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Por que o Brasil vive uma avalanche de unicórnios

99, PagSeguro e Nubank: três startups brasileiras passaram a valer um bilhão de dólares nos últimos meses. Qual a razão do movimento – e ele irá continuar?

Startups (Germano Lüders/Exame)

Startups (Germano Lüders/Exame)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 2 de março de 2018 às 09h00.

Última atualização em 21 de março de 2018 às 11h31.

São Paulo – Uma das medidas do sucesso do mercado de tecnologia de um país é o número de startups bilionárias que ele consegue produzir. Nos primeiros anos do Vale do Silício, essas empresas eram tão raras que passaram a ser chamadas de unicórnios. Aos poucos, elas passaram a aparecer às centenas mundo afora: em 2017 haviam 224, segundo o site TechCrunch.

Países como Israel, China, Suécia, Índia e até a Argentina tinham boas histórias de unicórnios para contar. Mas o Brasil, apesar de sediar promissoras empresas de tecnologia, ficava de fora da onda. Até agora.

Em poucos meses, o país ganhou três unicórnios para chamar de seus – 99, PagSeguro e Nubank. A sequência foi surpreendente: 2018 começou com a notícia de que a empresa de mobilidade urbana 99 havia sido adquirida pela agressiva gigante chinesa Didi Chuxing por supostos 960 milhões de dólares. No final de janeiro, o PagSeguro – spin-off do portal UOL – foi para o mercado de capitais e captou 2,6 bilhões de dólares em sua estreia na bolsa de Nova York. Agora foi a vez do Nubank, que anunciou ter-se tornado um unicórnio após um novo aporte série E.

A valorização desses negócios não é apenas uma coincidência. Segundo especialistas em startups ouvidos por EXAME, o surgimento de tantos unicórnios ao mesmo tempo possui duas razões claras – e pode apontar os próximos passos para o ecossistema de startups no Brasil.

Startups e estado do mercado

A primeira grande razão para tantos negócios inovadores brasileiros terem alcançado relevância financeira global foi o amadurecimento das próprias empresas.

“Essas três empresas [99, PagSeguro e Nubank] estão em patamares semelhantes: elas começaram há alguns anos, atravessaram a crise econômica e provaram a sua consistência no mercado”, afirma Alan Leite, CEO da aceleradora Startup Farm.

Flavio Pripas, diretor do espaço de coworking Cubo Itaú, também destaca o mérito individual de cada um dos novos unicórnios, que exploraram dores de mercado cruciais.

“A 99 é uma empresa que aproveitou a relevância do mercado de transporte de pessoas no Brasil, algo percebido por players internacionais também, como o Uber. O Nubank também está aproveitando um mercado consumidor enorme, que procura serviços financeiros desburocratizados. Já o PagSeguro considero que foi uma história construído ao longo de mais tempo, em processo de amadurecimento.”

Recuperação econômica e atração de investidores

Uma outra razão para o anúncio de tantos unicórnios em poucos meses é o otimismo conjuntural dos investidores estrangeiros, com base na melhora da situação econômica brasileira.

“Eu acompanho o mercado desde 2008 e, entre 2010 e 2013, todos os olhos se voltaram ao Brasil como gerador potencial de negócios – incluindo aí sua indicação como sede da Copa do Mundo de 2014”, afirma Pripas.

A crise econômica afetou o interesse dos investidores, mas não impediu que os empreendedores nacionais continuassem a desenvolver negócios inovadores e enxergassem “um país continental, com uma população consumidora maior do que a de muitos países desenvolvidos”, diz o diretor do Cubo Itaú.

Os investimentos por parte de grandes empresas e investidores ficaram presos durante três anos – e essa represa se rompeu no último trimestre de 2017. “Muitas empresas fecharam mais negócio nesse período do que no resto de 2017 ou em 2016 inteiro.”

Esses investimentos são essenciais para a avalanche de unicórnios. Diferentemente da leva anterior de empresas tecnológicas brasileiras, como TOTVS e UOL, as startups brasileiras operam em um modelo muito baseado em escalabilidade por meio de investidores externos, afirma Leite. “Vemos indicadores econômicos mais controlados e com perspectiva de melhora. Empresas e fundos investidores operam analisando o mercado, e tal conjuntura atraiu mais capital para as rodadas que vimos neste ano.”

A avalanche irá durar?

A melhora do ambiente econômico e de negócios significa que outros aportes de fundos e iniciativas de expansão das startups surgirão nos próximos meses – mas o ritmo não será mais de avalanche, afirmam os especialistas.

Mesmo assim, Pripas acredita que uma definição política pró-mercado nas eleições de outubro deste ano pode gerar um novo salto de qualidade nas startups brasileiras. “Estamos construindo a base agora. O investidor de risco aporta em uma perspectiva e realiza no fato, então já vemos investimentos antes do resultado eleitoral. O mercado de investimentos aposta nesse potencial de crescimento.”

Quais serão os próximos unicórnios? A grande aposta está na gigante Movile, dona de apps como iFood e PlayKids. “A Movile tem que ser o próximo unicórnio. Ela está quase lá”, diz o diretor do Cubo Itaú. Já o CEO da Startup Farm acrescenta que vale ficar de olho em fintechs como o Banco Inter, a Ebanx e a Stone Pagamentos.

Para ficar na analogia mitológica dos unicórnios, pode-se dizer que o mercado brasileiro de tecnologia vive um momento dos sonhos.

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