Acidente no golfo do México: a BP, agora, luta para sobreviver (U.S. Navy/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.
O futuro da Petrobras, como é do conhecimento geral, está ligado diretamente ao grau de sucesso de suas operações em alto-mar, sobretudo após a descoberta e o começo da exploração das reservas localizadas nas profundezas extremas do pré-sal. É aí que vai batalhar sua sobrevivência e sua prosperidade - uma partida que, obviamente, tem consequências não apenas para ela, como empresa, mas para o bem-estar do próprio país, quando se leva em conta o peso da indústria do petróleo no desenvolvimento econômico necessário para os anos que se abrem aí à frente. Esse futuro carrega muitas interrogações. Uma delas, dramaticamente, acaba de ser trazida para o primeiro plano das atenções: a segurança ambiental, área em que calamidades como a que está ocorrendo em torno das operações da BP no golfo do México expõem a perturbadora vulnerabilidade inerente à exploração do petróleo em águas profundas. Os riscos dessa atividade, hoje em dia, já não se limitam à escala dos prejuízos que um megavazamento de óleo impõe à natureza. Falhas desse porte, na verdade, podem agora fazer diferença de vida ou morte para a empresa envolvida nelas.
A BP, no momento, não luta apenas para conter seu vazamento no golfo do México e reparar o colossal desastre ecológico que provocou; também luta, simplesmente, pela própria sobrevivência. Foi-se o tempo, aparentemente, em que uma empresa como a Exxon provocava uma catástrofe ambiental histórica, como a ocorrida no Alasca em 1989, quando o naufrágio de um de seus petroleiros lançou 40 000 toneladas de petróleo no mar, e a questão toda ficava limitada ao debate sobre as técnicas mais adequadas de limpeza e sobre responsabilidades no pagamento de contas. No presente caso, o problema que se coloca para a BP é saber se ela vai sair viva ao fim do episódio. As despesas finais com a recuperação da área são uma perfeita incógnita, mesmo porque ainda não se sabe quando o vazamento, que até agora tem variado de 12 000 a 20 000 barris por dia, será definitivamente fechado; nos cenários mais pessimistas, fala-se que a história pode não se encerrar antes do fim do ano. A empresa, além disso, vale cada vez menos. No último mês e meio, o valor total de suas ações no mercado diminuiu em quase 60 bilhões de dólares - o que torna o preço da companhia, hoje, 35% inferior ao que era antes do desastre, e cada vez mais atraente para concorrentes interessados em comprá-la na bacia das almas. Há, também, a possibilidade de que a BP só consiga sobreviver como uma empresa menor, caso se veja obrigada a vender parte de suas operações para fazer caixa.
Até algum tempo atrás costumava-se dizer que há companhias grandes demais para quebrar, e a BP, a segunda maior empresa não estatal de petróleo do mundo - a primeira é a Exxon -, seria uma delas. Hoje já não é assim. Desde que o Lehman Brothers foi à falência com um passivo superior a 600 bilhões de dólares em 2008, no grande momento da crise americana do subprime, ninguém mais é considerado acima do bem e do mal. A Petrobras, que faz parte das petroleiras controladas por governos, vive uma realidade diferente. Mas, por mais que tenha acionistas dispostos ou obrigados a colocar a mão no bolso para socorrê-la, a sangria provocada por um desastre como o do golfo do México custa um oceano de dinheiro, além de problemas políticos de primeiro grau. Parece evidente, nessas circunstâncias, que o melhor momento para a Petrobras colocar a segurança em suas operações de alto-mar como questão estratégica de prioridade máxima é agora - antes que a calamidade possa acontecer. Exige ir além das soluções tecnológicas disponíveis hoje. Requer esforços em pesquisa, desenvolvimento e recursos humanos de dimensão desconhecida. Custa fortunas e afeta os lucros devidos aos acionistas - e, com tudo isso, não se poderá nunca garantir uma segurança de 100%. Mas, simplesmente, não há outra opção.