Matheus Doliveira
Publicado em 22 de outubro de 2020 às 05h59.
Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 15h16.
É muito improvável que você nunca tenha ouvido falar da japonesa Marie Kondo. Se for o caso, pause a leitura e dê um Google. Além de ter sido considerada umas das 100 pessoas mais influentes do planeta pela revista americana Time, Kondo é autora do livro que é considerado a Bíblia da arrumação (a prova está no título): A Mágica da Arrumação, com milhões de exemplares vendidos em mais de 40 países mundo afora. No ano passado, o rosto de Kondo ficou ainda mais conhecido com a série da Netflix Ordem na Casa com Marie Kondo, na qual ela transforma ambientes caóticos em verdadeiros santuários minimalistas.
Com um método de arrumação patenteado, o KonMari, Kondo demonstra que a organização dos ambientes domésticos gera alegria e bem-estar, e isso se reflete na produtividade, seja no trabalho, seja nos estudos. Durante a quarentena, quando a linha que divide a carreira da vida pessoal ficou ainda mais tênue, manter os ambientes do lar organizados deixou de ser opção e passou a ser necessidade.
Nos Estados Unidos e na Europa, os personal organizers, profissionais que organizam desde porta-joias até guarda-roupas com base em métodos como o KonMari, são uma categoria cada vez mais procurada — e podem cobrar mais de 300 dólares por hora de serviço. A profissão não tem a ver com a limpeza de ambientes, e sim com a organização deles. Aqui no Brasil os arrumadores profissionais começam a ganhar projeção. De acordo com a Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade, o piso da categoria é 50 reais por hora de serviço.
“Desde o começo da quarentena não fiquei sem trabalho, a demanda vem crescendo muito e a procura por cursos também”, afirma Camila Cruz, personal organizer que cobra 120 reais por hora de trabalho e também dá cursos de formação para arrumadores. Priscila de Vasconcelos, que há quatro anos trocou um emprego formal para se tornar arrumadora profissional, especializou-se em organizar escritórios e também assistiu a um boom de clientes de março para cá. “As pessoas não estavam preparadas para trabalhar 100% de casa. A melhor forma de fazer do home office uma experiência saudável e produtiva é começar pelo básico e otimizar o ambiente”, diz.
Consultamos três arrumadores profissionais para, nas páginas a seguir, mostrar como organizar melhor sua casa, do escritório ao jardim, passando pelo quarto e pela cozinha.
• Faça um quadro de lembretes.
Visualizar as tarefas é o jeito mais funcional de não deixar nada para trás. Um simples quadro magnético ou de cortiça para pendurar os post-its pode ajudar muito seu desempenho nas atividades diárias e até garantir algum tempo livre. Cumprir todas as tarefas fixadas no começo do dia pode trazer muita satisfação no fim do expediente.
• Organize o material de trabalho.
Uma mesa bagunçada pode atrapalhar seu fluxo de tarefas
e distraí-lo do que realmente importa. Em vez de deixar todos os materiais de escritório bagunçados e soltos numa gaveta, que tal uma caixa com compartimentos para guardar lápis, canetas e cadernos? Dessa forma, você pode manter esses itens até mesmo em cima da mesa (sem bagunça).
• Esconda os fios.
Em se tratando de organização, poucas coisas são mais incômodas do que os emaranhados de fios que você nem sabe para que servem. Além de feios, juntam poeira. Caixas e réguas com espaço ajudam a gerenciar e esconder cabos de monitores e computadores.
• Coloque revistas em nichos.
Dê adeus a pilhas de publicações em cima da mesa. Para revistas e catálogos, use um porta-revistas, ideal para colocar em estantes e prateleiras. Já agendas e cadernos podem ser guardados em caixas dentro das gavetas. Um gaveteiro também pode resolver.
• Guarde livros por tema e cor.
Se você tem muitos livros, organize-os por tema ou por autor, em ordem alfabética, e coloque adesivos indicando os assuntos na estante. Isso vai facilitar a busca por um exemplar específico. Se você for mais visual, outra forma de organização é por cor. Assim como as roupas no cabide, os livros podem ser organizados dessa forma para garantir um ambiente agradável e alegre.
• Usou, guardou.
Um dos grandes segredos da organização é manter a arrumação original. Todas as vezes que pegar algo para usar, tente pôr de volta no lugar. Isso evita o acúmulo de itens espalhados pelo quarto e a preguiça de organizar muitas coisas de uma só vez. Sabe aquela cadeira que fica cheia de roupas empilhadas? Se você guardar aquela única blusa da forma correta, vai ser mais fácil do que guardar 15 blusas depois.
• Organize as roupas por cor.
Além de deixar seu guarda-roupa muito mais bonito, esse método facilita localizar peças específicas, o que, por sua vez, evita bagunçar todo o resto na hora da busca. Em cada gama de cor, organize pelo comprimento da manga, no caso das camisas. Comece pendurando as regatas brancas, até as blusas brancas de manga comprida. Quando terminar, passe para a próxima cor, das mais claras para as mais escuras.
• Dobre suas meias.
No longo prazo, as tradicionais bolinhas podem deixar o elástico esticado, o que diminui a vida útil do produto. Além de deixar a gaveta mais bonita, dobrar suas meias ajuda a aproveitar melhor o espaço disponível e a localizar as peças.
• Cosméticos no armário.
Cremes, perfumes e maquiagens devem ser guardados no quarto ou no closet, nunca no banheiro. O banheiro possui muita umidade por causa do chuveiro, diminuindo a eficácia e a vida útil desses produtos, podendo até mesmo causar fungos.
• Perfume seu quarto.
Você já se perguntou por que alguns quartos de hotel têm um cheiro específico? Muitos estabelecimentos borrifam fragrâncias no ambiente, principalmente na cama, que mais absorve o cheiro. É uma boa forma de trazer frescor para o ambiente. Essências como lavanda ainda ajudam a dormir melhor.
• Guarde potes tampados.
Com certeza você já perdeu um tempo precioso procurando a tampa de seu tupperware, certo? Para resolver o problema, primeiro é preciso selecionar potes que possuam tampa e se desfazer dos que não têm. Se tiver espaço, o ideal é guardar todos os potes tampados. Se o espaço não for suficiente, separe os potes por cor, material ou tamanho e deixe as tampas organizadas da mesma forma.
• Uniformize os potes de tempero.
É comum usarmos potes variados para guardar temperos, mas isso dificulta saber qual tempero está ali e por quanto tempo. Usar potes idênticos, de preferência de vidro, e identificar tudo com etiquetas que mostrem o tipo de alimento e a data de validade vai ajudar a aproveitar melhor o que tem em casa.
• Talheres grandes fora da gaveta.
Está difícil achar a concha? E a escumadeira? Como esses são itens usados no dia a dia, não faz sentido guardá-los em gavetas. Misturar talheres grandes e pequenos só gera bagunça. Em vez disso, que tal colocar os itens que você mais utiliza em suportes que sejam visíveis e de fácil acesso?
• Não misture os pratos.
Muito provavelmente você já ficou encarando uma pilha de pratos sem saber como retirar o que queria usar. Além de ser esteticamente feio, misturar pratos de diferentes modelos e materiais não é nada funcional. Em vez disso, procure organizar diferentes pratos em diferentes pilhas. O mesmo vale para os copos: em vez de guardar tudo junto, separe os modelos com seus respectivos pares.
• Setorize sua geladeira.
É comum ficar com a porta da geladeira aberta alguns minutos até achar o que procura. Para evitar esse gasto desnecessário de energia elétrica e tempo, por que não separar os alimentos por refeição? Organizadores transparentes de acrílico ajudam nessa missão. Com eles, você setoriza por produto, como laticínios, ou por refeição, como itens de café da manhã.
• Busque espaços iluminados.
Um dos segredos para as plantas vingarem ou não está na iluminação do ambiente. Para começar uma horta ou um jardim, preste atenção na necessidade de luminosidade natural da espécie (planta de sombra, meia-sombra ou sol direto). Procure sempre respeitar a condição natural de cada planta, com disponibilidade de luz e ventilação naturais abundantes.
• Opte por espécies nativas de sua região.
Por motivações culturais, cerca de 90% das plantas de paisagismo no Brasil são de origem estrangeira, o que é um equívoco no país de maior diversidade de plantas do mundo. Plantas nativas ajudam a equilibrar nossos ecossistemas e tendem a gerar menor manutenção e consumo de água, além de valorizar culturalmente a biodiversidade nativa.
• Atenção para a qualidade da terra.
Muitos já viveram a situação de comprar uma planta linda e, mesmo com todos os cuidados, ela ficar feia meses depois. Isso se deve a algo comum no mercado brasileiro: a baixa qualidade e durabilidade dos substratos usados para cultivo, feitos com materiais de rápida decomposição. Opte por substratos à base de turfa mineral com matéria orgânica para colocar nos vasinhos.
• Use e abuse de espécies frutíferas.
Os biomas brasileiros estão repletos de árvores de frutas deliciosas e de grande beleza ornamental. Existem espécies para espaços com boa iluminação natural, como a cabeludinha (Plinia glomerata), um arbusto que produz frutos nos troncos como as jabuticabas, só que amarelinhos, assim como árvores para quintais, a exemplo do cambuci (Campomanesia phaea), com frutos em formato de “disco voador” e muito saborosos para sucos.
• Invista na diversidade de espécies.
Quanto mais diferentes forem as espécies de plantas que você cultivar, maior a possibilidade de criar zonas interessantes de contemplação e melhores serão os resultados ecológicos, já que haverá diferentes atrativos para bichos polinizadores e dispersores, como beija-flores, borboletas, abelhas nativas sem ferrão, entre muitos outros.
OS PROFISSIONAIS
Priscila de Vasconcelos
Ela trabalhava com marketing digital no Brasil até se mudar para a Austrália em 2016, quando decidiu trocar de profissão. Juntando um antigo desejo de ter seu próprio negócio com a praticidade com que sempre organizou os mais variados ambientes, ela começou a estudar os conceitos de organização e bem-estar, até que fez disso sua nova profissão. “Eu sempre quis empreender, e a Austrália é um país que incentiva muito o empreendedorismo. Comecei organizando a casa de amigos e conhecidos até chegar ao meu método de organização e me profissionalizar.” Hoje, Priscila trabalha integralmente como personal organizer, arrumando desde casas comuns até escritórios comerciais. Para ajudar a organizar seu escritório, seja ele improvisado ou não, selecionamos alguns conselhos da especialista.
Ricardo Cardim
É paisagista, mestre em botânica pela Universidade de São Paulo e autor do livro Remanescentes da Mata Atlântica: As Grandes Árvores da Floresta Original e Seus Vestígios, finalista na categoria Ciência do Prêmio Jabuti. Cardim desenvolve projetos para resgatar a natureza original em diferentes regiões do Brasil, foi premiado com a Medalha Anchieta da Câmara Municipal de São Paulo em 2011 pela descoberta de áreas de Cerrado sobreviventes na malha urbana. O paisagista é também defensor das espécies nativas brasileiras e, para a CASUAL, deu dicas de como começar um jardim em casa, seja no quintal, seja na varanda do apartamento.
Camila Cruz
Formada em processos gerenciais pela Fundação Getulio Vargas, essa paulistana largou um cargo de liderança em uma multinacional de cosméticos para se dedicar à profissão de personal organizer. Tudo começou em 2017, quando Camila percebeu que muitas revendedoras da empresa para a qual trabalhava tinham dificuldade de conciliar o trabalho com os cuidados de casa. “Sempre trabalhei com mulheres. Percebi que muitas precisavam de um método para organizar a casa com mais facilidade.” Com a ideia na cabeça, Camila se especializou na área e tornou-se consultora do método KonMari. Para a CASUAL, ela ensinou a manter o quarto e a cozinha em ordem durante a quarentena (e depois, claro).