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Jovens trocam 90 horas semanais em Wall Street por startups

Alguns dos mais brilhantes jovens banqueiros de Wall Street estão abandonando seus empregos prestigiosos para investir em suas próprias empresas

Wall Street: número de empregados com idade entre 25 e 34 anos na região metropolitana de Nova York caiu para 109.187 no segundo trimestre de 2013 (REUTERS/Brendan McDermid)
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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2014 às 16h35.

Washington - Era uma sexta-feira no outono de 2004 e Umber Ahmad havia sido convidada para ler um poema no casamento de um de seus amigos mais próximos.

Ela planejava pegar um voo às 7 da noite de Nova York a Toronto quando um vice-presidente do Morgan Stanley lhe telefonou. O cliente de um grande negócio de fusão precisava do trabalho concluído no fim de semana. Especialista em fusões e aquisições, Ahmad não tinha escolha.

Ela cancelou o voo e começou a revisar sua análise do negócio, conforme reportará a Bloomberg Markets em sua edição de junho.

O casamento perdido foi apenas um entre dezenas de jantares, reuniões familiares e outros eventos aos quais Ahmad não compareceu por trabalhar 70 a 80 horas por semana como jovem associada do Morgan Stanley e, depois, como vice-presidente do Goldman Sachs Group.

Ahmad, nascida em Michigan, filha de um médico paquistanês que dava aulas na Escola de Medicina de Harvard, compara as longas horas e as noites em claro com o serviço militar.

“Os militares te mostram que a privação do sono é uma forma de tortura”, diz ela. “Não poder ter um sono regular é um prejuízo para a sua vida, para a sua saúde”.

Sua vida girava em torno de seu emprego, diz ela. Ela namorou outro banqueiro . Muitos de seus amigos eram -- e ainda são -- banqueiros, porque eles entendiam os cancelamentos de último minuto e os distúrbios nos planos das férias.

“Você sempre fica próximo das pessoas com as quais você foi à guerra”, diz ela. “É uma grande miséria que eles podem entender”.

Ahmad diz que amava seu emprego, exaustivo como era. “Era emocionante, era como beber de uma mangueira de combate a incêndios todo dia”, diz ela.

Alívio do estresse

Ela deixou o Goldman em 2007 para começar sua própria empresa de investimento. Ela não se esqueceu que em suas raras horas de lazer trabalhando para bancos, ela costumava cozinhar para ajudar a aliviar o estresse.

E então, em 2013, Ahmad fundou a Mah-Ze-Dahr Bakery, uma empresa de panificação com sede em Nova York, com o famoso chef Tom Colicchio. Ela é, também, diretora-gerente da empresa de investimentos de Nova York Specialized Capital Management Advisory.

Alguns dos melhores e mais brilhantes jovens banqueiros de investimento de Wall Street estão abandonando seus empregos prestigiosos e altos salários em grandes instituições financeiras.

Muitos estão criando suas próprias empresas, especialmente em tecnologia.

Embora não existam estatísticas precisas sobre a tendência, dados do Escritório do Censo dos EUA mostram que o número de empregados com idade entre 25 e 34 anos na região metropolitana de Nova York das áreas de finanças e seguros caiu para 109.187 no segundo trimestre de 2013, 19 por cento menos que no segundo trimestre de 2007.

Prestígio e riqueza

Renunciar à vida pessoal há muito é considerado uma troca justa pelo prestígio e riqueza que se pode conseguir nos bancos de investimentos e nos negócios.

A concorrência continua intensa pelos cobiçados programas de treinamento de dois anos dos bancos, que pagam aos formados na universidade e com MBAs US$ 100.000 a US$ 300.000 ao ano.

O fato de esses jovens talentosos estarem questionando essas trocas não surpreende Patrick Curtis, que trabalhou durante dois anos como analista na Rothschild, empresa especializada em investimentos bancários, uma década atrás.


“Definitivamente, o dinheiro não vale a pena”, diz Curtis, 34, que agora administra um site de conselhos de carreira e networking chamado WallStreetOasis.com.

“Você está trabalhando 90 horas por semana em média. Isso pode chegar a 120 quando a coisa está realmente ruim. Vale a pena? Não”.

Estudantes abandonam

Nas universidades de elite hoje, menos candidatos de MBA e finanças estão dispostos a considerar uma vida de casamentos perdidos, romances fracassados e negociações que atravessam a noite.

A porcentagem de formados na Escola de Negócios de Harvard que ingressa nos bancos de investimento, em vendas ou negócios financeiros caiu de 12 por cento em 2006 para 5 por cento no ano passado, enquanto o grupo que optou pelo setor de tecnologia quase triplicou para 18 por cento no mesmo período.

Hamilton Colwell começou como banqueiro júnior no setor de câmbio estruturado do JPMorgan, aos 27 anos. Sua especialidade era ajudar os clientes a gerenciar riscos por meio de derivativos de taxas de juros.

Havia uma alta demanda por suas habilidades tanto antes quanto durante a crise. Em 2008 e no começo de 2009, Colwell muitas vezes trabalhava dia e noite, diz ele, e voltava para casa apenas para tomar banho e trocar de roupa.

“Ao lidar com amigos e família, eu aprendi rapidamente a não fazer promessas que eu não podia cumprir”, diz Colwell. Ele tinha uma namorada. “Fins de semana fora e jantares com ela eram sempre sacrificados”, diz ele.

“Isso rapidamente se tornou normal”. Os dois acabaram terminando.

Após o colapso da Lehman Brothers Holdings, a quantidade de trabalho fez com que Colwell, hoje com 36 anos, percebesse que não podia permanecer no setor bancário.

Mesmo depois que os mercados se acalmaram, ele ainda trabalhava 13 horas por dia durante a semana e muitas vezes aos fins de semana. Ele diz que por um tempo essa situação foi revigorante. Essa sensação desapareceu.

‘Vi uma luz’

“Eu vi uma luz e me dei conta de que precisava fazer algo mais significativo”, diz ele.

Após deixar o JPMorgan, em 2010, Colwell usou o dinheiro que ganhou e nunca teve tempo de gastar para criar uma empresa chamada Healthy Mom LLC, que produz o Maia Yogurt.

Com interesse em alimentos em seus escassos tempos livres, ele preparou o primeiro lote no fogão de seu apartamento em Manhattan depois que sua prima apostou que ele não conseguiria preparar um iogurte ao mesmo tempo saboroso e bom para ela durante sua gravidez.

A empresa fabrica seus produtos em uma usina de lácteos em Harrisburg, Pensilvânia.

Agora, ela vende 100.000 copos por semana do iogurte com pouco açúcar e gordura enriquecido com probióticos para supermercados como Whole Foods Market, Safeway, Giant Food Stores LLC e Stop Shop Supermarket.

Colwell diz que o calendário extenuante no JPMorgan o ajudou a se preparar para a vida como empreendedor.

“Meu trabalho é muito, muito mais difícil agora”, diz Colwell, cuja empresa de iogurtes usa apenas leite de origem local de vacas alimentadas com capim na zona rural da Pensilvânia.

Contudo, há uma grande diferença entre ser o primeiro funcionário de uma nova empresa e ser apenas mais um no exército de 250.000 do JPMorgan, diz ele.

Mesmo sendo seu emprego em finanças tão castigador, Ahmad, a banqueira que virou panificadora, não se arrepende.

“Nós efetivamente escolhemos ser banqueiros, nós efetivamente escolhemos viver aquele estilo de vida”, diz ela. “Eu não poderia ter aprendido o que aprendi em nenhum outro emprego. É uma educação acelerada”.

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Washington - Era uma sexta-feira no outono de 2004 e Umber Ahmad havia sido convidada para ler um poema no casamento de um de seus amigos mais próximos.

Ela planejava pegar um voo às 7 da noite de Nova York a Toronto quando um vice-presidente do Morgan Stanley lhe telefonou. O cliente de um grande negócio de fusão precisava do trabalho concluído no fim de semana. Especialista em fusões e aquisições, Ahmad não tinha escolha.

Ela cancelou o voo e começou a revisar sua análise do negócio, conforme reportará a Bloomberg Markets em sua edição de junho.

O casamento perdido foi apenas um entre dezenas de jantares, reuniões familiares e outros eventos aos quais Ahmad não compareceu por trabalhar 70 a 80 horas por semana como jovem associada do Morgan Stanley e, depois, como vice-presidente do Goldman Sachs Group.

Ahmad, nascida em Michigan, filha de um médico paquistanês que dava aulas na Escola de Medicina de Harvard, compara as longas horas e as noites em claro com o serviço militar.

“Os militares te mostram que a privação do sono é uma forma de tortura”, diz ela. “Não poder ter um sono regular é um prejuízo para a sua vida, para a sua saúde”.

Sua vida girava em torno de seu emprego, diz ela. Ela namorou outro banqueiro . Muitos de seus amigos eram -- e ainda são -- banqueiros, porque eles entendiam os cancelamentos de último minuto e os distúrbios nos planos das férias.

“Você sempre fica próximo das pessoas com as quais você foi à guerra”, diz ela. “É uma grande miséria que eles podem entender”.

Ahmad diz que amava seu emprego, exaustivo como era. “Era emocionante, era como beber de uma mangueira de combate a incêndios todo dia”, diz ela.

Alívio do estresse

Ela deixou o Goldman em 2007 para começar sua própria empresa de investimento. Ela não se esqueceu que em suas raras horas de lazer trabalhando para bancos, ela costumava cozinhar para ajudar a aliviar o estresse.

E então, em 2013, Ahmad fundou a Mah-Ze-Dahr Bakery, uma empresa de panificação com sede em Nova York, com o famoso chef Tom Colicchio. Ela é, também, diretora-gerente da empresa de investimentos de Nova York Specialized Capital Management Advisory.

Alguns dos melhores e mais brilhantes jovens banqueiros de investimento de Wall Street estão abandonando seus empregos prestigiosos e altos salários em grandes instituições financeiras.

Muitos estão criando suas próprias empresas, especialmente em tecnologia.

Embora não existam estatísticas precisas sobre a tendência, dados do Escritório do Censo dos EUA mostram que o número de empregados com idade entre 25 e 34 anos na região metropolitana de Nova York das áreas de finanças e seguros caiu para 109.187 no segundo trimestre de 2013, 19 por cento menos que no segundo trimestre de 2007.

Prestígio e riqueza

Renunciar à vida pessoal há muito é considerado uma troca justa pelo prestígio e riqueza que se pode conseguir nos bancos de investimentos e nos negócios.

A concorrência continua intensa pelos cobiçados programas de treinamento de dois anos dos bancos, que pagam aos formados na universidade e com MBAs US$ 100.000 a US$ 300.000 ao ano.

O fato de esses jovens talentosos estarem questionando essas trocas não surpreende Patrick Curtis, que trabalhou durante dois anos como analista na Rothschild, empresa especializada em investimentos bancários, uma década atrás.


“Definitivamente, o dinheiro não vale a pena”, diz Curtis, 34, que agora administra um site de conselhos de carreira e networking chamado WallStreetOasis.com.

“Você está trabalhando 90 horas por semana em média. Isso pode chegar a 120 quando a coisa está realmente ruim. Vale a pena? Não”.

Estudantes abandonam

Nas universidades de elite hoje, menos candidatos de MBA e finanças estão dispostos a considerar uma vida de casamentos perdidos, romances fracassados e negociações que atravessam a noite.

A porcentagem de formados na Escola de Negócios de Harvard que ingressa nos bancos de investimento, em vendas ou negócios financeiros caiu de 12 por cento em 2006 para 5 por cento no ano passado, enquanto o grupo que optou pelo setor de tecnologia quase triplicou para 18 por cento no mesmo período.

Hamilton Colwell começou como banqueiro júnior no setor de câmbio estruturado do JPMorgan, aos 27 anos. Sua especialidade era ajudar os clientes a gerenciar riscos por meio de derivativos de taxas de juros.

Havia uma alta demanda por suas habilidades tanto antes quanto durante a crise. Em 2008 e no começo de 2009, Colwell muitas vezes trabalhava dia e noite, diz ele, e voltava para casa apenas para tomar banho e trocar de roupa.

“Ao lidar com amigos e família, eu aprendi rapidamente a não fazer promessas que eu não podia cumprir”, diz Colwell. Ele tinha uma namorada. “Fins de semana fora e jantares com ela eram sempre sacrificados”, diz ele.

“Isso rapidamente se tornou normal”. Os dois acabaram terminando.

Após o colapso da Lehman Brothers Holdings, a quantidade de trabalho fez com que Colwell, hoje com 36 anos, percebesse que não podia permanecer no setor bancário.

Mesmo depois que os mercados se acalmaram, ele ainda trabalhava 13 horas por dia durante a semana e muitas vezes aos fins de semana. Ele diz que por um tempo essa situação foi revigorante. Essa sensação desapareceu.

‘Vi uma luz’

“Eu vi uma luz e me dei conta de que precisava fazer algo mais significativo”, diz ele.

Após deixar o JPMorgan, em 2010, Colwell usou o dinheiro que ganhou e nunca teve tempo de gastar para criar uma empresa chamada Healthy Mom LLC, que produz o Maia Yogurt.

Com interesse em alimentos em seus escassos tempos livres, ele preparou o primeiro lote no fogão de seu apartamento em Manhattan depois que sua prima apostou que ele não conseguiria preparar um iogurte ao mesmo tempo saboroso e bom para ela durante sua gravidez.

A empresa fabrica seus produtos em uma usina de lácteos em Harrisburg, Pensilvânia.

Agora, ela vende 100.000 copos por semana do iogurte com pouco açúcar e gordura enriquecido com probióticos para supermercados como Whole Foods Market, Safeway, Giant Food Stores LLC e Stop Shop Supermarket.

Colwell diz que o calendário extenuante no JPMorgan o ajudou a se preparar para a vida como empreendedor.

“Meu trabalho é muito, muito mais difícil agora”, diz Colwell, cuja empresa de iogurtes usa apenas leite de origem local de vacas alimentadas com capim na zona rural da Pensilvânia.

Contudo, há uma grande diferença entre ser o primeiro funcionário de uma nova empresa e ser apenas mais um no exército de 250.000 do JPMorgan, diz ele.

Mesmo sendo seu emprego em finanças tão castigador, Ahmad, a banqueira que virou panificadora, não se arrepende.

“Nós efetivamente escolhemos ser banqueiros, nós efetivamente escolhemos viver aquele estilo de vida”, diz ela. “Eu não poderia ter aprendido o que aprendi em nenhum outro emprego. É uma educação acelerada”.

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