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Como uma startup de turismo captou R$ 2 milhões em menos de três dias

A iFriend conecta viajantes a guias de turismo em 125 países; diferenciais estão relacionados à quantidade de guias que falam português e personalização dos passeios

Executivos à frente da iFriend: expectativas positivas em relação ao fim da pandemia (iFriend/Divulgação)
KS

Karina Souza

Publicado em 28 de abril de 2021 às 15h16.

Última atualização em 28 de abril de 2021 às 15h26.

Tudo começou na Copa do Mundo de 2018. Os empreendedores Leonardo Brito e Diogo Leão viram que o país-sede para o Campeonato seria a Rússia -- e, apostando que a quantidade de turistas brasileiros por lá que falam o idioma local não seria expressiva -- decidiram testar uma nova hipótese: um aplicativo capaz de conectar pessoas que precisassem de um tour personalizado, com guias que falassem português. Três anos depois, o que era uma ideia virou uma startup de turismo que captou R$ 2 milhões em 57 horas, numa rodada organizada pela CapTable, empresa especializada em investimentos em startups.

Da ideia à operação consolidada, três anos se passaram -- e a rotina dos fundadores mudou da água para o vinho. Tanto Leonardo quanto Diogo trabalhavam em grandes empresas e tiveram de largar a carreira consolidada para acelerar o crescimento da empresa desde o seu início.

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O esforço parece ter compensado a mudança. Em abril de 2019, quando foi fundada, a iFriend contava com 1 mil guias turísticos cadastrados, presença em 40 países e em torno de 300 cidades. Hoje, a empresa está presente em 125 países e, em mais da metade, tem guias que falam português -- inclusive em destinos como Mongólia, Alasca e Tasmânia. Em faturamento, a traveltech cresceu 30% ao mês, de 2019 até março de 2020 (a empresa não divulga valores absolutos). Ao todo, mais de 20 mil usuários estão cadastrados na iFriend.

Para os fundadores, o diferencial da iFriend está nessa extrema capacidade de personalização, aliada aos serviços em português. Hoje, empresas como AirBnB e GetYourGuide oferecem serviços similares de tours e experiências -- porém, não chegam a esse nível.

“Oferecer guias em português em qualquer local é fundamental para nós. Hoje, 95% dos nossos clientes são brasileiros e sabemos das dificuldades que um segundo idioma, mesmo para as classes mais altas, pode trazer”, diz Leonardo Brito, CEO da iFriend.

Alguns dos concorrentes da empresa são a GetYourGuide e as próprias experiências oferecidas pelo AirBnB. No caso da primeira empresa,é possível encontrar passeios pré-formatados em várias cidades pelo mundo (mas não o tour que se adequa às necessidades extremas do viajante) e, no AirBnB, os serviços de experiências são oferecidos em mais de 60 países, porém a empresa não detalha em quantos deles os guias que falam português estão disponíveis.

Apesar disso, o turismo aliado às experiências ainda é uma parte significativa da estratégia de companhias como essas  -- e não é de hoje. Em 2018, o AirBnB fez um investimento de US$ 5 milhões para expandir o serviço nos Estados Unidos, dado que a margem de lucro dessas experiências em relação às hospedagens era maior. O movimento foi visto com otimismo pelo Morgan Stanley, que destacou o fato de que as experiências poderiam tornar usuários menos frequentes em "superusuários", aumentando a receita da empresa.

Com a possibilidade de obter margens como essa, aliada aos sinais de retomada do turismo -- dados divulgados em 2020 mostraram que o setor de turismo faturou R$ 12,8 bilhões em setembro, alta de 28% em relação a agosto e número três vezes maior do que o registrado em abril, pico da crise -- foram alguns dos principais fatores que chamaram a atenção dos investidores durante a captação realizada pela CapTable.

“Gostamos muito da estratégia da empresa e ficamos satisfeitos com o sucesso da captação. Hoje, temos mais de 3 mil investidores cadastrados na plataforma e, ao fazer uma pesquisa com eles, vimos que o setor de turismo e viagens aparecia como um dos principais interesses. Acreditamos na retomada pós-pandemia e avaliamos que os empreendedores têm muita experiência para fazer a empresa crescer”, diz Gustavo Piccinini, membro do conselho da CapTable.

De olho no aumento da demanda até o fim do ano, a iFriend quer usar o investimento principalmente para crescer: dos R$ 2 milhões captados, 50% vão para contratações, 30% para marketing e despesas comerciais, 10% para despesas com infraestrutura e outros 10% para pagar impostos.

Para ganhar dinheiro, a startup funciona como um marketplace. Ao acessá-lo, viajantes podem buscar pelo serviço turístico de que precisam -- um passeio personalizado ou uma “experiência” pré-formatada pela plataforma -- e entrar em contato com o guia disponível. A cada transação realizada, o app cobra uma comissão de 25% sobre o valor fechado.

O mínimo de tempo a ser reservado para um passeio personalizado é de quatro horas e, o máximo, de dez horas por dia. Já no caso de experiências, a cobrança feita pelos guias é realizada de acordo com o número de pessoas que vão frequentá-la.

Novos serviços B2B

Na crise, a empresa teve de se reinventar. O setor Turismo teve um prejuízo acumulado de R$ 312 bilhões em um ano de pandemia e foi um dos mais afetados pela covid-19.

No auge das dificuldades, no primeiro trimestre de 2020,a iFriend resolveu concentrar os esforços para dentro da empresa.  “Aproveitamos para corrigir erros e tornar a aperfeiçoar a parte de tecnologia relacionada à empresa. Além disso, lançamos dois novos serviços: o de experiências, com roteiros prontos, e o de tour virtual. Com mais tempo, também aumentamos a nossa rede de agências de turismo filiadas. Antes da pandemia, eram 150 e, hoje, são 1100”, afirma Leonardo Brito, CEO da iFriend.

Ao investir no tour virtual, a empresa conseguiu fechar um contrato com a Claro Brasil, para prestar esse serviço aos colaboradores e familiares da empresa, em uma iniciativa chamada “Viaje de casa”. Os executivos não abrem o valor do contrato, mas afirmam que a iniciativa ainda está em estágio inicial e deve ser rentável em breve.

“Temos planos para a retomada do turismo ainda em 2021. No primeiro semestre, nosso objetivo é mais conservador, porém, até o fim do ano, esperamos atender 5 mil viajantes. Acreditamos em uma retomada consistente a partir do último trimestre deste ano e vamos com tudo”, diz Diogo Leão, CIO da iFriend.

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