Malpica Soto: “Os partidos mexicanos se unificaram na defesa do Nafta” (Divulgação/Exame)
Eduardo Salgado
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 05h00.
Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 08h50.
Chefe da seção de comércio e Nafta do Ministério da Economia do México, Guillermo Malpica Soto é um dos principais nomes no processo de renegociação do acordo de livre comércio entre os três países da América do Norte. Desde a campanha eleitoral que o levou à Casa Branca, o presidente Donald Trump usa o México como saco de pancadas.
E um de seus temas prediletos é o Nafta, “provavelmente o pior acordo já firmado por qualquer país”, nas suas palavras. Mesmo após o início da renegociação em agosto, Trump tem ameaçado o México e o Canadá com a possibilidade de abandonar o Nafta se não conseguir um bom acordo. É nesse clima que Malpica Soto vem tentando defender os interesses mexicanos na mesa de negociações.
Quando a renegociação do Nafta deve acabar?
É difícil saber. Para o México, a negociação vai acabar quando tivermos um bom acordo. Não queremos estabelecer um prazo. Não estamos com pressa para concluir a qualquer custo. Mas estamos num bom ritmo. Quem sabe terminamos em abril.
Como encara as ameaças de Trump de abandonar o Nafta?
Encaramos os pronunciamentos de forma muito séria. Como presidente, ele tem o poder de dar início ao processo de desligamento. O presidente do México e os canadenses têm a mesma prerrogativa. Mas o México tem sido muito claro. Se os Estados Unidos iniciarem o desligamento, que levaria seis meses para ser concretizado, nós sairemos da mesa de negociações. Não vamos aceitar essa ferramenta de pressão. Algo na linha: “Estou saindo e você tem seis meses para me convencer a ficar”.
Como lidar com um presidente que negocia usando o Twitter?
Não negociamos pelas redes sociais. Respeitamos a estratégia, mas nosso campo de ação é a mesa de negociações.
Quais são os temas mais controversos ainda em aberto?
A proposta americana para que voltemos a rediscutir tudo a cada cinco anos é um deles. Se aprovada, a ideia traria muita incerteza. Os Estados Unidos também querem aumentar o conteúdo regional dos produtos do setor automotivo [as peças e os componentes fabricados nos países do Nafta]. O México é parte da cadeia de valor global do setor. Temos ligação com montadoras de várias partes do mundo. Aumentar o conteúdo regional afetaria negativamente as empresas e a posição do México na cadeia global. Há ainda outros pontos de divergência, como o sistema de resolução de disputas entre investidores e países.
Quem são seus aliados dentro dos Estados Unidos?
Existem várias empresas americanas com investimentos no México. Há também estados americanos que exportam muito para o mercado mexicano. Compramos quase 15% das exportações agrícolas americanas. Somos importantes para estados como Texas, Califórnia, Iowa, Louisiana, Nebrasca... São dez no total. Todos eles têm interesse em manter o Nafta vivo.
Quais são as principais novidades do que já foi acordado?
Fechamos a negociação sobre as regras para pequenas e médias empresas, para medidas anticorrupção, para o setor de tecnologia da informação, entre outros tópicos importantes.
Qual é a posição da sociedade mexicana em relação ao Nafta?
No passado, ouvíamos algumas críticas. Mais recentemente, o apoio ao Nafta se generalizou. Diante dos ataques de Trump, os partidos políticos mexicanos se unificaram na defesa do Nafta. Agora estamos nos aproximando das eleições presidenciais no México, em julho. Sempre há o risco de que um candidato decida usar a negociação como arma política. É uma possibilidade.