Revista Exame

“Está difícil segurar os talentos”, afirma James Turley

O presidente da auditoria Ernst&Young, que iniciou a carreira na companhia como estagiário em 1977, fala sobre como enfrentar a escassez de profissionais

James Turley: “Em países como o Brasil, o mais difícil não é achar bons profissionais — mas mantê-los” (Ramin Talaie/Corbis/Latinstock)

James Turley: “Em países como o Brasil, o mais difícil não é achar bons profissionais — mas mantê-los” (Ramin Talaie/Corbis/Latinstock)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2011 às 12h13.

Há 34 anos na auditoria ernst&young, onde passou por diversos cargos até se tornar presidente global em 2001, James Turley é mais um estrangeiro otimista com o Brasil. Ele não vê perigo no horizonte da economia brasileira nem bolha na bolsa de valores, onde espera ver cerca de 30 novos IPOs. Problema mesmo é conseguir bons profissionais para acompanhar o ritmo do país.

1) EXAME - O senhor só trabalhou na Ernst&Young. O que o manteve na mesma empresa por tanto tempo?

James Turley - Essa é uma pergunta que me fiz quando me tornei presidente. A resposta é que sempre aprendi algo novo, ora porque precisei me mudar para alguma outra cidade, ora porque ganhei uma nova responsabilidade. 

2) EXAME - O senhor acha que possibilitar o aprendizado ainda é o principal atrativo de talentos hoje?

James Turley - Sim. Mas em países como o Brasil, onde a rotatividade média de profissionais é alta, entre 25% e 30% ao ano, notamos que a dificuldade maior da área de recursos humanos não é apenas atrair os melhores talentos, mas mantê-los motivados a permanecer. Isso porque economias aquecidas oferecem muitas opções no mercado de trabalho para os melhores profissionais.

3) EXAME - Como isso está sendo feito?

James Turley - É preciso ser competitivo na remuneração e nos benefícios. Nos países emergentes, é ainda mais importante oferecer condições de trabalho flexíveis e ter um plano de carreira. Notamos que, para a maioria das pessoas, satisfação profissional equivale a atingir um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Para muitos, a aspiração é ter oportunidades de trabalhar em outras partes do mundo.

4) EXAME - Os IPOs são uma importante fonte de clientes para as auditorias. Qual é sua expectativa sobre o mercado brasileiro?

James Turley - De acordo com um estudo que publicamos recentemente, deve haver cerca de 30 aberturas de capital na bolsa de valores no Brasil neste ano, quantidade muito superior à de 2010, mas ainda bem abaixo do pico de 2007, quando foram registrados 63 IPOs.

5) EXAME - Isso é uma indicação de mais cautela?

James Turley - Não creio que haja muito motivo para cautela. O Brasil ultrapassou a China como maior destino de investimentos de private equity. Vejo uma postura muito positiva e agressiva da parte dos empresários. O que provavelmente mudou é que as empresas estão atingindo um estágio mais avançado antes que o mercado de capitais as receba como candidatas a IPO. O que mudou foi o mercado de capitais.

6) EXAME - Não há, então, risco de bolha, na sua opinião?

James Turley - Em qualquer economia que esteja crescendo no ritmo da brasileira, bolhas precisam ser vigiadas constantemente. Mas sou otimista e acredito que a estabilidade e o ambiente político e econômico no Brasil permitirão um crescimento sustentável e contribuirão para que bolhas não se formem e saiam do controle.

7) EXAME - A Ernst&Young era a auditora do banco Lehman Brothers. Como foi essa experiência?

James Turley - Não creio que tenha sido pior do que a de outras instituições financeiras envolvidas com companhias que quebraram ou receberam grandes quantias de dinheiro do governo americano nos últimos anos. As questões que envolveram essas empresas eram basicamente as mesmas.

Acompanhe tudo sobre:AuditoresEdição 0992EmpresasEY (Ernst & Young)Mercado de trabalho

Mais de Revista Exame

A tecnologia ajuda ou prejudica a diversidade?

Os "sem dress code": você se lembra a última vez que usou uma gravata no trabalho?

Golpes já incluem até máscaras em alta resolução para driblar reconhecimento facial

Você maratona, eles lucram: veja o que está por trás dos algoritmos