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Guerra entre Israel e Hamas entra no 2º ano e mexe com mapa do Oriente Médio

Alianças e rivalidades na região geram conflitos múltiplos e sem sinal de solução à vista

Conflitos no Oriente Médio: sem sinal de solução à vista (Kawnat HAJU/AFP)

Conflitos no Oriente Médio: sem sinal de solução à vista (Kawnat HAJU/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 18 de outubro de 2024 às 06h00.

Um observador atento do mapa do Oriente Médio notará duas coisas. Uma é que Israel está cercado de países árabes. A outra é que o termo “Palestina” quase nunca é citado. Usam-se os nomes Gaza e Cisjordânia para definir as áreas hoje ocupadas pelos palestinos. Há um ano, em Gaza, começou um conflito que mexe com toda a região e amplia os riscos de uma guerra envolvendo duas potências militares: Israel e Irã. Em um sinal dessa escalada, pela primeira vez na história o Irã disparou neste ano — e por duas vezes — mísseis diretamente contra Israel. 

“O verdadeiro inimigo é o Irã e seus proxies”, diz ​​Rafael Erdreich, cônsul-geral de Israel em São Paulo. “Israel está enfrentando sete exércitos, todos conduzidos pelo Irã.” Do outro lado, Teerã acusa Tel Aviv de oprimir os palestinos há décadas. “Setenta e sete anos se passaram desde a usurpação da terra palestina. O regime sionista tem buscado uma política de genocídio e desalojamento de palestinos”, disse Seyed ­Araghchi, ministro das Relações Exteriores do Irã, em comunicado no começo de outubro.

O equilíbrio de forças na região é complexo, com alianças e rivalidades diversas. Desde sua fundação, em 1948, Israel é criticado por ter se estabelecido em parte sobre terras onde palestinos viviam. Todos os vizinhos apoiam a causa palestina e poucos reconhecem Israel como um Estado (veja mapa abaixo). Nos últimos anos, no entanto, isso vinha mudando. Em 2020, foram assinados os Acordos de Abraão, com Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. Os tratados criaram parcerias, como abertura comercial e criação de voos diretos. Assim, turistas israelenses foram a ­Dubai, e os negócios entre ­Israel e os Emirados atingiram 500 milhões de dólares em 2023. 

O ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, freou esse processo. Naquele dia, terroristas invadiram Israel e mataram pelo menos 1.195 pessoas e sequestraram mais de 200, segundo o governo israelense. O Hamas disse que atacou em resposta a pressões de Israel, a quem acusa de sufocar a economia de Gaza e de seguir criando assentamentos em áreas em disputa.

Um dia após o ataque, Israel invadiu Gaza. De forma dura. O governo local, controlado pelo Hamas, diz que mais de 41.000 palestinos foram mortos e 95.000 ficaram feridos desde o início da operação. Além disso, centenas de milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas. Isso aumentou a pressão sobre Israel, especialmente do Irã. O país encabeça o “eixo da resistência”, que inclui grupos como Hamas e Hezbollah, rebeldes houthis no Iêmen e milícias que apoiam o governo da Síria. São alguns dos “exércitos” citados pelo cônsul de Israel.

Um ano depois da invasão, nenhum dos objetivos de ­Israel está cumprido, como resgatar os reféns e acabar com a capacidade de ataque do Hamas. Apesar disso, o premiê Benjamin Netanyahu abriu outra frente contra o Hezbollah. O grupo vinha disparando mísseis contra o norte de Israel, em apoio ao Hamas, o que fez com que 60.000 pessoas tivessem de deixar suas casas.

Em uma ação de ares cinematográficos em setembro, centenas de pagers do grupo explodiram, matando e ferindo seus donos. Em seguida, Israel fez bombardeios que mataram comandantes do Hezbollah, incluindo o líder Hassan Nasrallah, e invadiu o sul do Líbano. O Irã revidou. Cerca de 200 mísseis foram disparados contra Israel no dia 1o de outubro. Foi a segunda vez na história que o Irã fez um ataque do tipo. O primeiro foi em abril deste ano, quando o país lançou mais de 300 mísseis e drones em direção a Israel. 

Risco de guerra regional

O risco de uma guerra regional entre Israel e Irã preocupa analistas. Os dois estão entre as maiores forças militares do mundo, e o risco de as coisas saírem de controle serve de contenção. Os mísseis disparados pelo Irã foram quase todos barrados pelo sistema de defesa israelense. O país prometeu revidar após o ataque em abril, mas não o fez. 

O conflito coloca em lados opostos Estados Unidos e Rússia, aliados militares de Israel e Irã, respectivamente. O governo de Joe Biden apoia Israel, mas pressiona Netanyahu a aceitar um cessar-fogo. Um envolvimento maior dos americanos e dos russos parece pouco provável.

“Não estamos vendo uma resposta do tipo que tivemos depois do 11 de Setembro e das guerras do Iraque e Afeganistão. Esta administração [Biden] não quer nos levar de volta para a região dessa forma. E, antes, Trump também não o fez”, diz Javed Ali, professor de contraterrorismo na Universidade de Michigan e ex-diretor no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos no governo Trump. Ali avalia que Rússia e China também não devem se envolver de forma direta, pois os russos estão focados na Guerra da Ucrânia, e os chineses teriam mais interesse em fornecer equipamentos do que em se envolver em ações armadas.

Com superioridade militar ante os palestinos, caberá a ­Israel decidir quando e se encerrará o conflito. O país diz que continuará até acabar com a capacidade dos rivais de fazer ataques. “Se não houver uma mudança política na Faixa de Gaza ou a saída do Hezbollah do Líbano, voltamos para 6 de outubro e tudo foi em vão”, diz André ­Lajst, presidente do StandWithUs Brasil, entidade que combate o antissemitismo. “Esta é uma guerra religiosa. Não há solução, só tréguas.” 

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