Bruno Ferrari, da Oncoclínicas: 60.000 pacientes em tratamento em meio à quarentena (Imagem/Divulgação)
Lucas Amorim
Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h00.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 13h02.
Centrar esforços no combate à pandemia do coronavírus é evidentemente uma necessidade. Mas a força-tarefa, que envolve governo e empresas, tem um efeito colateral perverso: pode deixar outras doenças em segundo plano. Um levantamento feito pelas sociedades brasileiras de patologia e de cirurgia oncológica mostrou que, até meados de maio, cerca de 50.000 brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer.
É um desafio enorme para o Grupo Oncoclínicas, líder no tratamento de câncer na América Latina. Criada em 2010 pelo médico oncologista Bruno Ferrari com um grupo de oito colegas, a companhia já tem 65 unidades no Brasil e reúne 850 médicos. Atende, todos os anos, mais de 200.000 pacientes. Para a Oncoclínicas, o efeito mais deletério da pandemia é o adiamento de novos diagnósticos. “Podemos ter uma onda de tratamentos tardios no Brasil quando esta pandemia passar”, afirma Ferrari.
Os pacientes em tratamento — são 60.000 atualmente — passaram a ser acompanhados por medicina diagnóstica, mas não deixaram de ir pessoalmente às unidades. Para isso, foi necessário um reforço na comunicação com pacientes e familiares. Como medida preventiva, a Oncoclínicas já tinha 100 dias de equipamentos de emergência em estoques descentralizados, cuidado que se mostrou essencial neste momento.
Para Ferrari, a maior lição do coronavírus é a importância da informação — sem ela, o diagnóstico e o tratamento ficam aquém do desejado, como se vê com a covid-19 mundo afora. “Como é ruim não conhecer uma doença. Temos tratado pacientes de covid-19 com experiências quase anedóticas em alguns momentos”, diz Ferrari.
Uma das prioridades da companhia nos próximos anos é justamente investir em diagnósticos cada vez mais precisos e individualizados, com mapeamento do genoma. De acordo com Ferrari, para oferecer um tratamento mais eficiente — contra o câncer e contra novas doenças —, a parceria entre empresas concorrentes e entre o setor público e o privado será cada vez mais importante. Essa é outra lição que a pandemia deixa.