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Empreendedores por natureza

Em Born Entrepreneurs, Born Leaders, o americano Scott Shane explica como a genética pode influenciar alguém a ser dono do próprio negócio

Richard Branson, do Virgin Group: a genética ajudaria a empreender (Frederick M. Brown/Stringer)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h48.

É mito ou verdade a ideia de que existe o empreendedor nato, aquele indivíduo abençoado pela genética com a capacidade de identificar oportunidades onde a maioria vislumbra uma nuvem de dúvidas? O livro Born Entrepreneurs, Born Leaders ("Empreendedores por natureza", numa tradução livre, ainda não lançado no Brasil), do professor de administração Scott Shane, reúne um conjunto de respostas possíveis a essa pergunta passando a limpo pesquisas recentes que apontam relações entre a genética e o comportamento no mundo dos negócios.

Boa parte dos dados analisados tem origem em pesquisas com gêmeos, que compartilham todo o DNA (se forem idênticos) ou parte dele. Shane, que leciona na Universidade Case Western Reserve, em Ohio, diz que não é pequena a influência da genética em fatores importantes da vida profissional, como a satisfação que se tira do trabalho e a frequência com que se muda de emprego. Ele diz que também a tendência de se tornar empreendedor está marcada no DNA.

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Não é que exista um gene do empreendedorismo. É muito raro, aliás, que um gene sozinho possa ser responsabilizado por uma doença, um comportamento ou um dom. Segundo ele, os empreendedores reúnem características influenciadas pela genética, como a vontade de trabalhar por conta própria e explorar oportunidades. As pesquisas compiladas no livro sugerem mecanismos pelos quais os genes exercem sua influência, como ritmo de atividade, talentos cognitivos e traços da personalidade.

As pessoas são diferentes umas das outras no que os pesquisadores chamam de nível de atividade. Há, como diz Shane, os indivíduos cinéticos, que estão sempre fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, e os sedentários, mais reflexivos. No espectro das pessoas cinéticas, há um grupo de hiperativos que sofre de uma disfunção neurológica chamada distúrbio do déficit de atenção (DDA). Estudos citados por Shane sugerem que o DNA explica o diagnóstico de 89% das pessoas com DDA por hiperatividade. Tais estudos são importantes porque indivíduos com o distúrbio estão exageradamente representados no universo dos empreendedores americanos. Mais de 30% dos portadores dessa desordem acabam tocando negócios próprios, ante uma média de 5% do restante da população. Uma hipótese é que pessoas com DDA suportam melhor certas responsabilidades, como aceitar riscos. O livro traz o depoimento de um empreendedor com a desordem: David Neeleman, fundador da Jet Blue, que cresceu no mercado de companhias aéreas de baixo custo. "Meu cérebro procura por formas melhores de fazer as coisas — com desorganização, procrastinação, falta de foco e tudo o que de ruim vem com o DDA, mas com criatividade e vontade de arriscar", diz Neeleman.

Outro conjunto de genes que desperta interesse dos pesquisadores é o relacionado a desordens de linguagem, como a dislexia. Suas vítimas também são desproporcionalmente comuns entre pessoas que abrem suas próprias empresas. Um estudo mostrou que 35% dos empreendedores dos Estados Unidos são disléxicos, ante 15% da média da população. O britânico Richard Branson, fundador do Virgin Group, é disléxico.

Shane diz que foram isolados genes que parecem estimular comportamentos como busca por novidades e aprovação social. "A interação entre esses genes pode gerar um comportamento persistente", diz. Para ele, é provável que o inventor Thomas Edison, que fundou a empresa que originou a GE e disse que invenção é resultado de 99% de transpiração, tivesse esses genes. O livro afirma que, na tendência de se tornar empreendedor, nenhuma característica genética parece tão decisiva quanto a inteligência. "Há dados que associam altos escores de testes de inteligência em crianças à probabilidade de trabalhar por conta própria", diz Shane.

Há mais dúvidas do que certezas sobre como exatamente a genética exerceria sua influência. Os genes afetam a tendência de alguém empreender porque aumentam sua capacidade de enxergar oportunidades ou porque afetam outros fatores? Muitos pesquisadores acreditam que seja porque a identificação de oportunidades depende de cognição, que é genética. De certo, o ambiente é fundamental. Os genes, diz o autor, conduzem alguém a um desafio. Sua superação produz experiência e confiança, o que estimula a assumir novos riscos. Mas e quem falha e também insiste? A genética pode até esclarecer sobre o que leva alguém a abrir sua empresa, mas pouco tem a dizer sobre seu êxito. O crescimento de uma pequena ou média empresa depende de inúmeros fatores — entre eles a concorrência de outros empreendedores, abençoados ou não pela conjunção genética.

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