Revista Exame

Por que as ações americanas podem continuar se valorizando

Para o professor Robert Whaley, criador do chamado “índice do medo”, que mede a volatilidade da bolsa americana, existe um fundamento para a alta

Bolsa de Nova York: ainda há espaço para mais valorização (Brendan McDermid/Reuters)

Bolsa de Nova York: ainda há espaço para mais valorização (Brendan McDermid/Reuters)

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Patrícia Valle

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 21 de setembro de 2017 às 05h55.

O americano Robert Whaley é um dos maiores estudiosos dos determinantes da volatilidade nas bolsas de valores. A pedido da bolsa de derivativos de Chicago, ele criou, em 1993, um indicador para medir a variação de preços das ações americanas, o VIX, que ficou conhecido como “o índice do medo”. Hoje, o VIX mostra que os investidores estão pouquíssimo temerosos: a volatilidade na bolsa americana é uma das mais baixas da história, e as ações continuam subindo. Em setembro, os três principais índices de ações dos Estados Unidos — Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 — bateram recordes de pontuação. Desde o início de 2016, a valorização do S&P 500 foi de 30%. De 2009 para cá, a alta chega a 240%. A EXAME, Whaley, que é professor de finanças na Universidade Vanderbilt, diz por que acredita que a bolsa não subiu demais e a valorização deverá continuar — pelo menos, no curto prazo.

O índice que o senhor criou mostra que os investidores em ações estão bastante otimistas. Há um excesso de euforia no mercado?

Não acredito nisso. Os investidores estão mostrando que estão confiantes na recuperação da economia americana e mundial, e os dados mostram que existem motivos para isso. Desde a eleição presidencial, em novembro, quando houve um estresse no mercado, a bolsa de Nova York subiu cerca de 15% e o VIX caiu 50%. Esse movimento faz sentido.

Alguns investidores acreditam que a bolsa se tornou um investimento arriscado porque já subiu demais.

Discordo, porque existe um fundamento para a alta, que é a retomada da economia. Alguns analistas e investidores passam muito tempo prevendo a queda da bolsa e, quando ela finalmente acontece, ficam querendo levar o crédito. É claro que pode haver uma correção de preços das ações e um aumento da volatilidade em algum momento, mas não prevejo isso num futuro próximo. A última grande queda da bolsa aconteceu em 2008 em meio à crise financeira. Só que, naquela época, os mercados não eram tão regulados como hoje. Os riscos eram maiores. O cenário mudou. Existe espaço para a bolsa continuar subindo.

As baixas taxas de juro estão provocando distorções no mercado financeiro. A queda da volatilidade é uma delas?

Não. Os juros já estiveram mais baixos no passado, logo após a crise de 2008, e a volatilidade era maior. Juros menores fazem as pessoas investir mais em ações em busca de rendimentos maiores, mas não vejo isso como uma distorção.

A volatilidade ficou muito baixa por alguns anos antes do estouro da bolha da internet em 2000. Na época, a maioria dos investidores ignorou os riscos do mercado. Isso pode estar acontecendo agora?

Um grande evento global pode deixar os investidores mais nervosos e fazer as ações cair e a volatilidade aumentar. Talvez uma das maiores preocupações atualmente seja com a manutenção da paz mundial. Em agosto, quando aumentaram as tensões com a Coreia do Norte, o VIX subiu 60%, mas em pouco tempo voltou ao patamar anterior, o que indica que os investidores não acreditam que existam grandes ameaças.

Investir em fundos cuja estratégia é tentar ganhar dinheiro com a volatilidade virou moda no exterior. Vale a pena fazer isso?

Depende. Os investidores têm ganhado dinheiro apostando na queda da volatilidade — não apenas agora, mas desde a década de 90. Isso só mudou em períodos de estresse, como a crise de 2008. Já perdi dinheiro apostando no aumento da volatilidade e agora faço o contrário disso. Posso ter prejuízos se houver uma alta da volatilidade, mas acredito que qualquer alta, pelo menos no curto prazo, será pontual.

O senhor investe em ações americanas?

A maior parte de meu patrimônio está investida em ações americanas. Faço isso há muitos anos e não vejo motivos para mudar. No longo prazo, as ações têm rendido mais do que outros ativos. Não estou preocupado, e o VIX, nas mínimas históricas, mostra que a maioria dos investidores também não está. É verdade que existem muitos investidores que compram ações e também fazem seguros, como aplicações no mercado futuro ou em ouro, para se -proteger de uma eventual queda nos preços. No entanto, o preço do ouro já esteve muito mais alto, o que indica que a desconfiança diminuiu.

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