Thomson no veleiro Hugo Boss, da classe Imoca 60: treino para a regata de 40.000 quilômetros, uma volta ao mundo (Hugo Boss/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2019 às 05h26.
Última atualização em 25 de julho de 2019 às 14h49.
O velejador Alex Thomson, nascido há 44 anos em bangor, a cidade mais antiga do País de Gales, incorpora o impagável bom humor britânico com perfeição. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro em meados de março a convite de seu principal patrocinador, a Hugo Boss, ele não perdeu a chance de demonstrar sua fina ironia. “Faz sentido pagar 7 milhões de dólares num barco que nem sequer tem banheiro?”, comentou sobre o preço de seu novo veleiro da classe Imoca 60, que leva o nome do patrocinador, com o qual singrou as águas cariocas na companhia de convidados da grife alemã.
É de pensar se dá para manter o mesmo estado de espírito durante as regatas impiedosas em que Thomson costuma competir. A mais insana delas é a Vendée Globe, disputa ao redor do globo, organizada de quatro em quatro anos, que obriga os competidores a se lançarem no mar sozinhos, sem nenhuma assistência externa — uma garrafa d’água atirada no veleiro é motivo de desclassificação. Ancorar é permitido, mas descer do barco, só depois da linha de chegada, que fica a mais de 40.000 quilômetros do ponto de partida. O francês Armel Le Cléac’h, vencedor da última regata, de 2016 para 2017, demorou 74 dias, 3 horas, 35 minutos e 46 segundos para completar o desafio. Thomson, segundo colocado, chegou 16 horas depois.
Não bastassem as tempestades, as ondas gigantescas e o frio glacial que fazem parte do trajeto, que tem início na França e corta os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, é preciso se contentar com alimentos insossos, em geral uma espécie de farinha misturada com água, dessalinizar a água do mar para matar a sede e se manter num estado de alerta permanente, o que equivale a quase não pregar os olhos. “Mais que uma prova de resistência física, a Vendée Globe é um teste de controle mental”, afirma Thomson.
O velejador diz ter dormido no máximo 1 hora seguida na última edição da regata. Sua média de sono nesse tipo de prova é de 20 a 40 minutos a cada 2 ou 4 horas. Um insuportável alarme que lembra aqueles de incêndio o impede de dormir além do previsto. Impedia. Depois de perceber que aquela barulheira já nem sempre resolvia, passou a usar um relógio que lhe aplica choques na hora de acordar. Os percalços impostos pelo sistema digestivo são solucionados com uma espécie de penico dotado de uma engenharia que o impede de virar. A engenhoca será levada para o novo barco, feito de fibra de carbono e com peso de 8 toneladas. O veleiro desliza em alta velocidade, só com um lado tocando o mar, graças a um conjunto de hidrofólios e a uma quilha basculante que se inclina até 45 graus para manter o equilíbrio.
A largada da próxima Vendée Globe, organizada desde 1989, está marcada para 8 de novembro do ano que vem. Será a quinta de Thomson. A regata foi completada somente 89 vezes, por 66 pessoas, e isso fez com que ganhasse o apelido de “Everest náutico”. Se bem que, no cume da montanha no Nepal, o que o britânico adora lembrar, já pisaram mais de 3.000 pessoas. Na edição de 2012-2013, Thomson chegou em terceiro lugar. O campeão ganha 200.000 libras de prêmio, enquanto o gasto por equipe a cada quatro anos chega a 5 milhões de libras. Os franceses venceram em todas as edições. “Agora estão torcendo por mim porque não aguentam mais se ver no pódio”, brinca Thomson.