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Como uma loja comprada por fiado virou um negócio de R$ 35 mi

Os empreendedores Sueli e Paulo Barreto faziam de tudo para pagar as contas. Mal sabiam eles que a negociação por uma pequena loja mudaria suas vidas.

Paulo e Sueli Barreto, da Akio: mineiros mudaram de vida ao negociarem uma pequena loja de alho (Akio/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 22 de janeiro de 2017 às 08h00.

Última atualização em 22 de janeiro de 2017 às 08h00.

São Paulo – A história de Paulo e Sueli Barreto era parecida com a de muita gente - eles saíram do interior de Minas Gerais para São Paulo, em busca de uma vida melhor. Porém, um fato os diferencia de outros viajantes: eles montaram um negócio próprio, e ele deu muito certo.

Isso não veio, claro, do dia para a noite. A Akio, que faturou 35 milhões de reais no ano passado, começou com a compra de uma pequena empacotadora de alho. Um pequeno detalhe dificultava a tarefa: como o casal não tinha dinheiro para adquirir a loja, negociou a compra por fiado.

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Assim como empreendedores de verdade, não se contentaram com pagar o ex-dono e arriscaram mudar completamente o que era feito na empresa: introduziram um novo produto, a farinha de tapioca, e ela virou o carro-chefe de vendas.

Com isso, a vida dos empreendedores e de sua pequena loja mudou completamente - só o faturamento, em sete anos, aumentou dez vezes.

Primeiros passos

Nas palavras da própria Sueli, ela e o marido viajaram para São Paulo em 1989 com "uma mão na frente e outra atrás", impulsionados pelo sonho de conseguir uma casa própria.

“É muito difícil conseguir trabalho sem estudo na cidade grande. Aí, tentamos aproveitar todas as oportunidades, esperando que uma delas desse certo”, explica a empreendedora. O casal passou os três primeiros anos em São Paulo pulando de trabalho em trabalho – venderam de chinelos, costuraram mochilas e até saíram anunciando doces em uma Kombi.

Até que um amigo do casal decidiu vender sua pequena empresa de alho empacotado, chamada Akio. O negócio não estava indo muito bem e ele decidiu que ganharia mais dinheiro voltando para o país de sua família: o Japão.

Paulo e Sueli negociaram com o amigo a compra da empresa – mas por fiado, já que não tinham dinheiro suficiente para desembolsar o pagamento na hora. “Tínhamos amizade com ele desde que chegamos a São Paulo, e ele sabia que éramos honestos. Só por isso confiou na gente e aceitou o acordo”, explica Sueli.

Expansão

O casal não tinha funcionários. Enquanto Paulo saía para conseguir novos clientes, Sueli cuidava de toda a operação da empresa: recebia o alho dos fornecedores, limpava, empacotava e enviava para os supermercados parceiros.

O trabalho de prospecção de consumidores deu certo: em um ano, o casal conseguiu pagar o valor que devia ao antigo dono. O lucro passou a ser reinvestido na empresa, e o negócio se estabilizou: em 2010, 17 anos depois do ponto de equilíbrio, o faturamento anual era de 3,5 milhões de reais.

Então, Paulo ouviu de um parente que havia um novo produto sendo vendido no centro de São Paulo: a tapioca. O empreendedor teve a ideia de inserir a farinha como um novo item da Akio. “Eu achava um produto muito difícil de se mexer, não tinha certeza de que isso realmente funcionaria. Mas, como já tínhamos passado por tanta coisa, resolvemos tentar”, explica Sueli.

Como no ponto atual só cabiam os equipamentos para limpar e empacotar alho, o casal alugou um pequeno salão ao lado da loja atual. Lá, produziam e empacotavam a farinha de tapioca - o casal acabou perdendo muito dinheiro até acertar o ponto certo do alimento, segundo a empreendedora.

Depois de a receita estar pronta, Paulo saiu propondo um acordo com os mercados já parceiros: a Akio deixaria uma caixinha com sacos de farinha de tapioca, sem custo, perto dos caixas. Os parceiros só pagariam aquilo que realmente vendesse.

Surfando na onda de alimentação leve e saudável, a farinha de tapioca deslanchou: os supermercados faziam novas encomendas todas as semanas. A Akio não tinha espaço para montar uma produção maior e abastecer o mercado, então foi aos poucos comprando terrenos e expandindo. O negócio chegou a ter sete galpões operando ao mesmo tempo.

Hoje, a Akio vende tanto o alho quanto a farinha de tapioca – mas esse último item virou o carro-chefe. “Vendemos alho frito, a granel, em pacote e triturado, mas é um produto mais concentrado no estado de São Paulo, por ser mais caro e mais difícil de vender”, explica Sueli. "Já a tapioca comercializamos em 13 estados diferentes.”

O empreendimento vende desde pacotes de 1 kg, em atacadões, até potes menores, feitos para cozinhar em casa. Ao todo, a Akio produz seis mil toneladas de tapioca por ano.

Concorrência e planos

Hoje, o maior desafio da Akio é enfrentar a concorrência crescente: há cerca de 300 marcas de tapioca no país, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Amido e Mandioca. O negócio atende dois mil clientes e detém 15% de participação de mercado.

“Quando começamos, foi fácil de entrar no mercado. Mas tivemos uma perda de clientes, que foram para marcas com preço menor. Nossa estratégia é se diferenciar deles e investir em melhor qualidade do produto e em criação de novos formatos, além de oferecer um atendimento mais dedicado aos supermercados.”

Para isso, a empresa unificou os galpões existentes em uma única sede industrial, com investimento de 14 milhões de reais. Agora, estão procurando equipamentos e finalizando a documentação.

A expectativa para 2017, com o atendimento da demanda e a elaboração de outros produtos derivados da mandioca, é aumentar em 30% o faturamento, em relação aos 35 milhões de reais em 2016.

Nova sede da Akio, em Guarulhos (SP) (Akio/Divulgação)

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