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Startup de veículos elétricos quer acabar com a linha de montagem. Como?

A Arrival, startup financiada pela UPS e que desenvolve vans e ônibus elétricos, diz que descobriu uma maneira mais barata de construir veículos em pequenas fábricas

Funcionários na linha de produção do centro de pesquisa e desenvolvimento da Arrival: startup quer mudar a maneira como veículos são fabricados (Andrew Testa/The New York Times)
MC

Maria Clara Dias

Publicado em 4 de maio de 2021 às 12h46.

Última atualização em 6 de maio de 2021 às 10h18.

Uma pequena montadora de veículos elétricos financiada pela empresa de entregas UPS quer substituir as linhas de montagem que as montadoras usam há mais de um século por algo radicalmente diferente: pequenas fábricas que empregam algumas centenas de trabalhadores.

A empresa, Arrival, está criando "microfábricas" altamente automatizadas, nas quais suas vans e seus ônibus de entrega serão montados por robôs multitarefa, rompendo com a abordagem pioneira de Henry Ford, usada pela maioria das montadoras do mundo. As fábricas produziriam dezenas de milhares de veículos por ano. Isso é muito menos que a capacidade das montadoras de automóveis tradicionais, que contam com mais de 2.000 funcionários e normalmente produzem centenas de milhares de veículos por ano.

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De acordo com a Arrival, a vantagem é que suas microfábricas custarão cerca de 50 milhões de dólares, em vez do valor superior a 1 bilhão necessário para construir uma montadora tradicional. A empresa, que tem sede em Londres e está instalando fábricas na Inglaterra e nos Estados Unidos, afirma que esse método deve produzir vans muito mais baratas que outros modelos elétricos e mais até que os veículos comuns, atualmente movidos a diesel. "A abordagem da linha de montagem exige um investimento de capital muito grande e você tem de chegar a níveis de produção muito altos para ter alguma margem. A microfábrica nos permite montar veículos lucrativos em qualquer quantidade", disse Avinash Rugoobur, presidente da Arrival e ex-executivo da General Motors.

 

A empresa espera que seus veículos elétricos representem uma mudança no mercado sonolento das vans de entrega. Esses veículos são adequados para eletrificação porque viajam determinado número de quilômetros por dia e podem ser carregados durante a noite. A Arrival já conquistou a UPS, que tem menos de 1% de participação na empresa e planeja comprar 10.000 vans da Arrival nos próximos anos.

Nas fábricas da Arrival, uma plataforma motorizada transportará veículos inacabados entre seis grupos de robôs diferentes, com diferentes componentes adicionados em cada parada. A empresa também está substituindo a maioria das peças de aço dos veículos por componentes feitos de compósitos avançados, uma mistura de polipropileno, um polímero usado para fazer plásticos, e fibra de vidro. As partes são unidas por adesivos estruturais e não por soldas de metal.

O uso de materiais compósitos, que podem ser produzidos em qualquer cor, eliminaria três das partes mais caras da linha de montagem de automóveis — a oficina de pintura, as prensas gigantes que fazem paralamas e outras peças, e os robôs que soldam peças de metal para formar os componentes maiores da parte inferior da carroceria. Cada uma dessas partes da montadora geralmente custa várias centenas de milhões de dólares.

A Arrival, cujas ações começaram a ser negociadas na Nasdaq em março, espera começar a produzir ônibus até o fim deste ano, mas suas ideias ainda não foram testadas. A automatização das fábricas de automóveis é notoriamente complicada. A Tesla culpou o uso excessivo de robôs pelo início problemático da linha de produção do Modelo 3, em 2018.

Os robôs das montadoras geralmente são programados para cumprir uma ou duas tarefas. A Arrival conta com os robôs para lidar com diversos trabalhos.

"Para aplicações de alto volume, isso não parece exequível. A automação é ótima para coisas repetitivas e precisas. Mas, se eles estão falando de um volume muito baixo, talvez seja viável", afirmou Kristin Dziczek, vice-presidente sênior de pesquisa do Centro de Pesquisa Automotiva em Ann Arbor, no Michigan.

A UPS tem trabalhado com a Arrival quase desde a fundação da startup, informou Luke Wake, vice-presidente de manutenção e engenharia do grupo automotivo corporativo da UPS.

O gigante do transporte de encomendas ajudou a projetar uma van de entrega que oferece maior visibilidade para os motoristas do que um caminhão tradicional e que é fácil de carregar e descarregar. Wake disse que monitorou de perto o progresso da Arrival e que visitou a empresa duas ou três vezes por mês, em média. Embora reconheça que a abordagem inovadora da Arrival para a produção de caminhões representa um risco, Wake observou que isso poderia acelerar o uso de veículos elétricos na entrega de pacotes: "As coisas podem mudar rapidamente quando tudo está no lugar certo. Investimos na Arrival e trabalhamos em conjunto para desenvolver o veículo."

Globalmente, a UPS opera uma frota de cerca de 120.000 veículos. Cerca de 13.000 deles já utilizam alternativas aos motores a diesel, como baterias. Além da UPS, a BlackRock e as montadoras sul-coreanas Hyundai e Kia têm investido na Arrival.

As empresas de veículos elétricos têm atraído o interesse frenético dos investidores, que esperam encontrar a próxima Tesla, avaliada em mais de 650 bilhões de dólares, mais do que a GM, a Ford Motor, a Toyota Motor e a Volkswagen juntas. O interesse de Wall Street tem estimulado uma série de montadoras a listar suas ações na bolsa de valores, embora muitas delas, incluindo a Arrival, ainda não estejam vendendo veículos, muito menos obtendo lucro.

Muitas startups de veículos elétricos puderam vender suas ações por meio de fusão com sociedades de aquisição de propósito específico, ou Spacs — negócios criados com um monte de dinheiro e uma listagem de ações. Essas fusões permitem que as startups ingressem no mercado de ações sem o escrutínio de uma oferta pública inicial de ações.

A Arrival concluiu a fusão com a Spac em março. Mas ainda está muito longe de transformar sua visão em um negócio viável. A empresa montou alguns protótipos de vans, mas ainda não começou a testá-los nas vias públicas. As ações da empresa começaram a ser negociadas em 25 de março a 22,40 dólares, mas desde então caíram para cerca de 14 dólares.

A Arrival foi fundada em 2015 por Denis Sverdlov, magnata das telecomunicações russo que, por um breve período, foi vice-ministro da imprensa russa e tinha pouca experiência na indústria automotiva. Sverdlov está listado como o executivo-chefe da empresa e controla 76% das ações da Arrival por meio de um fundo de investimento com sede em Luxemburgo. O sucesso da empresa depende em grande parte da viabilidade de suas microfábricas — em Rock Hill, na Carolina do Sul; Charlotte, na Carolina do Norte; e Bicester, na Inglaterra.

Pelo Zoom, Mike Abelson, executivo-chefe da divisão automotiva da Arrival na América do Norte e outro ex-executivo da GM, mostrou recentemente alguns protótipos de robôs de produção na fábrica de vans da Arrival na Inglaterra. "Ficamos muito satisfeitos ao colocar o equipamento para funcionar em nossas simulações. Agora, estamos no processo de comissionamento. Precisamos instalar o equipamento e acertar os ponteiros", concluiu ele.

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