Intercâmbio: O empresário buscou impulsionar as vendas ao apelar para o investimento em educação (seb_ra/Thinkstock)
Karin Salomão
Publicado em 4 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 4 de julho de 2018 às 06h01.
São Paulo – Ao começar um novo negócio, empreendedores sabem que terão longos dias de trabalho pela frente, sem férias e com sacrifício dos finais de semana. No entanto, Thiago España levou a dedicação ao extremo e passou a dormir no escritório nos primeiros meses de sua franquia, para não perder tempo ao ir para casa.
O esforço valeu a pena. Ele se tornou sócio da World Study, rede de franquias que oferece intercâmbios, poucos anos depois de abrir sua primeira unidade. A empresa hoje conta com 45 unidades e faturamento de 79 milhões de reais.
A dedicação do empresário vem do seu amor à língua inglesa e de suas próprias experiências fora do país. Quando criança, aprender o idioma era uma regra determinada pelos seus pais, assim como a natação.
Assim que se formou no ensino médio e antes de ingressar em uma faculdade, decidiu fazer um intercâmbio curto. Escolheu ir para San Raphael, na Califórnia, Estados Unidos, para fazer um curso de dois meses de inglês. Ao chegar lá, ingressou em um outro curso, de inglês para negócios da Universidade de Berkeley. As 10 semanas iniciais se transformaram em uma experiência de seis meses.
"O intercâmbio dá uma sensação de confiança e de que conseguimos fazer as coisas sozinho, mesmo em outro país", diz ele. "Eu sofri um choque e comecei a ver o mundo de uma maneira diferente, por conta das amizades de pessoas de todos os lugares do globo."
Assim que voltou ao Brasil, passou a ajudar amigos a fazerem a mesma viagem para estudos - na época, com o dólar a quase um real, os voos eram bem acessíveis.
Já durante a faculdade de engenharia teve sua segunda experiência internacional. España participou de um programa para trabalhar e estudar nos Estados Unidos, durante as férias. Trabalhou como um promotor de eventos em uma estação de esqui, atuação que moldou seus planos de carreira.
"Adorei a experiência e tomei a decisão de trabalhar com isso", afirma. Enquanto ainda estava nos Estados Unidos, conversou com a empresa na qual trabalhava e com os representantes do governo americano responsáveis pelo programa de intercâmbio, que organizavam a ida de mais de 15 mil brasileiros para os EUA há alguns anos.
Assim que voltou ao Brasil, entrou em contato com todas as empresas que recebiam estrangeiros para trabalhar por lá, disposto a começar um novo negócio de intercâmbio. "Voltei sem saber de nada, nem como abriria a empresa, mas disposto a fazer dar certo", diz.
Logo conheceu a World Study e largou a ideia de tocar a ideia sozinho. Em vez disso, aos 21 anos abriu uma franquia na Barra, em 2001- na época, a companhia tinha seis unidades.
Os primeiros anos foram de grandes desafios para España. "Abrimos no dia 6 de setembro de 2001. Poucos dias depois, aconteceu o ataque terrorista às torres gêmeas e, em 2002, com a eleição de Lula o câmbio explodiu e o dólar chegou a R$ 4,30", lembra.
O empresário buscou impulsionar as vendas ao apelar para o investimento em educação. "As pessoas cortam viagens de turismo e a troca do carro, mas não deixam de estudar", afirma.
Além disso, como o foco da franquia são os intercâmbios para trabalhar e estudar, o público alvo também está em um período de vida bem específico: cursam uma faculdade, mas ainda não começaram a trabalhar. "Muita gente não pode esperar o dólar baixar ", diz.
Para manter a franquia de pé, o empresário trabalhava o dia inteiro atendendo clientes e reservava o horário da noite, depois do fechamento da loja, para resolver as questões mais burocráticas, como responder e-mails, envio das matrículas para os cursos nos Estados Unidos e o controle financeiro.
Além de suas atribuições normais, participava de muitos fóruns online, que pipocaram nos anos 2000. Respondia perguntas sobre intercâmbios em comunidades do Orkut, Yahoo Respostas, bate-papo Uol, entre outras redes. "Era a maneira de encontrar o público para o meu negócio", diz. "Estava muito empolgado com o segmento de intercâmbio e queria fazer de tudo."
No entanto, tanto trabalho tinha o seu preço. "Sempre produzi bem à noite e, naquela época, o volume de trabalho era muito grande. Ficava até de madrugada no escritório e chegava em casa só às 4h, 5h da manhã", conta.
Decidiu tomar uma medida drástica. Durante alguns meses, tomou banho em uma academia próxima, deixava uma muda de roupa no carro e passou alguns dias por semana dormindo no escritório, em um saco de dormir. "A primeira vez que fiz isso era como uma emergência, mas se tornou um hábito mais comum", afirma.
Um ano depois da abertura de sua primeira franquia, alugou um apartamento na frente de seu escritório e só precisava atravessar a rua para conseguir dormir na sua própria casa.
No período inicial, precisou sacrificar também a faculdade. Ao invés de ir para as aulas de engenharia e, depois, de economia, preferia passar mais tempo no trabalho. Mais tarde conseguiu se formar com um curso à distância.
Em 2005, abriu uma nova unidade no Leblon, Rio de Janeiro, e se tornou sócio da rede em 2006. Três anos depois deixou o dia a dia de suas franquias para ocupar o cargo de CEO da rede. Desde então, a rede cresceu para 45 unidades e faturamento anual de 79 milhões de reais.
Hoje, com a expansão e consolidação da empresa, o ritmo de trabalho já não é tão acelerado. "Ainda passo um terço do meu tempo viajando para outras unidades, mas já consigo ir na festa junina das minhas duas filhas pequenas", conta.