Revista Exame

Tem chip na bola, na camisa, na raquete, no relógio...

A Copa do Mundo está usando pela primeira vez a tecnologia de detecção automática de gols. Mas a inovação em materiais esportivos avança em várias outras modalidades

Jogo entre França e Honduras: 1 segundo após o lance, veio a confirmação do gol no relógio do juiz (Quinn Rooney/Getty Images)

Jogo entre França e Honduras: 1 segundo após o lance, veio a confirmação do gol no relógio do juiz (Quinn Rooney/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2014 às 20h00.

São Paulo - A partida entre França e Honduras na primeira rodada da Copa do Mundo entrou para a história. Não pela emoção do jogo em si — a goleada aplicada pelos franceses era previsível —, mas porque, pela primeira vez, um computador validou um gol.

O atacante francês Karim Benzema bateu de dentro da área, a bola tocou na trave e voltou ao goleiro hondurenho Valladares­, que a segurou de maneira desajeitada. Para surpresa dos torcedores, o árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci apontou o centro do campo, indicando o gol.

A confirmação de que a bola havia cruzado a linha chegou ao relógio do juiz. Quem decidiu o lance foi um novo tira-teima, que, em no máximo 1 segundo depois da jogada, envia a notificação de gol — resultado de uma parafernália tecnológica nos campos de futebol que envolve 14 câmeras e poderosos computadores para processar as imagens em tempo real. 

Os dispositivos eletrônicos na Copa não ficaram restritos às partidas oficiais. Algumas seleções estão usando nos treinos o miCoach Elite, um kit da fabricante de material esportivo alemã Adidas composto de camisetas do tipo segunda pele que captam os sinais vitais de cada jogador e determinam a localização no gramado.

Com o sistema, os técnicos de Alemanha, Argentina, México e Japão começaram a ter uma noção precisa da movimentação dos atletas nos treinos e de quais apresentam maior desgaste físico. A Adidas aproveitou o Mundial para lançar também a bola de futebol inteligente. Por meio de sensores que se comunicam com um aplicativo para ­smartphone, ela ajuda os jogadores a melhorar a pontaria dos chutes.

A corrida por inovações a serviço dos atletas é uma disputa acirrada. Graças a essa competição entre os fabricantes, os materiais esportivos estão cada vez mais leves, resistentes e conectados, o que traz benefícios para os profissionais e também para os atletas amadores.

A novidade da vez são os chips, que estão presentes nas mais diferentes modalidades esportivas. A tradicional fabricante francesa de raquetes de tênis Babolat lançou um modelo cuja empunhadura carrega um microprocessador capaz de medir o tempo e a força do saque, além de analisar a velocidade e a área da raquete que a bola atinge.

Com isso, o tenista tem como avaliar seus pontos fortes e fracos. Há dez anos os engenheiros da empresa tinham em mente um produto com essas ­características, mas somente agora a tecnologia ficou leve e acessível o suficiente. O modelo Play Pure Drive tem o mesmo peso de uma raquete oficial. 

Mas não são apenas as grandes empresas de material esportivo que estão desbravando esse mercado. A mc10, uma startup de ­Boston, nos Estados Unidos, anunciou neste ano a invenção do Biostamp, um adesivo com um chip flexível que poderá ser utilizado para qualquer tipo de atividade física quando for lançado, no fim do ano.

O produto mede a temperatura corporal, a atividade muscular, o batimento cardía­co e a hidratação. Os dados são transmitidos para um smartphone, que analisa as informações e, de acordo com a mc10, ajuda a prevenir lesões.

No ano passado, junto com a Reebok, a mc10 lançou o Checklight, touca usada por baixo de capacetes de hóquei ou futebol americano que alerta sobre a gravidade de grandes impactos na ­cabeça do jogador.

Roupas inteligentes

Esses novos produtos fazem parte de duas grandes tendências da tecnologia para o consumidor: a computação vestível e a internet das coisas. Em ambos os casos, roupas e objetos inteligentes registram e trocam informações via internet com o usuário. Isso é possível graças ao barateamento de sensores, dispositivos bluetooth e equipamentos de GPS.

A proliferação dos smartphones também tem sido crucial em alguns casos. Com tantos recursos à disposição, a barreira de entrada nesses mercados diminuiu, o que explica o grande número de startups dedi­cadas a esse segmento.

“Hoje, uma empresa de material esportivo não pre­cisa se preocupar em desenvolver toda a tecnologia necessária para criar um dispositivo inteligente”, afirma Kim Blair, vice-presidente da consultoria Cooper Perkins e diretor do centro de inovação esportiva do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ­conhecido pela sigla MIT

A startup americana InfoMotion Sports, com apenas 12 funcionários, acabou de lançar uma bola de basquete com sensores e aplicativo sofisticados para medir a força dos arremessos. O curioso nesse caso foi a maneira como a empresa financiou a empreitada.

Em vez de procurar grandes investidores já na largada, a InfoMotion Sports colocou seu projeto em um site de financiamento coletivo, no qual pessoas comuns investem nas ideias que parecem mais promissoras. A intenção da companhia, além de captar recursos, era ter uma medida do grau de interesse do público.

“A resposta foi muito positiva e nos deixou confiantes na demanda por treinamento de alta performance”, diz Michael Crowley, fundador e presidente da InfoMotion. Hoje, a bola, que custa 250 dólares, pode ser encontrada nas lojas da Apple e na Amazon dos Estados Unidos.

A tendência é que esse segmento continue batendo um recorde de vendas atrás do outro. De acordo com a consultoria americana ABI Research, cerca de 14 milhões de roupas, braceletes, relógios, óculos e outros acessórios com chip foram vendidos em 2011 — número que deverá chegar a 120 milhões em 2017.

Só nos Estados Unidos, os dispositivos para fitness e saúde movimentaram 230 milhões de dólares no ano passado, de acordo com dados da consultoria americana NPD Group. Além de empresas de material esportivo, grandes companhias do setor de eletrônicos se preparam para disputar o segmento.

O relógio inteligente da empresa coreana Samsung mede o batimento cardíaco, e seu sensor de movimento pode ser utilizado em aplicativos de corrida. O esperado iWatch, previsto para ser lançado pela Apple no fim do ano, deverá executar funções semelhantes.

Se esses aparelhos caírem no gosto dos consumidores, em breve a pelada ou a partida de tênis do fim de semana vão ganhar outra estatura. Pelo menos em termos de equipamentos eletrônicos, muita gente vai poder se sentir um pouco Neymar e Rafael Nadal.

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