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Crise econômica americana traz jovens de volta a casa dos pais

A economia americana começa a dar sinais de recuperação, mas os jovens ainda sentem os efeitos da crise. Muitos deles tinham saído da casa dos pais e — desempregados e endividados — foram forçados a voltar

Jovens em busca de emprego em Oregon: sem trabalho e com dívidas, a vida entrou em câmera lenta (Natalie Behring/Getty Images)

Jovens em busca de emprego em Oregon: sem trabalho e com dívidas, a vida entrou em câmera lenta (Natalie Behring/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de maio de 2012 às 11h07.

São Paulo - Quatro quartos, três banheiros e três vagas na garagem em uma casa de 320 metros quadrados. É assim um dos imóveis que estão sendo vendidos num loteamento em Las Vegas por 310 000 dólares. Nessa residência, um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha formam um pequeno núcleo individual que pode ser acessado por uma entrada separada.

A versão americana do “puxadinho” virou moda nos novos projetos das construtoras, que parecem ter acordado para uma tendência: cada vez mais famílias têm filhos adultos morando em casa. 

Os Estados Unidos não viam tantos jovens dividindo o mesmo teto com pais ou avós desde os tempos de James Dean. Com o forte avanço na área da educação nos anos seguintes ao fim da Segunda Guerra Mundial, os americanos foram encorajados a deixar o ninho mais cedo.

Foi aí que conquistar a independência financeira ainda jovem consolidou-se como um valor na sociedade. No começo dos anos 80, só 11% das pessoas de 25 a 34 anos moravam com a família. Hoje, devido à crise econômica dos últimos quatro anos, o percentual chegou a 22%.

O grande número de jovens que saíram da casa dos pais e viram-se obrigados a voltar por questões econômicas deu origem à expressão “geração bumerangue”. “O padrão familiar multigeracional era coisa do passado, comum antes de os Estados Unidos se tornarem uma economia industrial”, diz Martin Whyte, professor de sociologia na Universidade Harvard. “Hoje, muitas pessoas por volta dos 50 anos têm de ajudar financeiramente não só os pais mas também os filhos.”

De modo geral, os dados mais recentes sobre a economia são positivos e reforçam a percepção de uma retomada. No ano passado, o PIB cresceu 1,7% e estima-se que, no primeiro trimestre de 2012, a expansão foi de 2,3%. Entre o começo de janeiro e o fim de março, 635 000 vagas foram criadas, 30% mais que no trimestre anterior.

Mas é uma recuperação ainda tímida, e os jovens fazem parte do grupo dos retardatários. O desemprego no estrato dos 25 aos 34 anos está em 9%, acima da taxa da população total. Procurar o primeiro emprego prolongadamente — e não achá-lo — é uma péssima marca no currículo, já batizado de “efeito cicatriz”.


No quesito renda, a situação não é melhor: o ganho médio dessa faixa etária é quase 10% mais baixo que o dos americanos em geral (no ano 2000, era similar). Para completar o calvário, os jovens estão endividados. Dois terços dos universitários pagam seus estudos com financiamento. Quando se formam, devem, em média, 24 000 dólares.

Em tempos de vacas gordas, pagar essa dívida não era problema. Sem trabalho, o financiamento virou uma questão nacional. Estima-se que 30% dos estudantes estejam inadimplentes. O total de empréstimos soma 1 trilhão de dólares, valor superior às dívidas de cartão de crédito de todos os americanos.

“Não me restou alternativa a não ser apelar aos meus pais”, conta Janel Martinez, que voltou para casa dois dias depois da formatura em sociologia e jornalismo, há dois anos. Metade do salário que recebe como produtora de mídia digital em Nova York vai para a parcela de 1 000 dólares mensal que pagará por mais 12 anos.

De certa forma, os jovens americanos estão levando uma vida em câmera lenta: arrumam emprego, casam, compram o primeiro imóvel e têm filhos mais tarde. “Eles não estão injetando dinheiro na economia na mesma proporção, e isso é preocupante”, afirma o economista Gary Painter, professor da Universidade do Sul da Califórnia.

Alguns economistas, como Todd Buchholz, ex-diretor de política econômica da Casa Branca e autor de Novas Ideias de Economistas Mortos, chegam a argumentar que a geração bumerangue é um dos fatores que podem retardar a recuperação.

A questão do desemprego é um dos temas mais quentes das eleições presidenciais deste ano, motivo de repetidos embates entre o presidente Barack Obama e o candidato republicano Mitt Romney. Membros da geração bumerangue em várias partes do país seguem o debate com atenção.

Eles podem estar na casa dos pais, mas continuam responsáveis por cerca de 15% dos votos — um grupo que certamente vai pesar na decisão sobre quem será o próximo presidente.

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