Revista Exame

Pincel de pixel: inteligência artificial chega às obras de arte

Obras feitas por inteligência artificial estendem os limites da criatividade e colocam em discussão o conceito de singularidade

Exposição no Mori Building Digital Art Museum, em Tóquio: acervo com obras feitas por inteligência artificial (BEHROUZ MEHRI/AFP/Getty Images)

Exposição no Mori Building Digital Art Museum, em Tóquio: acervo com obras feitas por inteligência artificial (BEHROUZ MEHRI/AFP/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 16 de fevereiro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2023 às 14h55.

Do Renascentismo ao pós-modernismo, as técnicas e os estilos de pinturas e esculturas se transformaram ao longo dos séculos, questionando e rompendo com as tradições das escolas anteriores. Atualmente, a grande discussão gira em torno de um processo ainda em formação: como encarar expressões artísticas advindas da inteligência artificial (IA), de robôs como o Dall-E, que cria imagens partindo de um pedido escrito.

O uso da inteligência artificial na produção de conteúdo dominou os debates nas últimas semanas. No caso da arte, como lidar com o fato de que nem só humanos criam experiências que podem ir a galerias e museus? Mais do que isso, o debate que se impõe é entender se o que a IA faz é realmente arte.

No âmago de seu funcionamento, a IA é apenas programada para “pensar” de forma parecida com o cérebro humano. Para isso, há uma técnica por trás que cria, por assim dizer, um estilo artístico. Chamada de “difusão”, na arte artificial a imagem começa a partir de pontos aleatórios que são sobrepostos por diferentes referências e, aos poucos, formam uma imagem que pode ser reconhecida como artística. Grosso modo, o banco de dados de bilhões de desenhos e fotografias é equivalente aos estudos e vivências do robô artista.

“O que se soma ao valor dessas pequenas partes combinadas pela IA é a ideia de que um quadro criado assim possa gerar pensamento, contemplação e até causar emoção, da mesma forma que algo feito por um humano’’, explica Thiago Gouvêa, fundador da Yaak Studio, galeria no metaverso de obras de arte digitais e NFTs. O contraponto, destaca Gouvêa, é o fator ético, já que as obras são feitas com base em criações de outros artistas que, por vezes, tiveram suas obras copiadas sem autorização ou remuneração.

Dado o cenário nebuloso sobre o conceito de criatividade da IA, algumas plataformas online para hospedagem de imagens artísticas, como Inkblot Art e Fur Affinity, estão restringindo o alcance de obras geradas artificialmente. Essa é uma forma de evitar que essas imagens, que podem ser geradas rapidamente, ofusquem o trabalho de artistas humanos.

Mas pode não ser suficiente diante do potencial desse novo mercado. Em 2022, empresas como a OpenAI, criadora do Dall-E, receberam investimentos de mais de 100 bilhões de dólares. Nesse caso, a saída, como aponta o Mori Building Digital Art Museum, em Tóquio, que tem no acervo obras com auxílio de IA, pode estar na apropriação dos sistemas pelos próprios artistas. Ou seja, fazer desse tipo de tecnologia uma ferramenta de trabalho tanto quanto pincéis e tintas.

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda