Érika Lima, diretora de planejamento e ESG da AES (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.
Última atualização em 24 de junho de 2022 às 08h53.
O ano passado foi marcante para a AES Brasil, empresa de geração de energia. A companhia concluiu um processo de reorganização societária e migração das ações para o Novo Mercado, segmento de listagem da bolsa de valores brasileira com os mais altos padrões de governança.
A empresa também iniciou as obras do Complexo Eólico de Cajuína, que vai adicionar 684 megawatts de capacidade instalada a seu portfólio. A AES opera somente com energia renovável. São 4,7 gigawatts de capacidade instalada distribuída nas fontes hídrica (57%), eólica (37%) e solar (6%).
“Essa jornada em direção às renováveis vem desde a origem da companhia”, afirma Érika Lima, diretora de planejamento estratégico e ESG da empresa.
Foi também um ano desafiador por causa do cenário hidrológico adverso. A falta de chuvas reduziu os reservatórios das hidrelétricas, o que trouxe de volta o risco de apagão ao país. A estratégia de diversificação com eólica e solar funcionou, e a AES encerrou o ano com um aumento de quase 25% na receita.
Os investimentos nessas fontes de energia também ajudaram o Brasil a evitar o pior. No Nordeste, os ventos chegam a responder por mais da metade da eletricidade consumida, dependendo da época do ano.
O objetivo da AES é transformar a matriz energética dos clientes. Para isso, ela adota uma estratégia de investir em fontes de energia limpa que são complementares. As hidrelétricas, com seus reservatórios, funcionam como uma espécie de bateria para armazenar a energia proveniente do vento e do sol.
De dia, as fazendas fotovoltaicas operam a toda capacidade. À noite, quando não tem sol, as usinas eólicas são as que trabalham mais. A empresa tem no pipeline 1,3 gigawatt de capacidade instalada. Quando estiver disponível, essa energia elevará a capacidade da AES para 6 gigawatts, sendo 44% de hidrelétrica e eólica, e 11% solar.
A estratégia de crescimento e diversificação do portfólio é acompanhada de uma agenda ESG robusta. A empresa definiu um conjunto de metas relacionadas a seis Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — entre elas ajudar os clientes a evitar a emissão de 582.000 toneladas de carbono por ano, a partir de 2025.
Em três anos, a AES promete compensar suas emissões históricas desde o início da operação, em 1999. Também vai reduzir em 18% o carbono emitido nos escopos 1 e 2, que compreendem as emissões próprias.
Na área social, a AES se destaca nos programas de diversidade. Uma das metas é ter 30% de mulheres e de grupos sub-representados em cargos de liderança até 2025. Nos parques, 50% da mão de obra será local.
No Complexo de Cajuína, a companhia criou um programa de capacitação de mulheres para trabalhar como operadoras de parque eólico. Foram mais de 300 currículos cadastrados. “Queremos deixar um legado de desenvolvimento para a região”, diz Lima.
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Em fevereiro deste ano, a B3, empresa que opera a Bolsa de Valores de São Paulo, divulgou a nova composição de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). A carteira, a mais tradicional referência de sustentabilidade do mercado, foi totalmente reformulada para refletir melhor os critérios de atuação ESG. À frente do ranking geral está a EDP Energias, com um escore de 90,25. A companhia está à frente de ícones do ESG e da sustentabilidade, como Natura, Klabin e Suzano.
O segredo para o bom desempenho? Fazer o básico. “Tivemos um marco em 2016, quando as metas de sustentabilidade passaram a fazer parte do bônus dos executivos”, afirmou Fernanda Pires, vice-presidente de pessoas e ESG da EDP, em entrevista à EXAME por ocasião da publicação do índice. “Estamos há 16 anos na carteira, lidamos com o tema há bastante tempo.”
Fazer o básico, no entanto, não é algo trivial. Passar a ser uma empresa ESG é um processo de longo prazo, que envolve mudar a cultura da companhia, algo que a EDP começou em 2014.
“O difícil não é dizer o que fazer, é implementar”, afirma João Marques da Cruz, presidente da EDP no Brasil. “É preciso criar uma rotina com processos, metas, ações planejadas e controle.” Para o CEO, ESG, no setor elétrico, é fazer acontecer a transição energética.
Para 2022, a empresa tem a meta de ampliar a potência instalada de energia solar em 135,5 quilowatts pico, gerar 318,7 gigawatts em eficiência energética nos clientes e reduzir em 21% as emissões específicas de carbono. “A transição também deve ser justa”, destaca Cruz. Para isso, a empresa investe, desde 2015, 52 milhões de reais em ações nas comunidades.
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A empresa de energia Engie está presente em todos os seis biomas brasileiros: Amazônia, Pampa, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal.
“São mais de 6.800 quilômetros fiscalizados e conservados e mais de 1.600 quilômetros quadrados de área de reservatórios, onde atuamos na conservação das matas ciliares e com iniciativas de preservação da ictiofauna”, afirma Eduardo Sattamini, diretor-presidente e de relações com investidores. “Todas as ações de gestão ambiental da companhia são amparadas por estudos aprofundados.”
Essa preocupação se justifica. A Engie opera mais de 8 gigawatts de capacidade instalada de energia hidrelétrica, fonte que vem sendo afetada pelas mudanças no clima. Em 2020, por exemplo, a empresa precisou fazer um extraordinário esforço operacional para mitigar os impactos da crise hídrica, que quase gerou um apagão no Brasil. Em 2021, os investimentos ambientais no entorno de atividades operacionais (excluindo os projetos em implantação) somaram 35 milhões de reais.
Ao mesmo tempo que coloca a proteção ambiental como meta estratégica, a Engie investe na diversificação do portfólio. A empresa está na segunda fase da construção do Conjunto Eólico Campo Largo, parque com 86 aerogeradores e 361,2 megawatts de capacidade instalada em energia eólica.
No aspecto social, a empresa tem como meta global ampliar para 50% a participação de mulheres na administração do grupo até 2030. Hoje, a Engie Brasil conta com 26% de participação de mulheres na companhia, ante 19,9% em 2020. “Atualmente, estamos selecionando mulheres engenheiras para um programa de trainee”, diz Sattamini. “O objetivo é ampliar a participação de mulheres nas áreas técnicas.”