Inovação coletiva para empreendedores
Como os empreendedores podem incentivar os funcionários a dar ideias que ajudem a criar novos produtos, aumentar as vendas e cortar custos
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h48.
Será que, se dobrar a aba desta caixa de papelão aqui, cabem mais produtos dentro? Mudar os horários de entrega não resolveria o congestionamento de caminhões no pátio? E não dá para fazer uma planilha que organize os horários dos motoboys? Conforme uma pequena
ou média empresa cresce, são os funcionários que passam a conhecer certos detalhes da operação. Por isso, chega um momento em que, sozinho, o empreendedor não consegue encontrar todas as respostas. A questão principal consiste, portanto, em como motivá-los a contribuir com sugestões de melhorias. "Os bons funcionários querem reconhecimento", diz Paulo Sérgio Quartiermeister, diretor do centro de Inovação e Criatividade da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo. "É preciso recompensá-los por boas ideias com algo concreto, como bônus ou outro tipo de prêmio." Veja como funcionam os programas de recompensas em algumas pequenas e médias empresas em que os funcionários colocam a cabeça para funcionar.
Programa de milhagem
Na Leucotron, quem dá boas ideias acumula pontos para trocar por participação no resultado
Há dois anos, os 175 funcionários da mineira Leucotron, que faturou 37 milhões de reais em 2009 fabricando sistemas de PABX, ganharam um espaço na intranet para registrar suas ideias. As sugestões são avaliadas pelos chefes dos departamentos, de acordo com a capacidade de gerar resultados mensuráveis e o custo de tocá-las adiante. Desde então, a Leucotron já juntou mais de 180 sugestões, que resultaram numa redução de 1,5% ao ano nos custos. "No nosso setor há muita competição, e qualquer economia é importante", diz Antônio Cláudio de Oliveira, de 45 anos, diretor da empresa.
Para recompensar as melhores ideias, foi colocada em prática na sede da Leucotron, em Santa Rita do Sapucaí, uma espécie de programa de milhagem. Quem tem uma ideia que, 12 meses depois de implantada, der os resultados previstos, tem direito a um acréscimo de 1,5% no bônus de participação nos lucros daquele ano. Foi o que ocorreu com o empacotador Fabrício Miranda. Até pouco tempo atrás, todos os aparelhos da Leucotron eram transportados em caixas recheadas com uma peça de isopor, para evitar que os equipamentos chacoalhassem durante o transporte. Miranda pensou em substituir o isopor por uma estrutura feita de papelão dobrado, que mantivesse o produto fixo dentro da caixa. "O suporte teve de ser encomendado, mas, mesmo assim, saiu mais barato do que o isopor", diz Oliveira. "Com isso, os custos com embalagem caíram 20%."
Comissão por boas ideias
Na Dreams, o funcionário tem remuneração extra quando sugere um produto que o cliente aceita
No escritório paulistano de design de brindes Dreams, das publicitárias Fernanda Battistella Lancellotti e Marcelle Nunes Comi, ambas de 30 anos, surpreender com boas ideias clientes como Itaú, Bradesco e Avon pode afetar diretamente as receitas. A empresa cobra um valor fixo para desenhar os brindes encomendados. “Mas quando é a Dreams que sugere o tipo de brinde, recebemos até 15% a mais”, diz Fernanda. Com esse modelo de negócio, a Dreams deve faturar 3,3 milhões de reais, 30% mais que em 2009.
Para estimular os funcionários a dar sugestões, as sócias pagam até 20% do valor adicional ao dono da ideia. Recentemente, a gerente Fernanda Telhada sugeriu que fosse proposto ao Itaú um diário de viagens com um espaço especial para guardar cartões de crédito. "O pessoal do Itaú adorou e fez a encomenda", diz a sócia Fernanda. Outra funcionária recompensada por um bom palpite foi a coordenadora comercial Lia Hama. Ela sugeriu uma caixa de chicletes que se transforma num porta-lápis para a Kraft Foods, dona da marca Chiclets. O brinde foi distribuído na última São Paulo Fashion Week. "Todo mundo levava a caixa para casa", diz Fernanda. Ela e Marcelle também querem que os funcionários contribuam para eliminar desperdícios. "Para isso, organizamos brainstormings semanais com todos", diz Fernanda.
Num dos encontros, surgiu a proposta de fazer uma planilha online para organizar solicitações de motoboys. Quem precisar de um motoqueiro deve informar dia, horário e local de entrega. Dessa forma, ficou mais fácil saber quando um só mensageiro pode cumprir várias tarefas. "Nossos gastos com motoboys eram imensos", diz Fernanda. "A organização em planilhas cortou 5% das despesas."
A um passo da promoção
Na Casa Sol, o funcionário que achar um jeito de cortar custos pode receber um novo cargo.
Cada vez que a rede de materiais de construção e móveis Casa Sol, de Marília, no interior de São Paulo, inaugura uma loja, são criadas cerca de 60 vagas. "Sempre procuro promover os funcionários mais talentosos de outras lojas ou da administração para os cargos mais altos das novas unidades", diz o empreendedor Daniel Alonso, de 44 anos, fundador da Casa Sol, que deve faturar 90 milhões de reais neste ano. A melhor forma de um funcionário chamar a atenção de Alonso é dar uma boa ideia. "Leio tudo que eles colocam na caixinha de sugestões", diz. Se uma proposta é aceita e traz bons resultados, o nome de quem a fez é repassado ao departamento de recursos humanos e o funcionário torna-se automaticamente candidato a uma promoção quando surgir uma oportunidade.
Foi assim que Nivaldo Sanches Magdaleno, que era encarregado da expedição na área de logística, foi promovido a gerente do departamento recentemente. Ele descobriu um jeito de resolver o congestionamento de caminhões que se formava diariamente no pátio do centro de distribuição. Até pouco tempo atrás, os fornecedores entregavam mercadorias das 8 às 18 horas. "Muitos chegavam ao mesmo tempo", diz Alonso. Ele até cogitou ampliar o estacionamento, mas a reforma custaria 2 milhões de reais. Magdaleno, então, sugeriu um esquema de atendimento com três turnos, das 6 às 21 horas. Alonso aprovou a proposta. "Os congestionamentos acabaram", diz ele.
Um pedaço da receita é seu
Na Softway, quem cria um novo produto tem direito a receber 15% do valor do faturamento
Neste ano, a paulista Softway, de Campinas, deve faturar 48 milhões de reais. O carrochefe da empresa são os softwares de gestão para departamentos de comércio exterior, que respondem por 95% das vendas. "Queremos apliar nossa atuação para outros setores", diz Israel Geraldi, de 51 anos, fundador da Softway. "Para isso, precisamos de ideias de que tipo de programas oferecer." Há dois anos, para estimular os funcionários a aumentar o portfólio de produtos, Geraldi passou a conceder participação nas vendas de programas que surgirem de uma boa ideia.
Quem emplacar a proposta para desenvolver um novo software tem direito a 15% das vendas do produto, como se fossem royalties. No início de 2011, os gerentes Mário Bavaresco Neto e Ricardo Alexandre Raschiatore e o analista Thiago Romeira Menegão devem começar a receber uma recompensa desse tipo. Em janeiro, a Softway deve lançar um software de gestão de frotas criado por eles. Cada um terá direito a 5% das vendas do programa. Quando o software completar dois anos no mercado, Geraldi fará nova avaliação. "Se o programa deslanchar, poderemos aumentar esse percentual", diz Geraldi.