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Aos 121 anos, Klabin se reinventa e volta à moda

Avaliada em mais de R$ 25 bi e com produtos sintonizados com o digital, a companhia despontou no setor de agronegócio e foi eleita para MELHORES E MAIORES

Klabin: ações operam em leve alta após anúncio de compra  (Germano Lüders/Exame)

Klabin: ações operam em leve alta após anúncio de compra (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 05h50.

O mercado de papel e celulose vem ganhando destaque nos últimos cinco anos e conquistou um brilho adicional em 2020. “Papel é cool novamente”, disse Cristiano Teixeira, presidente da Klabin, em um recente evento internacional do setor. A frase, além de reverberar, faz sentido. A companhia, que despontou como a melhor de seu setor e foi eleita a melhor empresa do agronegócio desta edição de MELHORES E MAIORES, alcançou neste ano seu maior valor em bolsa da história — está avaliada em mais de 25 bilhões de reais. 

    Fundada em 1899 por três irmãos Klabin mais um primo Lafer, é uma das mais tradicionais indústrias do Brasil. Quando esse quarteto começou o negócio, era um comércio de material de escritório importado. A produção própria de papel começaria alguns anos depois. Ao longo de sua história, a Klabin fez um pouco — ou bastante — de tudo: de papel-jornal e de escrever a celulose pura para vender, passando até por cerâmica. Mas, em 2017, cristalizou uma escolha estratégica adotada na virada do milênio: foco em papel para embalagens e papelão ondulado. 

    É esse o mercado cool a que Teixeira se referiu e foi esse direcionamento que trouxe a companhia ao topo da premiação. Embalagens de papel têm tudo a ver com a era da digitalização da economia — e o transporte de qualquer coisa de um lado para o outro — e, além de tudo, são produtos sustentáveis. Não há dúvida quanto à tragédia sanitária e social da pandemia de covid-19, mas, se há duas frentes que ela impulsionou mundo afora, são o e-commerce e o debate sobre a saúde do meio ambiente. 

     

     

    Esse posicionamento levou a Klabin a uma receita de 2,6 bilhões de dólares em 2019 e a um lucro líquido de 234 milhões de dólares — 2,5 vezes o do ano anterior. No conjunto de indicadores, foi a empresa que teve o melhor desempenho de seu setor e também uma das que tiveram o melhor resultado entre as 400 maiores do agronegócio (veja quadro abaixo). E 2020 está confirmando as escolhas feitas ao longo do tempo. A receita líquida nos primeiros nove meses deste ano cresceu 14%, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda, subiu 7%. 

    Embora pareça um negócio para lá de tradicional, é a vida moderna o principal motor do crescimento da empresa. A perspectiva de digitalização fez a Klabin abandonar os mercados de papel-jornal e para impressão e escrita. Quando fez essa opção, no início dos anos 2000, não estava claro outro efeito da economia digital — a necessidade da embalagem para transportar o mundo de coisas que chegam às casas das pessoas, encomendadas pela internet. “O comércio eletrônico impulsionou o negócio de embalagens brutalmente”, comenta Teixeira. “Somos fornecedores exclusivos do Mercado Livre, por exemplo.” 

    (Arte/Exame)

    Para atender ao aumento da demanda, no ano passado, a Klabin colocou em marcha um plano de investimento de 9 bilhões de reais, o maior de sua história. Está em andamento a expansão da unidade de Ortigueira, no Paraná, que abrigará duas novas máquinas de papel. Trata-se do Projeto Puma. Neste momento, há mais de 7.000 pessoas trabalhando na obra. O planejamento estratégico de longo prazo prevê que, em 2030, a unidade terá uma capacidade produtiva de 6,5 milhões de toneladas ao ano, ante os atuais 3,5 milhões de toneladas.  

    Além do universo digital, a empresa está cada dia mais presente nos supermercados, com os esforços maiores e com a pressão pela substituição de embalagens e material plástico por papel. “Todo mundo compra Klabin no mercado sem saber”, diz Teixeira, ao destacar a enorme pulverização de sua base de clientes, já que embala do cimento à farinha, passando por frutas, chás e até pãezinhos. “São mais de 5.000 clientes no Brasil.” Em 2020, por exemplo, a empresa foi beneficiada pela indústria de higiene e limpeza, cuja demanda aumentou em razão da covid-19. 

    O potencial de crescimento com a substituição do plástico de primeiro uso pelo papel também é enorme. Os dois mercados são rigorosamente do mesmo tamanho: 160 milhões de toneladas anuais de papel para embalagens e 160 milhões de toneladas anuais de polímeros para atender ao mercado de uso único — justamente o plástico que vai parar nos oceanos. Teixeira sabe exatamente o que faria a diferença: políticas públicas. 

    Plantio de mudas: integração com a produção de celulose (Arte/Exame)

    O plástico é um produto muito barato, tanto que não possui uma cadeia efetiva de reciclagem. O esforço para reúso não compensa diante do custo da produção nova. 

    O avanço de políticas nessa direção, contudo, é questão de tempo. A organização ambientalista Greenpeace, por exemplo, não perde a oportunidade de exibir seu dragão que cospe plástico na frente de eventos com líderes internacionais ou de grandes indústrias que usam embalagens. A estimativa é que, só no Mar Mediterrâneo, 96% do lixo seja de plástico. 

    Atenta a todos os usos do papel e ao potencial digital, a Klabin vem se posicionando para ser uma das maiores companhias desse mercado no mundo. A internacionalização é uma das metas. Contudo, a base da produção deve ficar toda no Brasil, onde estão as áreas de floresta e a integração com a produção de celulose. Lá fora, o que a Klabin estuda ampliar são as estruturas para finalização e montagem de embalagens. Mas devem sair daqui já prontas as grandes bobinas de papel de embalar que serão usadas. “No Brasil, estamos chegando ao limite de nossa participação de mercado, com uma fatia de 25%. Podemos crescer organicamente, conforme o próprio mercado aumenta”, diz Teixeira.

    Foi neste ano, em plena pandemia, que a companhia passou a abocanhar um quarto do mercado, depois de adquirir a unidade de produção da International Paper (IP) no Brasil, por 330 milhões de reais. O grupo americano tinha uma fatia de 6% do abastecimento no país. 

    (Arte/Exame)

    Na frente de inovação, a Klabin já se destacou pelo desenvolvimento do papel de embalagem feito da fibra curta de celulose, o produto batizado e patenteado como eukaliner (base do Projeto Puma). Agora, com parceria com startups internacionais, estuda até mesmo papéis que poderão ser tão resistentes quanto o aço. Além disso, atenta às oportunidades diretas que o e-commerce proporciona, criou em 2019 seu próprio mar­ketplace de embalagens, o KlabinForYou. Pela plataforma, qualquer pessoa que necessite de embalagens a partir de 50 unidades pode comprar e personalizar suas demandas. Antes, só grandes empresas eram clientes da Klabin. 

    Se na frente estratégica a Klabin é cool e moderna, ela ainda tem desafios para atualizar sua governança corporativa. Todo o peso da tradição dos fundadores recai sobre o negócio, com uma estrutura de controle ainda dividida em ações ordinárias e preferenciais. É a única empresa do setor fora do Novo Mercado da bolsa B3. Neste ano, a expectativa é que a empresa faça um primeiro avanço importante ao eliminar um contrato de royalty que o mercado acha um absurdo: a Klabin paga dezenas de milhões aos controladores para usar seu nome. Se tudo der certo, 2020 também deverá ser o ano em que a Klabin se tornará dona e senhora de seu próprio nome.  

    (Arte/Exame)

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