Gravatas de todas as formas, tamanhos, cores e estampas estão de volta nesta primavera – entre os endinheirados participantes do Metropolitan Opera de Nova York, nas passarelas da Semana de Moda de Paris, nos degraus do Met Gala deste mês, nos tapetes vermelhos de Hollywood e nas roupas do dia do TikTok.

Em um mundo que sem dúvida parece menos formal, o retorno da gravata é uma inesperada reviravolta.

Marcas da moda estão lançando novas linhas e criativas ideias de como usá-la — especialmente fora do uso tradicional da gravata, o local de trabalho — e os números de vendas de maisons históricas dispararam. “Estamos muito felizes por voltar aos números de 2019”, diz Christophe Goineau, diretor criativo de moda masculina em seda da Hermès.

Tendo feito parte da maison francesa de design por 35 anos, Goineau observou grandes mudanças sociais.

“O negócio caiu durante a pandemia”, diz. “Mas podemos ver que algumas pessoas querem voltar ao escritório e outras querem se vestir bem de novo.”

A Hermès, que estreou em 1837 como uma oficina de acessórios equestres, em 1949 introduziu gravatas a pedido de clientes em Cannes que tiveram sua entrada negada no cassino próximo por causa de seu rígido código de vestimenta.

Nas décadas seguintes, ela desenvolveu uma posição-chave nas salas de reuniões e uma forte base de consumidores globais dedicada a suas gravatas de seda, que muitas vezes incorporam vibrantes tons pastéis ou pequenos e caprichosos padrões, graças ao trabalho de designers internos, como Henri d'Origny e Philippe Mouquet.

Goineau observa que o compromisso com a fabricação manual também coloca a maison em uma posição única, já que os consumidores que retornam às gravatas parecem ter melhorado a qualidade em detrimento da quantidade.

E a Hermès não é a única marca que se beneficia de profissionais que estão saindo de um mundo enquadrado pelo Zoom, onde camisas de colarinho eram enfiadas em calças de moletom e cada vez mais requisitados a retornarem ao escritório mais dias na semana.

“Ano a ano, todo o nosso mercado cresceu 20% aqui nos Estados Unidos, em unidades e em dólares”, diz Sam Stanley, vice-presidente para a América do Norte da varejista de roupas Charles Tyrwhitt com suas camisas sociais com preços competitivos.

As vendas de gravatas aumentaram por dois anos consecutivos, embora permaneçam abaixo de 2019. Stanley está confiante de que os volumes de vendas de suas gravatas, cujos preços começam em US$ 49, continuarão a aumentar. (Talvez surpreendentemente, as vendas de lenços de bolso também cresceram por dois anos.)

Embora Stanley diga que acha que o número de pessoas que usam gravata cinco dias por semana diminuiu, ainda há muitos que “usam gravata para reuniões importantes e pessoas que ainda gostam de usar gravata para um evento especial”.

Tanto Stanley quanto Goineau atribuem o ressurgimento a mudanças na forma como o acessório é usado. Conversando com sua equipe de design, Stanley descobriu que é popular há alguns anos manter a lâmina traseira mais fina mais comprida do que a faixa dianteira mais larga.

É uma maneira casual de usar uma gravata como ponto de exclamação de uma roupa fora de ocasiões formais.

E Goineau diz que mesmo no mundo relativamente estável da Hermès — onde a gravata simples mais barata custa US$ 240 — representa um impedimento ao acesso dos mais jovens — antigas restrições que eram quase universalmente aceitas estão agora sendo quebradas.

“Meu pai me ensinou as regras da gravata: nunca se deve usar gravata de bolinhas com camisa listrada ou camisa listrada com gravata listrada”. Estávamos seguindo isso, porque achávamos importante aderir à elegância clássica”, diz.

“Agora tudo mudou. Se quiser, pode-se usar gravatas listradas com camisas listradas. Se quiser usar gravata com camisa polo, pode. A nova geração removeu todas as regras.”

Por trás da abolição dessas regras está a realidade de que muitas pessoas não são mais obrigadas a usar gravatas. “Quando entrei na empresa no final dos anos 80, era impossível para mim imaginar que um dia não usaria gravata. Era algo que todo mundo era obrigado a fazer”, diz Goineau. “Agora é completamente diferente. Se uso gravata é porque quero. Transformou-se de uma obrigação em um prazer.”

As gravatas reapareceram no ano passado em momentos de alta moda e cultura pop — e não apenas em homens como Will Anderson Jr., Lee Pace e os membros do BTS. Elas adornaram os pescoços das mulheres nas passarelas de:

• Alexander McQueen,
• Valentino,
• Christian Dior e outros durante a Semana da Moda de Paris 2023.

E mulheres como:

• Kristen Stewart,
• Pom Klementieff,
• Florence Pugh
• e Lizzy Caplan usaram uma variedade de gravatas para sessões de gala, estreias e depois happy hours durante a temporada de premiações deste ano.

“Introduzimos gravatas de maneira real em 2022 e vimos muito crescimento”, diz Alejandro Rhett, diretor de produtos da marca de moda masculina, Todd Snyder. “Isso foi motivado por um crescimento muito forte em roupas e um retorno ao vestuário adequado que vimos pós-pandemia.” A Todd Snyder está tendo muito sucesso no setor de gravatas de malha, em particular.

“Acho minhas gravatas muito significativas e amo todas elas. Tenho certos gravatas para determinados dias e para determinadas reuniões”, diz Blaine Minton, diretor administrativo e consultor de gestão de fortunas da Merrill, que mora em Delray Beach, Flórida.

Minton compra gravatas quando viaja — muitas vezes, Hermès — e gosta de usar algo de Paris em Miami ou algo de Milão em Palm Beach.

Ele observou, no entanto, que muitas vezes é a única pessoa de gravata em uma sala: “Acho que a gravata infelizmente está perdendo um pouco de seu brilho nas finanças”. Mas ele acrescenta: “Acho que se alguém está de gravata, eles estão lá para fazer negócios, estão ali para fazer sua mágica.”

Esse sentimento é repetido pelo corretor de imóveis Ryan Serhant, fundador da Serhant LLC e estrela da lista de milhões de dólares da Bravo em Nova York. “Um bom terno se torna um ótimo terno com a gravata certa”, diz ele.

“Estou no ramo do luxo, então usar terno e gravata ainda faz sentido no meu mundo.” Serhant também prefere Hermès. “Na minha opinião, elas fazem um nó melhor e têm cores únicas. Eles são o sotaque o pop que eleva o nível.

Chris Gove, fundador e diretor criativo da Percival, no distrito de Hackney, em Londres, diz: “A gravata é um pilar que nunca sai do lugar”. A marca de moda masculina, conhecida por trazer um toque moderno aos tradicionais itens básicos, demonstrou esse poder de influência quando sua gravata de tricô de bolinhas foi usada durante o Campeonato  Europeu de Futebol em 2021 pelo técnico da Inglaterra, Gareth Southgate. As vendas explodiram.

A tradicional marca Alfred Dunhill está procurando conectar sua história britânica a esse movimento da moda: sua coleção AW23 apresenta uma gravata de seda adornada com um motivo micro geométrico muito moderno inspirado no isqueiro Rollagas da Dunhill dos anos 70.

As gravatas refletem os interesses de quem as usa e podem revelar muito sobre uma personalidade. “Às vezes, as pessoas vêm à Hermès e dizem que querem uma gravata clássica, então mostramos uma com estribos ou selas e elas dizem: 'Não, não, não. Aquelas com animaizinhos' ”, diz Goineau. “Para eles, a gravata clássica não é a equestre, mas sim aquela com elementos de fantasia.”

Em virtude da nova liberdade de usar gravatas sem seguir as rígidas regras da alfaiataria, por que os clientes que retornam não gostariam de fantasiar um pouco?

Tradução de Anna Maria Dalle Luche