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Mais do que um selo: empresas vão atrás de certificado de boas práticas

Empresas buscam certificado Sistema B como um atestado confiável de boas práticas

Campanha do Sistema B: redefinindo o capitalismo (Divulgação/Exame)

Campanha do Sistema B: redefinindo o capitalismo (Divulgação/Exame)

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Julia Storch

Publicado em 13 de maio de 2021 às 05h16.

Nessa espécie de vestibular da sustentabilidade são necessários 80 pontos de 200 para ser aprovado. O Sistema B é um certificado reconhecido globalmente por setores da indústria que vão do agro à moda. “O selo reconhece de boas práticas sustentáveis a iniciativas sociais em diversos quesitos a partir da seguinte questão: ‘Como, através de seu modelo de negócios, a empresa está gerando um saldo positivo para a sociedade?’”, explica Francine Lemos, diretora executiva do Sistema B no Brasil.

Existem no mercado alguns certificados de procedência de tecido, por exemplo. Mas o Sistema B é considerado o mais abrangente. Fundado nos Estados Unidos em 2006, o movimento chegou ao Brasil há quase oito anos. Já conta com mais de 210 empresas cadastradas no país e 3.928 no mundo. No segmento têxtil, 14 empresas são certificadas no Brasil. Com perfis de vestuários e práticas diferentes entre si, fazem parte desse grupo a pioneira Flavia Aranha, a marca de moda masculina Reserva e a Impt!, de street­wear.

Jayme Nigri e Rony Meisler: selo para a Reserva (Divulgação/Exame)

Para atingir os 80 pontos mínimos o Sistema B se atenta a alguns quesitos, como práticas de remuneração, governança e, para Lemos, o quesito mais significativo na moda: a atuação cívica. Após duas tentativas frustradas, foi na terceira auditoria que a Reserva conseguiu o selo ao atingir 80,6 pontos. “Uma ação que contou muitos pontos para a Reserva foi que todos os produtores e costureiros da marca são brasileiros. A empresa consegue gerar valor para o país e ter um controle maior de sua cadeia de fornecimento”, comenta Lemos.

Para Flavia Aranha e sua marca homônima, com duas lojas em São Paulo e duas em Portugal, “a moda e seus produtos são desenhados para solucionar os problemas da indústria”. Com um olhar holístico e 95,7 pontos no Sistema B, a estilista é referência no setor e destaque de eventos como o IN-MOD, do Instituto Nacional de Moda e Design, sobre inovação no varejo, realizado entre março e abril. Ela desenvolveu o que chama de roupa viva, feita de matérias-primas naturais. Em seu galpão são produzidos, por exemplo, tingimentos com pigmentos naturais, como a cor amarela do extrato de cúrcuma produzido no Vale do Urucuia, em Minas Gerais.

Para os consumidores, no entanto, mais do que falar é preciso atestar as práticas. Segundo pesquisa da Compare Ethics, 83% dos entrevistados expressaram ter mais confiança em um produto se este for verificado por terceiros. Com a auditoria do Sistema B, as empresas precisam comprovar fatos e dados de ações já feitas, e não de metas desenhadas. “Com o aumento da ansiedade financeira gerada pela pandemia, os consumidores estão pensando ainda mais no preço e na longevidade do que compram”, explica Mariana Santiloni, manager of client services da consultoria de tendências WGSN.

Francine Lemos, do Sistema B: ação cívica conta (Douglas Lucena/Exame)

Santiloni diz ainda que os jovens consumidores estão apoiando empresas de seus bairros e comunidades. É o caso da Impt!, que visa o empreendedorismo social como missão da marca de street­wear. Com o objetivo de impulsionar artistas da zona norte carioca, 10% da receita da marca de Victor Hugo Ramos e Carolina Ramos é direcionada ao bairro de Olaria, sendo 2% para organizações sem fins lucrativos e 8% para artistas e projetos criativos locais. Na pandemia, parte da receita foi utilizada para a compra de cestas básicas. Com a recente coleção lançada, a Home Run, os empresários pretendem investir em um evento cultural online.

Para Victor, o papel da marca desde o início foi ter um modelo de negócios inspirador, com impacto social e interação com outras marcas. Para Jayme Nigri, COO da Reserva, o Sistema B “é um mercado sem concorrência. Sempre que há uma empresa pioneira, ela acaba chamando outras para participar”. Como a Reserva acaba de receber a certificação, as outras 12 marcas do grupo AR&Co, como Arezzo, Anacapri e Schutz, também devem ir atrás do selo, comenta Nigri.

No ano passado houve um aumento de 30% de empresas buscando a certificação. Fácil de entender. Mais do que um selo, o Sistema B é um atestado de boas práticas para o mercado, para os investidores — e, principalmente, para os consumidores.

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