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O som tem que continuar com música por assinatura

Os cada vez mais populares serviços de música por assinatura, agora disponíveis no Brasil, foram os principais responsáveis pela retomada — tímida — do crescimento da indústria fonográfica


	Steve Jobs, da Apple: a primeira opção razoável para comprar música digital foi o iTunes
 (Justin Sullivan/Getty Images)

Steve Jobs, da Apple: a primeira opção razoável para comprar música digital foi o iTunes (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de abril de 2013 às 08h00.

São Paulo - Quanto custa adquirir legalmente 20 milhões de músicas? Não mais que 20 reais. O valor pode surpreender quem está acostumado a pagar 30 reais por um CD ou 2 reais para baixar uma canção no iTunes, a loja digital da Apple. Mas é quanto cobram os serviços de música por assinatura, como o sueco Spotify, o francês Deezer e o americano Rdio. Pagando uma mensalidade que varia de 9 a 20 reais, é possível ter acesso aos álbuns dos principais artistas do mundo.

Essas três empresas funcionam como rádios particulares em que os usuários decidem todas as músicas que serão executadas. Graças ao aumento da velocidade de conexão de computadores e smartphones à internet, não é preciso nem fazer o download de faixas ou álbuns. As canções começam a tocar ao ser escolhidas no site ou no aplicativo. Esse modelo, conhecido pela palavra em inglês streaming, é a nova grande esperança dos executivos da indústria fonográfica. 

De 1999 a 2011, a receita do setor em todo o mundo caiu 40%, vítima do aumento da pirataria. A única dúvida dos analistas do setor a cada ano era em relação ao tamanho da queda nas vendas nos 12 meses seguintes. Até que, no ano passado, veio a primeira boa notícia em 13 anos. Pela primeira vez desde 1999, a receita do setor cresceu — e os maiores responsáveis por isso foram justamente os serviços de assinatura.

Há dois anos, havia 8 milhões de assinantes de sites de música em 20 países. Em 2012, esse grupo chegou a 20 milhões em mais de 100 nações, e a expectativa é de alta. “Em cinco anos, a participação das vendas de serviços de assinatura deverá chegar a quase 50% da categoria digital, que também inclui os downloads pagos”, diz o americano Andre James, especialista no mercado de entretenimento da consultoria Bain, em Los Angeles. 

De certa forma, o sucesso de sites como Spotify, Rdio e Deezer faz parte de uma mudança nos hábitos de consumo de parte da população mundial.Em vários países, os serviços digitais têm ganhado terreno em relação às opções do mundo físico. São sites como o de aluguel de filmes Netflix, criado em 1997, que soma hoje mais de 33 milhões de assinantes. No mercado de livros, a receita das edições digitais também é crescente.

A possibilidade de ter acesso a filmes, livros e músicas sem sair de casa fez as pessoas acreditarem no benefício de pagar pelos conteúdos online. No caso das músicas, ainda há a opção de escutá-las em diferentes equipamentos — no tablet, no smartphone ou no computador. “Esses elementos fizeram os serviços de assinatura ter um apelo maior”, diz Sachin Doshi, diretor de conteúdo e distribuição do Spotify, a maior empresa do segmento por número de usuários e que prepara o desembarque no mercado brasileiro para breve.


A Deezer, que está presente em um maior número de países, começou a operar no Brasil no fim de janeiro. “O desafio aqui é fazer as pessoas conhecerem e confiarem nesse tipo de serviço”, diz o francês Mathieu Le Roux, diretor da Deezer para a América Latina. Dos três grandes sites do setor, o Rdio é outro que já montou uma operação local.

Começou a operar em parceria com a operadora de telefonia Oi no começo do ano passado e, recentemente, decidiu atuar de forma independente. Por enquanto, o Sonora, do Terra, é o líder isolado no mercado brasileiro.  Lançado em 2006, tem uma marca reconhecida e 500 000 assinantes. A vantagem dos sites estrangeiros é o tamanho do acervo. Eles têm cerca de 20 milhões de músicas, ante os cerca de 4 milhões do Sonora. 

Stairway to heaven?

Pagar por canção online só passou a ser uma opção razoável quando Steve Jobs, fundador da Apple morto em 2011, lançou a loja iTunes, no começo da década passada. O executivo firmou acordos com as gravadoras e passou a oferecer o download de faixas. A popularização dos aparelhos portáteis de música digital, como os tocadores MP3, deu o empurrão que faltava. O sucesso naquela época fez muitos executivos do setor fonográfico falar em golpe mortal na pirataria. Não foi bem assim.

A participação dos downloads pagos na receita das gravadoras cresceu, mas não conseguiu conter o comércio ilegal. Hoje, de cada dez usuários de internet, três acessam, regularmente, sites não autorizados de música. A aposta agora é que os serviços de assinaturas online consigam virar esse jogo.

Pelo novo modelo, as gravadoras ganham todas as vezes que suas canções tocam nos equipamentos dos assinantes. “No começo, as gravadoras estavam reticentes, mas, diante da situação crítica que vivem, fizeram concessões e aceitaram nosso modelo. Agora elas confiam até nas medições das audiências que fazemos”, afirma o australiano Scott Bagby, vice-presidente do site Rdio. O clima na indústria fonográfica, felizmente, deu uma melhorada. Pelo menos por enquanto está mais para I will survive, hit do final dos anos 70, do que para The End, a fúnebre música da banda americana The Doors.

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