Revista Exame

A meta é conciliar geração de valor e redução de riscos

A alemã Basf avaliou a sustentabilidade de 96,5% de seus principais produtos. A linha dos itens mais sustentáveis representa 28% do faturamento

Manfredo Rübens, presidente da Basf: seguindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU  (Germano Lüders/Exame)

Manfredo Rübens, presidente da Basf: seguindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 05h04.

Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 10h07.

A META É CONCILIAR GERAÇÃO DE VALOR E REDUÇÃO DE RISCOS

A alemã Basf avaliou a sustentabilidade de 96,5% de seus principais produtos. A linha dos itens mais sustentáveis representa 28% do faturamento | José Alberto Gonçalves Pereira

Criar valor para o cliente e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto socioambiental de um produto e os riscos dos negócios. Esses conceitos orientam a indústria química Basf nas avaliações de sustentabilidade de seu portfólio. Até o fim do ano fiscal de 2018, a multinacional alemã havia avaliado 96,5% dos itens mais relevantes de sua carteira no que diz respeito à sustentabilidade.

Na linha de produtos considerados estratégicos, a Basf conta com mais de 60.000 aplicações específicas, somando uma receita global de 56,2 bilhões de euros em 2018. Desses produtos, os mais bem avaliados são classificados em um grupo que a empresa chama de aceleradores de sustentabilidade, ou linha Accelerator. No ano passado, eles representaram quase 28% da receita da companhia entre os produtos tidos como estratégicos.

A linha Accelerator conta com painéis de isolamento térmico, como o Elastopir, tintas automotivas, a exemplo da Cathoguard, e produtos desenvolvidos com matéria-prima renovável, caso do Ecovio, um poliéster à base de milho. Para ser incluído na linha Accelerator, o produto precisa contribuir substancialmente para a sustentabilidade de sua cadeia de valor no que se refere a uma série de itens.

Entre os itens observados estão redução de custos, saúde, segurança dos empregados e consumidores, e outros que atendem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como eficiência no uso de recursos como água e energia. “Os ODS são uma ferramenta valiosa, que orienta a estratégia e o trabalho da liderança da Basf”, diz Manfredo Rübens, presidente da empresa na América do Sul. “Dos 17 ODS, priorizamos seis objetivos, cada um com metas e indicadores que perseguimos e dos quais prestamos conta à sociedade.” Os itens prioritários são os relativos a água; energia; emprego e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura; consumo e produção responsáveis; e combate às alterações climáticas.

Com desempenho de sustentabilidade inferior aos da linha Accelerator, há três outros grupos de produtos que respondem por mais de 70% do faturamento da carteira principal da empresa. Na categoria Performer, encontram-se os produtos que seguem critérios básicos de sustentabilidade.

O grupo Transition reúne itens com aspectos que demandam aprimoramento. Finalmente, estão incluídos na categoria Challenged produtos defasados tecnologicamente ou banidos pelos reguladores — a Basf pretende eliminá-los de sua oferta de produtos no prazo de até cinco anos depois de passarem por uma avaliação rigorosa de sustentabilidade.


TIRAR MAIS, PARA PRESERVAR MELHOR A FLORESTA AMAZÔNICA

Uma nova fábrica vai permitir à Beraca ampliar seu leque de insumos, incluindo folhas, raízes e resinas — e fortalecer a relação com a cadeia produtiva | Solange Azevedo

Uma fábrica com tecnologia multipropósito, capaz de processar tanto produtos da biodiversidade brasileira quanto outros ingredientes de origem natural. Essa é a nova aposta da Beraca. Além de óleos e manteigas que a empresa já tinha no portfólio, agora ela pode produzir extratos, bioativos e compostos aromáticos de componentes como folhas, raízes e resinas. “Fizemos alguns pilotos e, com essa proposta, aumentamos o rendimento dos produtos e otimizamos recursos”, diz Érica Pereira, supervisora de Sustentabilidade da Beraca. “A ideia é que todos os resíduos derivados da nossa fábrica, como cascas e sementes, sejam aproveitados.”

O investimento na fábrica em Ananindeua, no Pará, deve manter a Beraca na rota do crescimento.

A receita da empresa, principal fornecedora global de ingredientes naturais e orgânicos da Amazônia para a produção de cosméticos, aumentou quase 40% de 2016 a 2018: de menos de 34 milhões para 47 milhões de reais. Com potencial para bem mais. Segundo a consultoria Data Bridge Market Research, o mercado de extratos deverá avançar 9,1% ao ano até 2025.

A nova fábrica também é uma oportunidade de a Beraca fortalecer o Programa de Valorização da Sociobiodiversidade, um modelo de negócios de base sustentável de compra direta de comunidades agroextrativistas.

Ele foi criado internamente para garantir a rastreabilidade dos produtos, incorporando à cadeia produtiva os princípios da Convenção sobre a Diversidade Biológica, do Protocolo de Nagoya e da Lei da Biodiversidade, que regulam o acesso aos recursos genéticos provenientes da biodiversidade e a partilha justa dos benefícios. “Atuamos em 110 comunidades de 12 estados brasileiros. Impactamos 2.500 famílias diretamente, cerca de 10.000 pessoas”, afirma Érica. Em Tomé-Açu, no Pará, um terço dos trabalhadores que se dedicam ao extrativismo tem laços comerciais com a Beraca e ganham 40% mais do que os não associados.

A Beraca ajuda na substituição de atividades de maior risco pelo extrativismo sustentável. Em Anajás, município de 29 000 habitantes na Ilha de Marajó, a retirada ilegal de madeira já representou 50% da renda dos trabalhadores, mas vem diminuindo.

Tanto que o manejo de açaí, murumuru e patauá já responde por 81% dos ganhos dos extrativistas. “A floresta sempre foi fonte de alimento e renda para indígenas e ribeirinhos”, diz Elenice Assis do Nascimento, analista do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. “O extrativismo responsável, incluindo a população local, é o caminho para manter a floresta de pé.”


SE NÃO DÁ PARA DISPENSAR O PLÁSTICO, A SAÍDA ESTÁ NA ECONOMIA CIRCULAR

Produtos feitos com o reaproveitamento de plástico descartado após o consumo São uma das alternativas da Dow para responder às pressões ambientais | José Alberto Gonçalves Pereira

Em agosto deste ano, a americana Dow anunciou uma parceria com a holandesa Fuenix Ecogy para utilizar o plástico descartado após o consumo na produção de novos materiais plásticos. É uma das inúmeras ações que a empresa química vem desenvolvendo para enfrentar pressões crescentes de ambientalistas e consumidores por medidas que impeçam o descarte de plástico, material que leva centenas de anos para se decompor na natureza.

As iniciativas da Dow concentram-se em duas frentes. Uma é inerente a seu negócio: o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, como as resinas obtidas da reciclagem química de plástico pós-consumo. A segunda frente é a participação em alianças globais e regionais e em organizações que elaboram estudos sobre produtos mais sustentáveis e implementam projetos de combate ao descarte de plásticos, limpeza de oceanos e rios e lobby sobre legisladores e governos para que aprimorem as legislações sobre a gestão dos resíduos sólidos. “Estamos no início da cadeia de produção plástica, ou seja, somos responsáveis e também parte da solução”, afirma Júlio Natalense, líder de sustentabilidade da Dow para a América Latina.

No Brasil, a Dow associou-se a empresas de embalagens para desenvolver plásticos mais resistentes utilizando materiais pós-consumo. Um desses produtos, lançado em 2016, foi obtido por meio de uma parceria com a Videplast, companhia brasileira de embalagens flexíveis.

Atendendo à demanda do setor de arroz, as duas empresas desenvolveram o filme VP30, uma embalagem à base de um polietileno especial, duas vezes mais resistente do que os materiais convencionais. Ao evitar o rompimento das embalagens durante o enchimento, transporte e armazenagem do arroz, o VP30 amplia a validade do cereal e reduz as perdas físicas e financeiras. Com um rolo de 50 quilos de VP30 é possível embalar 3 935 pacotes de 5 quilos de arroz, 36% mais do que com o uso de materiais convencionais.

Na linha das soluções pós-consumo, a Dow começou a desenvolver neste ano, em seu centro de inovação, em Jundiaí, no interior paulista, em parceria com a Boomera, startup especializada em soluções de engenharia e economia circular, protótipos de resina plástica de materiais descartados.

O projeto procura oferecer opções de produtos mais sustentáveis à indústria de embalagens, fomentando novos mercados relacionados ao reaproveitamento e à reciclagem de plástico pós-consumo. “Buscamos criar produtos e processos que sejam aliados da economia circular”, diz Natalense. O primeiro protótipo deverá ser lançado em breve.


O DESAFIO DE MELHORAR A SAÚDE PÚBLICA POR MEIO DA NUTRIÇÃO

Para a holandesa DSM, erradicar a fome e reduzir o desperdício de alimentos são metas possíveis de ser alcançadas com produtos inovadores | Rafaela Lara

holandesa DSM surgiu em 1902 como uma mineradora de carvão. Após pouco mais de um século de história, a empresa mantém a atividade mineradora só no nome (DSM é a abreviação de Dutch State Mines), transformando radicalmente seu negócio: hoje atua nas áreas de saúde, nutrição e materiais, com operações em cerca de 50 países.

A direção da DSM aposta que é possível combater a fome e a desnutrição por meio da ciência, aliada à alimentação saudável. Para contribuir para a prática com a resolução dos problemas, a empresa firmou em 2007 uma parceria com o Programa Mundial de Alimentos, das Nações Unidas, e comprometeu-se a desenvolver alimentos nutritivos e sustentáveis para ajudar no combate à fome — um problema que atinge 820 milhões de pessoas no mundo.

A parceria entre a DSM e a ONU ajudou a melhorar a dieta de dezenas de milhões de pessoas em países como Afeganistão, Bangladesh, Nepal e Quênia.

No Brasil, onde a DSM atua desde a década de 80, seu principal produto é um sachê de micronutrientes com a marca MixMe, que traz 15 vitaminas e minerais em quantidades recomendadas para crianças de 6 meses a 4 anos.

O produto, que é adicionado às refeições para aumentar o valor nutricional, foi lançado em 2014 e distribuído em creches e escolas públicas até 2016 pelo programa Brasil Carinhoso, uma iniciativa do governo federal voltada para a primeira infância. A estimativa é que o programa tenha beneficiado 10 milhões de crianças no país. “Quando conseguimos melhorar a alimentação das pessoas em localidades carentes, acabamos erradicando vários problemas e tirando gente das filas dos hospitais”, diz Zenaide Guerra, diretora de assuntos corporativos e responsável pela área de sustentabilidade da DSM na América Latina. “Uma criança que recebe todos os nutrientes necessários brinca mais e rende mais na escola. Isso é fato, e é para isso que trabalhamos diariamente.”

Além de fabricar suplementos alimentares, a DSM tem produtos que ajudam a evitar o desperdício de comida. A empresa, por exemplo, desenvolveu uma membrana plástica permeável à umidade que é usada na produção de queijos — sua função é eliminar a formação daquelas crostas não comestíveis, evitando que até 10% do alimento se perca. Outro produto desenvolvido para reduzir o desperdício é um ingrediente para ração de aves que contém vitamina D3. Segundo a DSM, esse ingrediente ajuda no desenvolvimento do esqueleto das aves e fortalece as cascas dos ovos, diminuindo em até 15% sua quebra e, consequentemente, a perda desses alimentos.


PROPRIEDADES NATURAIS, AJUDA AO CLIMA E IMPACTO SOCIAL: É PRECISO TER OS TRÊS

A maior empresa de fragrâncias e aromas do mundo reforça sua atuação com povos da floresta amazônica e pequenos agricultores do Rio Grande do Sul | Solange Azevedo

Da floresta amazônica vêm as sementes de cumaru e o óleo de copaíba. Do Rio Grande do Sul, no outro extremo do país, vêm a laranja e o mandarim verde. Ribeirinhos, indígenas, quilombolas e pequenos agricultores extraem da natureza ingredientes valiosos para a suíça Firmenich, maior empresa de fragrâncias e aromas do mundo.

O negócio ajuda os cidadãos locais a encontrar um meio de subsistência. “O trabalho da Firmenich não é filantrópico. Não estamos aqui apenas para ajudar as pessoas. Precisamos dos ingredientes, e eles têm os ingredientes. Por que não trabalhar juntos?”, diz André Tabanez, gerente de projetos e fornecimento responsável da Firmenich.

Essas iniciativas, de acordo com Luiz Roschel, gerente-geral da Firmenich no Brasil, fazem parte de um programa chamado Naturals Together. Pelos cálculos da companhia, cerca de 4.000 pessoas são beneficiadas no país.

No mundo todo são 74.000. Ao atuar com comunidades tradicionais e pequenos agricultores, a proposta da empresa é fortalecer a cadeia produtiva, privilegiando negócios inclusivos e a agricultura sustentável. Tabanez ressalta que, na Amazônia, os extrativistas sabem que a conservação da biodiversidade é fundamental; que, além de fornecer os frutos, a floresta ajuda na regulação do clima e na oferta de água doce.

Na outra ponta, os consumidores estão cada vez mais exigentes. Por isso a Firmenich criou a EcoScent Compass, uma ferramenta que mede três pilares de seus produtos: propriedades verdes, pegada ambiental e impacto social. Novas criações têm sido submetidas a essa avaliação. Quando a pontuação é insatisfatória, um diagnóstico identifica o que precisa ser modificado. Fragrâncias concebidas nesses moldes, de uma coleção lançada em janeiro, estão disponíveis no Brasil.

Além de investir em um portfólio mais verde para atender os consumidores, a Firmenich diz agir para reduzir o impacto de suas fábricas sobre o planeta. Na filial brasileira, localizada em Cotia, na região metropolitana de São Paulo, desde abril 100% da energia elétrica utilizada é de fonte eólica. Apenas com essa mudança, as emissões de CO2 ali baixaram 16% — ou 62 toneladas por mês.

A economia para os cofres da Firmenich foi de 20%. “Os últimos leilões mostraram que os preços da eólica e da solar já estão menores do que os das demais fontes de energia”, afirma José Mauro de Morais, pesquisador de energias renováveis, petróleo e gás do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “O mercado competitivo não permite que as empresas se deem ao luxo de gastar mais para proteger o meio ambiente.”


QUANDO O ÓLEO LUBRIFICANTE USADO VIRA ÓLEO (DE) NOVO

Os 350 caminhões da Lwart percorrem 4.180 municípios no país para coletar óleo usado e transformá-lo em um produto que pode ser consumido outra vez | Patrícia Berton

Lwart (pronuncia-se “luarte”) é a junção da primeira letra  dos nomes do quatro irmãos — Luiz, Wilson, Alberto e Renato Trecenti — que iniciaram um negócio que já nasceu sustentável em 1975. A empresa é especializada em coleta e rerrefino (um novo refino) de óleo lubrificante usado. Com fábrica em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, a Lwart opera com 350 caminhões e 400 motoristas próprios, que fazem a coleta do óleo em 4.180 municípios pelo país.

Os caminhões vão coletando o óleo — nos lugares mais distantes, a visita pode demorar até seis meses —, que depois é descarregado em tanques nos 15 centros de coleta espalhados pelo país. Em seguida, uma carreta com capacidade para 56 000 litros faz o transporte do óleo coletado até a fábrica em Lençóis Paulista. Por ano, a Lwart faz o rerrefino de cerca de 100 milhões de litros de óleo lubrificante usado em carros, caminhões e máquinas.

Com aproximadamente 70.000 pontos de coleta, instalados em oficinas mecânicas, fábricas, empresas de transporte e postos de gasolina, a Lwart tem como principal desafio aumentar o número de fornecedores. “Todos os dias a empresa corre atrás de novos fornecedores, buscando sensibilizar associações, sindicatos de postos e indústrias de transporte”, diz Manoel Browne de Paula, diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Lwart. Ele diz que as empresas de rerrefino operam com 30% da capacidade ociosa. O setor é responsável pelo reaproveitamento de 300 milhões de litros de óleo lubrificante usado por ano, em um país que consome 1,3 bilhão de litros anualmente.

Quem vende seu óleo usado à Lwart recebe o Certificado de Coleta, uma garantia de que o óleo será transportado em segurança e passará pelo processo de rerrefino para voltar a ser consumido. O valor pago pela Lwart — de 60 a 70 reais o tambor — é inferior ao pago por quem opera no mercado informal — de 100 a 120 reais. “Calcula-se que 250 milhões de litros de óleo lubrificante usado vão para a queima clandestina”, diz De Paula. “Queima” quer dizer consumir o óleo usado novamente, em vez de enviá-lo para reciclagem.

De cada 100 barris de óleo lubrificante usado, 73 viram óleo novamente na fábrica da Lwart, por meio de um processo que utiliza gás natural. O óleo lubrificante é composto de óleo mineral — 90% — e de aditivos, que se degradam com o uso. No processo de rerrefino, a empresa tira -esses aditivos e transforma o que era resíduo em óleo mineral básico do grupo 2, que é usado em carros, por exemplo. Única processadora desse tipo de óleo no país, a Lwart fornece o produto para empresas como Shell, Ipiranga e Petronas.


ADEUS AOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS NAS FÁBRICAS

A fabricante catarinense de embalagens de isopor passou a utilizar A biomassa como 100% de sua fonte energética nas cinco unidades de produção no país | Arlete Lorini

Em agosto, a fábrica da catarinense Termotécnica em Petrolina, Pernambuco, concluiu a implantação de uma central de geração de vapor alimentada exclusivamente com biomassa, uma fonte de energia renovável.

O uso de energia térmica na forma de vapor de água é essencial para o processo produtivo da Termotécnica, que transforma o poliestireno expandido (ou EPS, o popular isopor) em embalagens para diversos segmentos da indústria e do agronegócio. Petrolina foi a quinta e última unidade fabril da Termotécnica a mudar sua fonte energética para a biomassa, encerrando o consumo de combustíveis fósseis.

Antes, passaram pelo mesmo processo as fábricas de São José dos Pinhais, no Paraná; Rio Claro, no interior paulista; Manaus; e Joinville, em  Santa Catarina, onde fica a sede da empresa.

O primeiro passo para a substituição da matriz energética foi dado em 2008, quando a Termotécnica fez algumas tentativas de trocar o óleo derivado do petróleo por gás natural, mas acabou optando pela biomassa. A migração intensificou-se nos últimos dois anos, quando a empresa investiu cerca de 9 milhões de reais no processo. “A estimativa é que o retorno do investimento ocorra em cerca de dois anos”, diz Albano Schmidt, presidente da Termotécnica.

Embora o poder calorífico da biomassa seja inferior ao do combustível fóssil, o custo acaba compensando. Para cada fábrica, a Termotécnica avalia os rejeitos disponíveis na região mais vantajosos para ser queimados. Em Manaus, por exemplo, utiliza os paletes descartados pelas indústrias da Zona Franca; em São José dos Pinhais, a caldeira é alimentada com as sobras das indústrias de móveis; em Petrolina, a empresa está fazendo testes com a fibra de coco, abundante na região. “Damos uma nova utilidade a produtos que seriam descartados e promovemos a economia circular na prática”, afirma Schmidt.

As cinzas provenientes da queima nas caldeiras também são 100% reaproveitadas. Elas são destinadas à fabricação de tijolos e a empresas de compostagem, para a produção de adubos. A estratégia tem ajudado a Termotécnica na meta de zerar o envio de resíduos a aterros industriais em cinco anos.

Em 2018, esse índice era de 52%, e a estimativa é reduzi-lo -para 42% neste ano. Outro desafio é aumentar a reciclagem do isopor. A empresa calcula já ter dado um novo destino a mais de 40 000 toneladas de EPS pós-consumo, um terço de todo o material utilizado no país. “A meta é reciclarmos 100% do EPS que colocamos no mercado”, diz Schmidt. O caminho a percorrer é longo — no ano passado, a Termotécnica recuperou 18% do isopor que produziu.


A HORA E A VEZ DA LOGÍSTICA 4.0

Com o desenvolvimento de um caminhão de entrega mais moderno, A White Martins cria as bases para aumentar a eficiência na distribuição de produtos | Suzana Liskauskas

A White Martins produz gases industriais e hospitalares no Brasil há 107 anos. Para tornar a entrega dos produtos mais segura, ágil e sustentável, a companhia, que é controlada pelo grupo Linde, surgido no ano passado da fusão da alemã Linde com a americana Praxair, aposta no que alguns especialistas chamam de logística 4.0: o uso de tecnologias digitais para tornar mais eficiente a distribuição.

Desde 2017, com o uso de inteligência artificial, internet das coisas, big data e telemetria, a White Martins vem procurando atender os clientes com mais segurança, além de reduzir os custos operacionais e a emissão de gases de efeito estufa.

De agosto de 2018 a agosto deste ano, o custo de distribuição da White Martins decresceu 3%. No mesmo período, a empresa diminuiu em 4% o consumo de diesel em parte de sua frota de 450 veículos, que realiza cerca de 14 500 entregas por mês. Uma das mudanças responsáveis por esses números foi a introdução de um novo modelo de caminhão, desenvolvido pela própria White Martins, o TWM6, que exigiu um investimento de 1 milhão de reais.

Trata-se de um caminhão criogênico — com isolamento térmico para levar gases a temperaturas extremamente baixas —, capaz de transportar até 76% mais do que os veículos convencionais. Com isso, cada caminhão deixar de rodar 588 quilômetros por ano, economizando 2.000 litros de diesel e evitando a emissão de 5,3 toneladas de gases de efeito estufa. Os novos caminhões estão sendo usados na distribuição de gases no Rio de Janeiro, mas a meta até 2020 é utilizar os veículos nas entregas em todo o Brasil.

Os novos veículos são equipados também com dispositivos que monitoram rotas e dados do motorista. Na cabine do caminhão há um sistema que combina inteligência artificial com câmeras de alta precisão para identificar sinais de distração do motorista. “O sistema emite alarme 3 segundos depois de detectar um indício de fadiga ou sonolência no motorista. Com isso, reduzimos 50% do risco de tombamento de carretas”, diz Marcos Guimarães, diretor de logística da White Martins na América do Sul.

Ao todo, a companhia desenvolve, atual-mente, 433 projetos dentro do conceito que chama de “produtividade sustentável”. Nesses projetos, é possível medir os resultados de indicadores como a diminuição das emissões de carbono e do consumo de recursos naturais. “Esse é um conceito que faz parte de nossa estratégia de negócio”, afirma Cristina Fernandes, diretora de talentos e comunicação da White Martins. “O objetivo é inovar sempre para fazer mais com menos.”

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