tem um alcance nacional, experiência prática e 386 milhões de dólares arrecadados até agora — dos quais 86 milhões ainda estão no caixa.

É considerado pouco provável que o vazamento de e-mails de funcionários do Comitê Nacional Democrata mostrando um suposto favorecimento a Hillary nas primárias contra Bernie Sanders tenha efeito sobre sua capacidade de arrecadação.

O bilionário Donald Trump, que vem financiando do próprio bolso boa parte da campanha, conta com um staff de 70 pessoas e já deixou claro que não gosta de passar o pires. Até julho, sua campanha tinha levantado 94 milhões de dólares, pouco mais de um quarto do montante da adversária. Trump usa a situação desfavorável para atrair votos.

Em seus discursos, acusa Hillary de servir aos interesses de empresas que fizeram doações a ela. O dinheiro, claro, é uma arma essencial na política. Anúncios de TV superdirecionados tentam conquistar eleitores de diferentes recortes demográficos e regiões. Mas Trump tem confiado em sua capacidade de conseguir espaço gratuito na mídia com declarações controversas.

Foi assim que ele derrotou os adversários na disputa interna de seu partido. A dúvida é se a mesma estratégia será bem-sucedida na eleição geral. “A estratégia de Trump é uma das grandes incógnitas. Será um teste para a estrutura tradicional da campanha de Hillary”, diz Jonathan Liber, diretor da consultoria geopolítica Eurasia Group, especializado em Estados Unidos.

Do ponto de vista da presença nas ruas, Trump também demonstra pouco interesse pelos métodos tradicionais. Os candidatos costumam ter presença local em todos os cantos do país, com atenção especial para os estados chamados de “campos de batalha” — aqueles de maior peso no colégio eleitoral e que podem pender tanto para o lado democrata quanto para o republicano.

A convenção republicana foi rea­lizada em Cleveland, Ohio, um dos principais estados em jogo. O governador de Ohio, John Kasich, derrotado por Trump nas primárias, recusou-se a dar as caras na convenção. Extremamente popular no estado, Kasich foi chamado de “petulante” pela liderança da campanha de Trump — que nem sequer tem presença estabelecida em Ohio.

Trump espera contar com as estruturas locais dos republicanos. Mas as divisões internas são profundas, e até aqui o empresário fez pouco para construir pontes com a ala tradicional. Nenhum integrante da família Bush falou na convenção, algo que não ocorria desde 1976. Tampouco subiram ao palco os candidatos das ­duas últimas eleições, Mitt Romney e John McCain.

Ted Cruz, uma das forças emergentes e derrotado nas primárias, falou. Mas o discurso foi marcado pela recusa em apoiar Trump. Um dos poucos sinais positivos para Trump é o envolvimento dos cidadãos. O empresário recebeu 12 milhões de dólares em doações indivi­duais de até 200 dólares.

Embora não seja uma diferença marcante sobre o total arrecadado, o número indica a formação de um movimento popular em torno do empresário. O democrata Sanders fez uma campanha sur­preendente nas primárias, entre outros motivos, por causa das pequenas doações. Todos os prognósticos indicam que Hillary tem mais chance de ser eleita.

Sua máquina eleitoral é maior e mais azeitada. Sua taxa de rejeição é menor e seu apelo é mais bem distribuído entre os grupos demográficos, como latinos e negros.

Em cálculos separados, a consultoria Eurasia e o jornal The New York Times estimam em 75% as chances de uma vitória de Hillary. Mas Trump era considerado mera curiosidade quando anunciou sua candidatura. A política americana promete muitas emoções nos próximos três meses.

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