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O mercado de alta relojoaria não é mais o mesmo; entenda o que está por trás

Com preços em queda no mercado secundário, o mercado se volta mais para colecionadores e menos para especuladores

Salão Watches & Wonders, em Genebra: depois de um ano intenso como 2023, lançamentos mais conservadores de modelos clássicos (WWGF/Keystone/Valentin Flauraud/Divulgação)

Salão Watches & Wonders, em Genebra: depois de um ano intenso como 2023, lançamentos mais conservadores de modelos clássicos (WWGF/Keystone/Valentin Flauraud/Divulgação)

Pedro Valente
Pedro Valente

Co-CEO e Colunista

Publicado em 23 de maio de 2024 às 06h00.

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Após um ano tão intenso de lançamentos, como foi o caso de 2023, parece que a indústria da alta relojoaria optou por dar uma pausa em 2024. Isso me levou a questionar se as tendências na alta relo­joaria seguem um ciclo anual. A indústria tem passado por mudanças significativas desde o fim da pandemia de covid-19.

A crise sanitária trouxe consigo um mundo de taxas de juro subsidiadas que impactaram o mercado de artigos de luxo como um todo. O mercado de relógios não escapou desse cenário, com preços atingindo níveis exorbitantes, chegando a negociar de três a cinco vezes o valor original em mercados secundários. O número de consumidores aumentou consideravelmente, enquanto a indústria enfrentou desafios na produção para acompanhar essa nova demanda.

O mundo pós-pandemia se apresenta de maneira diferente, com a inflação resultando em taxas de juro mais altas e uma desaceleração do mercado, levando a correções em muitos modelos populares. Embora muitos ainda sejam negociados acima do preço original, a sobrevalorização parece estar mais contida.

De acordo com o relatório anual do Morgan Stanley, os preços no mercado secundário continuaram a cair durante o quarto trimestre de 2023, marcando a sétima queda consecutiva. É um bom momento para considerar comprar.

Essa nova era da indústria fez com que as empresas voltassem seu foco para colecionadores em vez de especuladores. A ideia de que relógios são um bom investimento parece ter perdido relevância. A especulação intensa que predominou durante a pandemia resultou em diversos aspectos negativos para a indústria.

Casas de leilão se viram envolvidas em vários casos de fraude, sendo o mais conhecido o de um Omega Speedmaster leiloado pela Phillips como o Omega mais caro do mundo, até descobrirem que a peça havia sido deliberadamente alterada por um funcionário da manufatura.

Por outro lado, as grandes empresas estão expandindo o portfólio de produtos, buscando atrair mais clientes com uma variedade de opções. Parece que cada empresa agora oferece desde relógios mais compactos até modelos esportivos com braceletes integrados, além de peças com complicações técnicas avançadas, como turbilhões, e relógios clássicos inspirados em coleções antigas.

Essa competição não mostra sinais de diminuição, o que é positivo para o consumidor, embora muitos players da indústria tenham anunciado aumento de preços, indicando uma busca por consumidores mais qualificados.

Destaques do ano

Entre os lançamentos de 2024, muitos deles exibidos no salão Watches & Wonders, em Genebra, em abril passado, destaco o Portugieser Calendário Eterno, que garante a exibição correta da data por 45 milhões de anos, quebrando todos os recordes.

Outra empresa que surpreendeu foi a Bvlgari, ao quebrar o recorde do relógio mais fino do mundo com o novo Bvlgari Octo Finissimo Ultra, com incrível 1,7 milímetro de espessura, superando o modelo de 2022 da Richard Mille. A Cartier demonstrou consistência ao relançar o Cartier Tortue e o Monopusher, dois dos meus modelos favoritos, ainda que em edições limitadas. A Rolex e a Tudor concentraram esforços em seus modelos GMT.

Destaco também os modelos femininos. A Chanel lançou o J12 X-Ray de safira rosa. A Cartier ganhou destaque com o Cartier Cuff. E a Hermes apresentou o The Cut, um relógio esportivo para o público feminino que sem dúvida conquistará também os homens. A mim já conquistou.

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