Com autorização do Banco Central, Creditas vira instituição financeira
A plataforma online de empréstimos com garantias como automóveis e residências liberou cerca de 340 milhões de reais neste ano, afirma seu fundador
Mariana Fonseca
Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2019 às 23h36.
A Creditas, fintech que realiza empréstimos com garantias como automóveis e residências, recebeu uma licença do Banco Central para operar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD). O pedido havia sido registrado em maio do ano passado.
Com a autorização de SCD, fintechs podem assinar sua “declaração de independência” das instituições financeiras e deixarem de ser apenas correspondentes bancárias. A plataforma online da Creditas pode agora conceder empréstimos diretamente aos clientes. A ideia é criar linhas próprias, aumentando a agilidade de lançamentos e reduzindo custos de operação, como integrações com outros sistemas bancários.
Mesmo com o registro como SCD, a Creditas continuará a ter parcerias bancárias com instituições como Sorocred, Santana, CHP e Farpa para emissão e cessão de crédito . Sergio Furio, fundador da Creditas, havia afirmado aEXAMEanteriormente que previa um modelo híbrido para a fintech de crédito. “A Creditas possui parcerias com instituições tradicionais, que ganham mais eficiência conosco, ao mesmo tempo que origina o próprio crédito, agora respaldada pela nova regulamentação."
Fundada em 2012, a Creditas tem como diferencialtomar imóveis ou veículos como garantia. Isso permite taxas de juros mais baixas e prazos de pagamento maiores, com a redução de riscos às instituições emissoras do crédito.
A fintecharrecadou 285 milhões de reais em investimentos de instituições financeiras como o Santander e o Banco Mundial; empresas como a gigante de internet Naspers; e fundos como KaszeK Ventures (Contabilizei, Quinto Andar, Loggi), Quona Capital (Contabilizei, Neon) e Redpoint eventures (Magnetis, Olist, Pipefy, Rappi) e Vostok Emerging Finance (Guia Bolso, Magnetis).
O empreendimento, baseado em São Paulo, tem mais de 500 funcionários atualmente.Segundo Furio, a Creditas liberou cerca de 340 milhões de reais em 2018, dentro do plano de tornar a companhia a maior de empréstimos com garantia na América Latina.
O negócio foi elencado por especialistas ouvidos porEXAME como um possível unicórnio brasileiro de 2019 e apareceu como fintech promissora em rankings como os da empresa de análises CB Insights (2018) e da revista Fast Company (2017).
O que é uma Sociedade de Crédito Direto?
Até então, as fintechs de crédito precisavam passar um por um longo e custoso processo para se tornarem instituições financeiras. Elas precisavam cumprir os mesmos requisitos que grandes bancos em termos de estrutura organizacional e detalhamento de resultados enviados ao Banco Central. As startups poderão se registrar como instituições financeiras de atuação mais limitada, o que também diminui as despesas com cumprimentos de leis.
As fintechs que são uma Sociedade de Crédito Direto (SCD) emprestam dinheiro a partir de capital próprio por meio de plataformas eletrônicas. Tendo o status de instituição financeira, poderão se responsabilizar pela emissão de seus títulos de crédito – papéis de dívida responsáveis por captar dinheiro com investidores no mercado de capitais de recursos restritos e, assim, financiar os empréstimos e financiamentos cedidos pelas startups. Antigamente, essa emissão de títulos só poderia ser feita por meio de uma instituição financeira e as fintechs ficavam como correspondentes bancárias – uma espécie de escritório de representação dos bancos e corretoras.
Para o consumidor, o grande impacto da mudança estará na maior segurança em tomar créditos das fintechs, agora regulamentadas, e também na possibilidade de que a competição traga mais descontos nas taxas de juros cobradas em empréstimos e financiamentos.