Revista Exame

Brasil tem startups de nível mundial, afirma investidor

Para o presidente da maior aceleradora de empresas de tecnologia do Vale do Silício, os empreendedores brasileiros começam a chamar a atenção do mundo

 (David Paul Morris/Getty Images)

(David Paul Morris/Getty Images)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 18 de novembro de 2016 às 10h54.

Última atualização em 18 de novembro de 2016 às 10h59.

São Paulo – O investidor americano Sam Altman, de 31 anos, tem uma posição privilegiada no Vale do Silício. Como presidente da Y Combinator, principal empresa aceleradora de startups da região, Altman tem contato com alguns dos negócios mais inovadores do mundo logo que saem do forno. A Y Combinator já investiu em mais de 1.300 startups — dez delas estão avaliadas hoje em mais de 1 bilhão de dólares.

1) A economia brasileira está há dois anos em recessão. Como o setor de tecnologia costuma ser afetado por crises econômicas desse tipo?

Sam Altman – Na maior parte dos países, uma desaceleração econômica estimula o crescimento de startups. As grandes empresas são forçadas a reduzir o número de funcionários para cortar custos. Quem é demitido acaba, com certa frequência, tendo de empreender. Fica mais criativo. Nos Estados Unidos, muitas empresas foram criadas na última recessão. O site de hospedagem Airbnb e o aplicativo de transporte Uber são dois exemplos.

2) Essa mesma crise que serve de catalisadora para o empreendedorismo também provoca o fechamento de empresas iniciantes. O que uma startup deveria fazer em um momento de crise?

Sam Altman – Na crise, as empresas têm de usar o dinheiro de investidores de forma ainda mais cuidadosa, até que consigam criar um produto que os clientes realmente queiram comprar. Para fazer isso, é preciso evitar ao máximo um aumento no quadro de funcionários. Dizemos aos empreendedores que tratem o dinheiro de investimento como se fosse o último que vão receber. Isso serve de lição para as startups do Brasil e de qualquer parte do mundo.

3) Criada em 2005, a Y Combinator investiu neste ano, pela primeira vez, em uma startup brasileira — a Quero Educação, site para encontrar bolsas em faculdades particulares. Por que levou tanto tempo?

Sam Altman – Não tínhamos muitas candidatas do Brasil no programa de aceleração. Até pouco tempo atrás havia uma ideia errada de que não tínhamos interesse em startups estrangeiras ou focadas em mercados fora dos Estados Unidos. Isso nunca foi verdade. Mas os empreendedores estrangeiros só agora perceberam e começaram a se inscrever.

4) Por que o senhor decidiu fazer esse investimento no Brasil justamente neste momento de crise?

Sam Altman – Não nos guiamos pela conjuntura. O que nos atraiu foi o surgimento no Brasil de empreendedores de nível internacional. É isso que buscamos quando investimos. Queremos escolher os melhores fundadores de empresas do mundo.

5) Como se mede a qualidade de um empreendedor?

Sam Altman – Fazemos isso nas entrevistas pessoais, analisando a inteligência e a determinação de cada um. Para mim, o mais importante é o empreendedor saber explicar como o ramo de atuação da empresa se tornará um mercado bilionário.

6) Qual é a pergunta decisiva que o senhor faz?

Sam Altman – Minhas favoritas são: por que vocês estão nesse segmento? Por que, de todas as empresas que poderiam ter criado, escolheram exatamente essa?

7) Por que essas perguntas são decisivas?

Sam Altman – Elas me ajudam a avaliar a paixão dos fundadores pelo negócio. Se não me convencerem, não vão conseguir convencer os consumidores, os funcionários e outros investidores.

Acompanhe tudo sobre:InovaçãoStartupsvale-do-silicio

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda