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Criadora de conteúdo faz marca de roupa e fatura R$ 2,2 mi em um ano

Lela Brandão, de 27 anos, criou marca de roupas durante a pandemia. Conheça sua trajetória

Em entrevista à EXAME, Lela Brandão compartilha aprendizados e desafios como empreendedora (Lela brandão Co./Divulgação)

Em entrevista à EXAME, Lela Brandão compartilha aprendizados e desafios como empreendedora (Lela brandão Co./Divulgação)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 22 de setembro de 2021 às 09h01.

Última atualização em 22 de setembro de 2021 às 12h42.

Um ano depois de lançar sua marca de roupas, Lela Brandão, de 27 anos, comemora resultados acima do esperado: mais de 20 mil peças vendidas e um faturamento de 2,2 milhões. Em entrevista à EXAME, a empreendedora fala sobre o início de sua carreira como autônoma, a criação da própria marca de roupas durante a pandemia, além de compartilhar desafios e novidades do e-commerce e dar dicas para quem quer começar a empreender.

"Todo mês a gente é surpreendido pelo número de pedidos. É muito incrível ver a marca crescendo tão rápido. As projeções são superadas desde o primeiro dia. Na primeira coleção, lançamos um estoque para durar de setembro até dezembro, e esgotou em menos de 24h. É uma verdadeira loucura", disse Lela Brandão.

A carreira dela na internet começou há mais de sete anos, como artista. Durante a faculdade de Arquitetura, Lela começou a fazer pinturas em parede — anos depois, criou um curso online sobre o tema. Ela começou desenhando para amigos e familiares, e após criar um portfólio robusto, usou as redes sociais para conseguir seus primeiros clientes. A procura pelas obras aumentou e ela percebeu que era possível se sustentar empreendendo na internet.

"Quando percebi que estava ganhando mais dinheiro e era mais feliz com o trabalho que estava fazendo nas horas livres, percebi que era hora de ter coragem e criar meu próprio caminho", contou.

Lela se manteve financeiramente por meio da arte em parede por quatro anos e conquistou todos os seus clientes nas redes sociais. Ela já fez mais de 400 pinturas em parede e trabalhou para grandes marcas como Amazon, Natura e Guaraná Antarctica.

(Lela Brandão/Divulgação)

Atualmente, é dona da marca de roupas Lela Brandão Co., produz conteúdos para o Instagram e o Youtube, onde soma mais de 330 mil seguidores, e tem um curso de Arte em Parede, que está na segunda turma.

"Como pintura em parede é um negócio com alto potencial lucrativo, eu percebi que muita gente podia se beneficiar do que eu aprendi me ferrando em mais de sete anos de carreira. Não tinha ninguém ensinando na prática como fazer arte em parede e como empreender com isso", explicou. 

Trajetória

Antes de criar a própria marca, Lela teve uma loja online em parceria com a Superhaulis, empresa de estamparia e confecção. Viktor Murer, namorado e sócio na Lela Brandão Co., junto com outros dois amigos, cuidavam da logística e da produção. Eram comercializados prints, itens de papelarias e camisetas estampadas, que vendiam muito bem.

"Ali eu entendi algo muito importante: as pessoas querem se vestir daquilo que elas acreditam. Esse foi o ponto chave da criação da minha marca", afirmou.

Muitos seguidores se interessaram pela forma como ela se vestia. A combinação entre estilo e conforto chamava atenção, apesar das dificuldades em encontrar peças assim em lojas de departamento.

Por que então não criar uma marca que reúne as duas coisas? O namorado e sócio, Viktor Murer, apoiou a ideia e já tinha experiência com confecção, enquanto Lela tinha o domínio das redes sociais e do marketing. Foi assim que em maio de 2020 começaram a elaborar a marca Lela Brandão Co., que foi lançada cinco meses depois.

“Empreender em qualquer setor no Brasil é e está muito complicado”, afirma Lela. Na pandemia, ela percebeu um aumento atípico nos valores das matérias primas e os prazos de produção e entrega foram estendidos, o que deixou as peças mais caras.

“É muito difícil o cliente compreender isso quando compara preços, por exemplo, com o mercado fast fashion. Na nossa empresa alguns valores inegociáveis são a remuneração justa dos nossos profissionais em todas as etapas e a qualidade dos nossos produtos. Nosso desafio é comunicar isso para os nossos clientes e manter nossos preços finais o mais acessíveis dentro do possível”, completou.

Assim como Lela, muitas pessoas criaram seu negócio na internet durante a pandemia. No Brasil, o varejo digital faturou R$126,3 bilhões em 2020, de acordo com um levantamento elaborado pela Neotrust, empresa de inteligência de mercado focada em e-commerce. O setor de Moda e Acessórios corresponde a quase 20% dos pedidos feitos no ano, seguido pelo segmento de Beleza, Perfumaria e Saúde, que representa 14,4% do total. Na divisão por gênero, as mulheres foram responsáveis por 57,3% dos pedidos de 2020.

“A ideia de criar a marca surgiu durante a pandemia, e exigiu muita coragem por ser uma proposta nova dentro de um cenário de crise econômica e política. Mudamos a data de lançamento da marca mais de três vezes, mas tudo aconteceu exatamente no tempo que precisava acontecer”, contou sobre a preparação do lançamento da marca.

Conforto e segurança

“Usar roupas confortáveis salvou a minha vida”. Na adolescência, Lela enfrentou distúrbios alimentares e dismorfia corporal, transtorno no qual a pessoa desenvolve um foco obsessivo em uma característica física considerada um “defeito”. Nessa época, ela usava roupas menores e apertadas como estímulo para perder peso. Hoje, ela defende o uso de roupas confortáveis, que se adaptem e respeitem as mudanças naturais dos corpos. “Na Lela Brandão Co. a gente acredita, essencialmente, em duas coisas: em roupas adaptáveis, e que uma mulher confortável em si é uma revolução”.

O lançamento da marca em setembro do ano passado atingiu em cheio o público: mais de 700 pedidos foram feitos no primeiro dia, superando em mais de dez vezes as vendas da antiga loja. O investimento inicial foi recuperado rapidamente e a empreendedora continua reinvestindo na empresa para conseguir suprir a demanda.

(Lela Brandão Co./Divulgação)

“Nosso maior desafio atualmente é suprir a demanda e sustentar o crescimento da empresa. Neste ano lançamos uma coleção por mês com quatro peças em média e apenas a décima não esgotou em menos de 24h. Trabalhamos muito para subir coleções em quantidades coerentes com o nosso público e reinvestimos 100% do lucro para não travar nosso crescimento”, contou.

Neste mês, a empresa completa um ano com 11 coleções, mais de 20 mil peças vendidas e um faturamento de 2,2 milhões, que cresceu 305% neste ano em comparação ao último quadrimestre de 2020.

Rotina

Para gerir tantos projetos ao mesmo tempo foi necessário crescer e organizar (ainda mais) a equipe. Atualmente, 10 pessoas trabalham na marca.

Três vezes por semana, Lela vai para o escritório da marca, onde faz reuniões, grava e fotografa conteúdo, aprova e cria peças, participando da escolha de matéria prima até das estratégias de lançamento. Nos outros dois dias, ela se dedica à produção de conteúdo para suas redes sociais e publicidades e conta com apoio de uma assessoria, que negocia e alinha os projetos.

“A parte mais desafiadora é ter energia e tempo para fazer tudo. E também manter uma boa comunicação com todas as pessoas que trabalham comigo para organizar todas as demandas, datas e prazos. Aprendo coisas importantes todos os dias na marca, mas as principais foram: delegar tarefas e não deixar que o medo ou insegurança me imobilizem. Essas são as partes mais desafiadoras”, explicou.

Spoilers

Há seis meses, a empreendedora elabora a primeira coleção de biquínis da marca, que será lançada em outubro. Depois de realizar uma pesquisa sobre a relação das clientes com as peças de moda praia, a Lela Brandão Co. vai lançar quatro peças, sendo duas partes de cima e duas partes debaixo, todas dupla face — ou seja, dois biquínis em um. “É uma coleção muito disruptiva, que vai na contramão do que a maioria das marcas elaboram para moda praia. Fizemos dezenas de provas das peças em diferentes corpos para garantir o conforto e caimento perfeito de todas”, disse.

Em 2022, o plano é expandir as vendas do e-commerce para fora do Brasil. O principal país no radar é Portugal, por conta da forte demanda já identificada pela empreendedora.

Como começar a empreender?

Para as mulheres que sonham em ter o próprio negócio, Lela acredita que ter coragem é importante para conseguir expor seu trabalho nas redes sociais. “Ultrapassar a barreira da vergonha é essencial para empreender online. não tenha vergonha de falar sobre o seu trabalho. Se você não mostrar o que você faz, as pessoas não têm como comprar ou te contratar. Não tenha medo, as pessoas certas vão te apoiar, te ajudar e até comprar de você”.

Além disso, a jovem empreendedora alerta sobre a segurança financeira. “Não jogue tudo para o alto para começar a empreender. Eu levei meu trabalho com arte em paralelo com meu estágio por alguns anos até ter segurança de que eu conseguiria me manter com a renda que a arte me trazia. É preciso ter paciência e confiança na mesma medida”. 

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