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Tempo bom para plantar eficiência com computação em nuvem

Por que a computação em nuvem liberta as pequenas e médias empresas de uma série de investimentos que só as grandes companhias podiam fazer

Alexandrine Brami, da Ifesp (Daniela Toviansky/EXAME PME)
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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h48.

Em agosto de 2009, a empreendedora Alexandrine Brami, de 33 anos, sócia da escola paulista de idiomas Ifesp, viu-se diante de uma situação difícil. Em meio à preparação para as aulas do segundo semestre, uma série de planilhas de Excel com informações dos alunos — como dados de matrícula, comprovantes de pagamento e pedidos de emissão de diploma — simplesmente desapareceu. "Um funcionário se atrapalhou ao salvar os arquivos e acabou perdendo tudo", diz Alexandrine. "O problema só não foi maior porque chamei um técnico que conseguiu recuperar uma parte dos dados."

O susto fez Alexandrine pensar como poderia armazenar as informações dos alunos sem correr o risco de perder tudo, mesmo que alguém apagasse os arquivos sem querer, um incêndio queimasse o computador ou a rede da escola fosse atacada por hackers. No final do ano passado, ela decidiu reunir todos os dados dos 300 alunos da Ifesp — comprovantes financeiros, cadastro e histórico escolar — num lugar que Alexandrine não sabe muito bem onde fica. "Minha única certeza é que os dados estão bem mais seguros do que antes", diz ela. "Pelo que sei, está tudo armazenado na nuvem."

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Nuvem, no caso, é o nome com que o pessoal de tecnologia batizou uma rede formada por centenas de milhares de computadores espalhados pelo mundo. As máquinas armazenam informações que podem ser acessadas de qualquer lugar pela internet, como faz Alexandrine com as fichas de seus alunos — ela paga uma mensalidade a uma empresa responsável por cuidar da hospedagem, incluindo um serviço de backup automático de todos os dados da empresa para o caso de alguém se enganar de novo ao salvar um arquivo. Para as pequenas e médias empresas, a nuvem tem trazido uma enxurrada de novas ferramentas e ganhos de eficiência. Essa espécie de supercomputador remoto — que está em todo canto e, ao mesmo tempo, em nenhum lugar em particular— permite a muitos empreendedores ter acesso a programas complexos que antes não cabiam no orçamento.

Alexandrine, por exemplo, paga uma mensalidade para ter acesso a um software de gestão por uma fração do custo que teria se fosse preciso comprar o programa e investir na infraestrutura necessária para mantê-lo na empresa. "Não usávamos um programa desses antes porque sairia muito caro", afirma ela. "Eu precisaria pagar pelo software, guardar dinheiro para renovar a licença no ano seguinte, contratar profissionais de TI e comprar equipamentos caros." Só em computadores para rodar o software de gestão, o investimento necessário seria
de 20 000 reais. "Já dá para criar uma empresa sem gastar nada com infraestrutura de TI", diz Cezar Taurion, gerente de novos negócios da IBM e autor do livro Cloud Computing — Transformando o Mundo da Tecnologia da Informação.

Na prática, a computação em nuvem permite aos donos de pequenas e médias empresas gastar menos tempo, dinheiro e os esforços do pessoal numa área que na maioria das vezes não está diretamente ligada à atividade principal do negócio. De acordo com especialistas ouvidos por Exame PME, uma pequena ou média empresa pode enxugar de 30% a 80% de seus gastos com TI ao substituir a infraestrutura própria pela nuvem. "Sem ter de manter uma estrutura de tecnologia interna, as empresas deslocam o pessoal que fazia manutenção de
equipamentos para áreas que podem trazer mais resultados para o negócio", diz Rodrigo Missiaggia, arquiteto de soluções da Red Hat, que oferece esse serviço.

Outra vantagem da computação em nuvem para pequenos e médios negócios é a flexibilidade para acompanhar o crescimento da empresa. Conforme mais clientes chegam e novos contratos são fechados, é natural que o volume e a complexidade das informações a gerenciar aumentem na mesma proporção. "A nuvem se molda ao ritmo de expansão do negócio", diz Hugo Zanon, diretor da Terremark no Brasil, especializada em infraestrutura de TI. "Se há um aumento repentino na demanda, é possível liberar mais capacidade de armazenamento
em poucas horas."

Empreendedores à frente de negócios de tecnologia, como fabricantes de softwares, estão usando a computação em nuvem para reduzir custos e acelerar o crescimento. É o caso do gaúcho Alexandre Costa, de 43 anos, dono da Perseus, que desenvolve sistemas de gestão para escolas e faculdades.Até recentemente, seus clientes pagavam à Perseus uma mensalidade para usar os programas a que tinham acesso pela internet e que ficavam instalados em servidores que Costa alugava e mantinha na sede da empresa, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Desde o início deste ano, Costa passou a rodar os programas dos clientes em servidores que estão na nuvem
devolveu as máquinas que tinha alugado. "Passei a pagar 80% menos para armazenar os programas", diz ele. Com a redução nos custos, a Perseus passou a oferecer softwares a mensalidades mais baratas — o que aumentou a carteira de clientes em 30% nos últimos seis meses. "Os negócios nunca foram tão promissores", diz Costa.

O potencial para diminuir os gastos das empresas com tecnologia tem impulsionado o mercado que se formou a partir da nuvem. Só neste ano, de acordo com estimativas da consultoria Gartner, as empresas que fornecem softwares e infraestrutura como serviço devem faturar 68 bilhões de dólares em todo o mundo — 16% mais do que em 2009. A responsável por popularizar essa tecnologia foi a Amazon, dona do maior site de comércio eletrônico do mundo. A Amazon tinha de manter vários servidores para aguentar os picos de vendas em datas especiais, como o Natal. Durante boa parte do ano, no entanto, esses equipamentos ficavam com a capacidade ociosa. Em 2006, a Amazon
passou a oferecer esse espaço a outras empresas. A oportunidade de aumentar as receitas com a locação de espaços desocupados em servidores também chamou a atenção de outras grandes empresas de tecnologia, como Microsoft, IBM, HP e AT&T.

As perspectivas também parecem boas para esse mercado no Brasil. "À medida que a infraestrutura de banda larga melhora, torna-se possível acessar aplicações pesadas em lugares cada vez mais distantes dos grandes centros", diz Eduardo Campos Oliveira, gerente de marketing e negócios da Microsoft no Brasil. Há empresas brasileiras que já estão se preparando para aproveitar essa oportunidade. No ano passado, o UOL anunciou que abriria a capacidade dos 10.000 servidores de sua divisão de hospedagem, o UOL Host, para outras empresas. A infraestrutura como serviço já responde por 30% das receitas da unidade. A participação deve aumentar para 50% nos próximos dois anos. "A maior parte desse crescimento deve vir de pequenas e médias empresas", diz o diretor do UOL Host, Vinícius Pessin.

Um bom exemplo de como esse mercado está se desenvolvendo é o da paulista Locaweb. A empresa vem investindo para crescer com a locação de espaços na nuvem. No ano passado, a Locaweb faturou 130 milhões de reais, 30% mais do que em 2008. "Os negócios com a computação em nuvem são fundamentais na nossa estratégia de expansão", diz Gilberto Mautner, sócio da empresa. "Devemos quintuplicar nossa capacidade de armazenamento nos próximos sete anos."

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