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Por que investir no exterior é uma boa ideia

Fazer aplicações no exterior é uma estratégia para driblar o “Risco Brasil”. E as opções são variadas

Bolsa de Nova York: companhias com operações (e receitas) globais  (Michael Nagle/Getty Images)

Bolsa de Nova York: companhias com operações (e receitas) globais (Michael Nagle/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 05h20.

Última atualização em 14 de dezembro de 2017 às 10h01.

Até pouco tempo atrás, investir no exterior era coisa para poucos. Ou era uma opção restrita aos mais endinheirados, que podiam arcar com os custos de abrir uma conta em outro país, ou uma alternativa para guardar os rendimentos de negócios suspeitos. O programa do governo federal que permitiu a regularização de bens — lícitos, é claro — mantidos no exterior e não declarados ao Fisco ajudou a tirar a pecha de “ilegal” das aplicações feitas lá fora. Primeiro em 2016 e novamente neste ano, quem quis pôde apresentar esses recursos à Receita Federal pela chamada Lei da Repatriação, pagando uma multa e impostos.

Mas são mudanças mais antigas nas regras dos fundos, eliminando a exigência de aplicação mínima, que possibilitam agora a popularização dos investimentos em outros países. “Primeiro, a regulação mudou; depois, a Selic caiu. Com as taxas mais baixas, diminuiu a atratividade das aplicações de renda fixa, o que despertou os brasileiros para as aplicações no mercado externo”, diz Daniel Pettine, gestor da empresa de investimento Rio Bravo. Resultado: os fundos nunca investiram tanto em ativos internacionais quanto agora. E isso tem tudo para continuar.

Os fundos brasileiros têm cerca de 76 bilhões de reais aplicados em ativos no exterior, segundo a provedora de informações financeiras Quantum. É quase o dobro do que havia no começo de 2015. Em 2008 já era permitido que fundos brasileiros destinassem todo o patrimônio para investimentos internacionais se os gestores quisessem — mas o investidor interessado tinha de aplicar 1 milhão de reais nesses fundos. De três anos para cá, essa regra da Comissão de Valores Mobiliários foi substituída por outra, que eliminou a exigência de aplicação mínima.

Quem tiver um patrimônio financeiro total acima de 1 milhão de reais está liberado para investir o valor que quiser em fundos de investimento que aplicam no exterior. “Uma aplicação de 1 milhão de reais impedia que um investidor diversificasse a carteira. Agora, com bem menos dinheiro, é possível montar uma cesta de estratégias internacionais”, diz Caio Mercadante, estrategista-chefe de investimentos da divisão de fortunas do banco BNP Paribas. Alguns fundos, disponíveis em plataformas financeiras, como Guide, Órama e XP, têm aplicação mínima inferior a 25.000 reais.

Investir no exterior — por meio dos fundos ou não — em busca de uma rentabilidade maior pode soar estranho para alguns. Afinal, a bolsa brasileira acumulava uma alta de cerca de 20% no ano até o início de dezembro. E a taxa real de juro, embora em queda, ainda está entre as mais altas do mundo — o Brasil só perde para a Turquia e a Rússia.

O pulo do gato está na diversificação. “A poupança dos brasileiros está concentrada no Brasil, seja em ações, seja em renda fixa. Se houver uma piora conjuntural ou sistêmica do país, todos esses ativos serão afetados de alguma forma, ao mesmo tempo”, diz Pettine. É por isso que muitos consultores sugerem, mesmo para quem não tem milhões, reservar parte do patrimônio para aplicar lá fora. Na Rio Bravo, a orientação é manter de 10% a 20% do patrimônio no exterior. No Santander, fala-se em 15% para patrimônios menores, e em algo entre 20% e 30% para os bem mais abastados (com fortuna acima de 80 milhões de reais).

Os destinos preferidos são os mercados mais tradicionais, como os Estados Unidos, os países europeus e o Japão. Segundo um estudo da empresa de informações financeiras Morningstar, a maioria das bolsas desses países ficou cara depois da alta recente (veja quadro da pág. 48). Mas os gestores afirmam que ainda é possível encontrar boas opções, especialmente no mercado americano. “A maior parte das 60 empresas que acompanhamos é listada nos Estados Unidos, mas muitas têm uma parcela relevante das atividades no mercado asiático ou europeu. Investir no exterior permite acessar esse tipo de mercado, mesmo operando em apenas uma ou duas bolsas”, diz Gustavo Aranha, sócio da gestora Geo Capital. Na gestora CSHG Asset Management, o interesse maior é pelo Japão. “O governo japonês mantém uma política de estímulos monetários e uma agenda de reformas que tende a beneficiar a bolsa”, diz Felipe Freitas, sócio da CSHG Asset Management.

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Abrir e manter uma conta no exterior também está mais fácil com a presença de instituições financeiras brasileiras em outros países. Segundo Gustavo Schwartzmann, superintendente executivo do Santander, é possível abrir uma conta em menos de uma semana. “Em geral, não há um custo fixo de manutenção, mas custos variáveis que são cobrados conforme os investimentos forem feitos.” É comum os brasileiros que abrem contas no exterior decidirem comprar ações ou títulos de crédito emitidos por empresas do Brasil nos mercados internacionais. “Os brasileiros são muito caseiros, e a familiaridade é um fator importante”, diz André Algranti, presidente da corretora XP Securities, que fica em Miami. Essa, contudo, não é uma estratégia de diversificação eficiente, pois o investidor continua exposto aos riscos da economia local.

SEM PROTEÇÃO

É justamente para assegurar a diversificação dos riscos que muitos gestores optam por não realizar operações que protejam os rendimentos dos fundos das variações do dólar. Um fundo de investimento no exterior que tenha hedge cambial — feito, grosso modo, com derivativos de real contra outras moedas — entrega ao investidor apenas a rentabilidade dos ativos estrangeiros. Por um lado, isso é uma vantagem quando o real valoriza — nesse caso, a perda que a aplicação teria por causa da apreciação do real é amortecida pelo hedge. Por outro, ele limita os ganhos na situação contrária. “Quem só quer a diversificação geográfica deve procurar fundos com hedge. Mas uma diversificação também de moedas, nos fundos sem hedge, faz mais sentido”, diz Marcelo Mello, vice-presidente da gestora Sulamérica Investimentos.

Os fundos são considerados uma das formas mais simples de investir no exterior. Não é preciso fazer remessas de dinheiro para fora, por exemplo, e as cotas são declaradas no imposto de renda, como se faz com qualquer fundo local. Mas há várias outras maneiras de aplicar o patrimônio globalmente. Na bolsa de valores (B3), recibos de ações de empresas como Google, Apple e Walmart são negociados no pregão desde 2010 — e podem ser comprados com a mesma facilidade com que se adquirem ações da Petrobras ou da Vale. A liquidez ainda é restrita — neste ano, esses papéis têm negociado diariamente cerca de 8,4 milhões de reais, enquanto a média do mercado de ações brasileiras é de 8,6 bilhões de reais por dia. Bancos como o BNP Paribas também passaram a oferecer certificados de operações estruturadas — COEs —, embutindo investimentos no exterior. Pelo sim, pelo não, pode valer a pena. 

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