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Sociólogo abre loja de orgânicos com ‘preço justo’ em São Paulo

Negócio tem como proposta trabalhar com uma margem de 35% para garantir bom preço para o consumidor.

Loja no centro vende orgânicos com "preço justo" (Foto/Divulgação)

Loja no centro vende orgânicos com "preço justo" (Foto/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 11 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 11 de agosto de 2017 às 06h00.

São Paulo – Um pé de alface orgânico custa em média R$ 5,99 nos supermercados de São Paulo. Nas feiras especializadas, sai por R$ 5,75. Mas na recém-inaugurada Orgânicos 35%, que fica no centro da cidade, o item custa R$ 2,98 – metade do preço.

Idealizado pelo sociólogo Rafi Boudjikian e pela antropóloga Beth Quintino, o negócio – que fica na Vila Buarque, região central de São Paulo – segue os preceitos do comércio justo e tem os mandamentos deste conceito gravados na parede. Dentre eles, preço justo. Como o próprio nome da loja já diz, a margem ali é de 35%.

“Criamos um modelo espartano, com quadro de funcionário e horário de funcionamento reduzidos, para conseguir manter a margem nesse patamar, bem abaixo do praticado pelos supermercados, por exemplo”, afirma Boudjikian.

O empreendedor já tem 15 anos de experiência no mercado de orgânicos, através de outro negócio: o Site de Orgânicos, que faz delivery de alimentos do tipo. A vontade de ter uma loja física já existe há dez anos e só agora saiu do papel.

“Percebemos que o mercado estava pedindo mais opções para comprar orgânicos com um bom preço”, avalia Quintino, sua sócia.

Preço justo

Mas isso quer dizer que o alimento orgânico não precisa ser tão caro? Na visão dos empreendedores, não. “Os supermercados entendem que o orgânico é um produto premium e aumentam sua margem de lucro em cima dele”, diz Boudjikian.

A proposta da Orgânicos 35% é exatamente oposta. “É uma visão de vida, que vem da nossa formação acadêmica e está ligada à solidariedade e à parceria, tanto com o produtor quanto com o cliente”, afirma Quintino.

Mas não se engane: a loja não é uma ONG e visa, sim, o lucro. Os empreendedores investiram cerca de 100 mil reais para montar o negócio. No primeiro mês de funcionamento, venderam um total de 40 mil reais em produtos, número que tem aumentado em cerca de 20% a cada mês. A expectativa é que a partir dos sexto mês os sócios já consigam extrair um pró-labore “razoável” para si próprios.

Para conseguir se manter com uma margem apertada com esta, a loja funciona apenas das 8h30 às 14h e tem só dois funcionários, além dos próprios sócios. Outro ponto é o cuidado na hora de comprar com os fornecedores. “Não tenho muito espaço para armazenamento e também não posso deixar sobrar, então muitas vezes seleciono cada unidade de um produto. A maçã, por exemplo, estava ruim nos últimos tempos, então comecei a selecionar uma a uma”, conta o empreendedor.

Outra estratégia é optar por não ter alguns itens na loja. “Se compro almeirão e percebo que sempre sobra, opto por não ter”.

Transparência

Outro pilar do comércio justo seguido pelos sócios é a transparência. Nas gôndolas, é possível ver quem foi o produtor que forneceu aquele item. E também há diferença de preço para o comprador se houver mais de um fornecedor com preços diferentes. Na quarta-feira, por exemplo, era possível comprar abobrinha orgânica a R$ 9,88 o quilo na opção a granel, ou a 14,76 o quilo na bandeijinha de isopor.

Há ainda uma tabela de comparação de preços no meio da loja, mostrando quanto custam alguns itens na Orgânicos 35%, no Site de Orgânicos (que é dos mesmos donos, mas tem preços mais altos), nas feririnhas de orgânicos da cidade ou no supermercado.

Para dar conta do modelo, porém, os empreendedores precisam trabalhar e muito. “Acordo às 5 da manhã para receber dos fornedores”, conta Boudjikian. Os produtos da Orgânicos 35% vêm principalmente do interior de São Paulo, Minas Gerais e do Sul do país.

Sucesso de público

A boa notícia é que o modelo tem dado certo. “O número de pessoas que nos procura está crescendo, e o ticket [quanto cada comprador gasta] também. Nosso público é composto principalmente por pessoas que vivem na região, mas temos cerca de 20% que vêm de longe para cá. Gente que vem toda semana do Carrão, de São Bernardo. Isso é muito legal”, conta Boudjikian.

“Com isso vemos como a cidade ainda está carente de lugares que vendam orgânicos com um preço justo”, completa Quintino. O marco deste movimento, segundo os empreendedores foi o surgimento do Instituto Chão, na Vila Madalena, que funciona sem margem de lucro e pede doações de seus clientes para manter o espaço.

Uma surpresa positiva para os empreendedores é ver que os clientes mais idosos têm procurado bastante o espaço. “O público jovem é mais aberto para essas novidades, os mais velhos já têm alguns hábitos. Mas temos visto muitas senhoras por aqui. E ouvimos frases do tipo: ‘melhor comer comida saudável do que gastar em remédios’, o que nos deixa felizes”, comemora Boudjikian.

Com o sucesso dos primeiros meses da loja – mesmo num momento de crise econômica – os empreendedores já consideram abrir outras unidades. A intenção é a que a próxima loja seja maior, com mais espaço para exposição de produtos e armazenamento. Uma coisa, porém, continuará a mesma: margem de lucro de 35%.

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