Revista Exame

“Não espere que o mundo volte a ser normal”, aconselha David Schmittlein

Para o reitor da escola de negócios do MIT, a crise deixou parte das companhias americanas em estado letárgico — o que só complica o cenário

Schmittlein: “Muitas empresas não aceitam o tipo de risco que grandes inovações requerem” (L. Barry Hetherington/EXAME.com)

Schmittlein: “Muitas empresas não aceitam o tipo de risco que grandes inovações requerem” (L. Barry Hetherington/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2011 às 05h00.

São Paulo - O americano David Schmittlein, reitor da escola de negócios Sloan, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (conhecido pela sigla em inglês MIT), está perplexo diante do imobilismo reinante em parte das empresas americanas desde a crise de 2008. Para ele, o momento — pelo menos em alguns setores — exige ousadia. Em visita a São Paulo, Schmittlein falou a EXAME.

1) EXAME - O que mudou na gestão das empresas americanas desde o furacão financeiro de 2008?  

David Schmittlein - Os executivos não esperam mais que o mundo seja normal. Nunca foi tão verdade que o desafio de hoje é o que temos hoje. O de amanhã será outro. Nesse ponto os executivos têm toda razão. O anormal é mesmo o novo normal. Por isso, é muito importante construir companhias resilientes e com grande capacidade de adaptação.   

2) EXAME - O que as empresas têm feito para lidar com esse novo normal?

David Schmittlein - Para ser justo, é preciso reconhecer que algumas empresas, como a GE e a Apple, continuam agressivas no âmbito global. Mas as companhias do setor financeiro, afetadas por novas regulações, estão demasiadamente conservadoras.

No restante da economia, de modo geral, não tem faltado investimento para manter as coisas como estão. O que está faltando é coragem de lançar produtos e serviços novos. A ironia é que o momento é propício para isso. Em tempos de crise, a competição é menor.  

3) EXAME - Mas não é certo ser mais conservador diante de um cenário tão nebuloso? 

David Schmittlein - As companhias enxergam grande dose de risco agora, mas para muitas não é a hora de ser conservador.  

4) EXAME - Como assim?

David Schmittlein - A crise não afeta a todos da mesma maneira. Para algumas, o momento atual é uma ótima chance de inovar. Há janelas abertas hoje que se fecharão mais tarde.

Nos Estados Unidos, esse é o caso do setor de energia. Há muitas oportunidades ligadas às redes inteligentes de distribuição. A nova tecnologia de baterias também parece promissora.   

5) EXAME - Como as empresas podem sair desse imobilismo?

David Schmittlein - A direção precisa olhar para trás. Historicamente, momentos de crise também criaram oportunidades. Após entender isso, é preciso se armar para convencer os investidores.

6) EXAME - Quais são as principais lições da crise?

David Schmittlein - Como regra geral, é bom negócio fazer o que deixaria sua mãe orgulhosa. Uma crise lembra que alternativas para fazer dinheiro fácil no curto prazo aparecem de quando em quando, mas não duram.

Alguns excessos no mercado financeiro são o melhor exemplo disso. Outra lição: é preciso inovar sempre. A crise pode ser positiva se as coisas certas forem aprendidas.

7) EXAME - Quais são as principais diferenças entre o ambiente de negócios nos Estados Unidos e o ambiente no Brasil? 

David Schmittlein - Os empresários e executivos brasileiros veem o momento atual como de oportunidade, talvez como nunca antes. É impressionante. É possível sentir essa energia nas conversas com eles.

Já as empresas americanas, mesmo as que estão indo bem, parecem preocupadas com a direção que a economia dos Estados Unidos está tomando. Não há muita perspectiva de crescimento. Como todos já perceberam, o ambiente político também não é nada animador.

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