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Apenas um game? Liga de jogadores profissionais de FIFA recebe R$ 10 mi

A Virtual Professional Soccer League ganhou um aporte milionário para transformar jogos em faturamento, seguindo uma tendência dos e-sports

Cristiano Ronaldo no jogo FIFA 2018: mercado de e-sports está conquistando até os clubes tradicionais de futebol (FIFA/EA Sports/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 25 de julho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 31 de julho de 2018 às 00h25.

São Paulo - Sempre existe aquele colega que passa horas jogando partidas de futebol em um dos jogos da franquia FIFA, da desenvolvedora e publicadora de games Electronic Arts. Saiba que ele pode estar não apenas se divertindo - mas também concorrendo a grandes prêmios e firmando uma nova carreira.

Parece uma conversa apenas para os países mais desenvolvidos e tecnológicos, mas já está acontecendo no Brasil. A Virtual Professional Soccer League é uma liga brasileira de jogadores amadores e profissionais de FIFA, que realiza torneios remunerados desde o ano passado. Na lista de parceiros financeiros, há empresas como a plataforma de streaming Twitch, a marca Cup Noodles e a loja de departamentos Ponto Frio.

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A VPSLeague anunciou a EXAME um aporte de dez milhões de reais, de investidores não revelados, para aumentar o valor das premiações - e fazer a liga se transformar em um empreendimento rentável.

O potencial dos esportes eletrônicos

A consultoria Newzoo estima que o mercado de e-sports, ou esportes eletrônicos, alcance 905,6 milhões de dólares neste ano (na cotação atual, 3,4 bilhões de reais). Isso significaria um (nada módico) aumento de 38% sobre o visto em 2017. Entre ocasionais e entusiastas, essa indústria deve acumular 380 milhões de espectadores.

A série FIFA possui um dos maiores potenciais de audiência, já que não é difícil entender as regras do jogo - basta ter visto uma partida de futebol alguma vez na vida. A franquia possui 42 milhões de jogadores, e 1,2 milhão apenas no Brasil, afirma o empreendedor Luiz Eduardo Cavalcanti.

“Fiquei inspirado por grandes ligas de e-sports no cenário mundial, com circuitos sólidos e altas premiações em jogos como Counter Strike, Dota 2 e League of Legends. Queremos ser a liga brasileira que chegará nesse patamar”, afirma.

Cavalcanti teve a ideia de fundar uma liga de jogadores profissionais de FIFA em 2013, após sua experiência no modo Pro Clubs do game. Diferentemente das partidas comuns, em que cada jogador controla um time inteiro, no Pro Clubs cada player é responsável por apenas um jogador.Cada partida precisa de ao menos 22 usuários online - o que é muito mais parecido com um jogo de futebol no mundo real. Vale lembrar que o campeonato mundial oficial de FIFA, organizado pela Electronic Arts, é feito apenas na modalidade tradicional.

“Na época, algumas organizações faziam campeonatos amadores colocando as informações no Excel. Percebi que poderíamos criar um sistema próprio para gerenciar torneios no computador e nos consoles Playstation e Xbox, inclusive com as estatísticas de cada jogador.”

Luiz Eduardo Cavalcanti, da VPSLeague: o hobby virou negócio (VPSLeague/Divulgação)

O negócio começou pequeno, organizando os próprios campeonatos amadores a partir de 2015. Apenas em março de 2017 a VPSLeague conseguiu seu primeiro campeonato patrocinado, o CBPro, por meio da plataforma de streaming Twitch. O campeonato atual, que começou na semana passada e vai até setembro, já tem outro patrocinador - a marca de macarrão instantâneo Cup Noodles.

Além de patrocinadoras, a VPSLeague atraiu negócios interessados em se associar aos times cadastrados na liga ou em cultivar seus próprios jogadores. O Ponto Frio, por exemplo, pagou para colocar seu nome em uma das equipes e para anunciar nas ações da liga durante o CBPro Cup Noodles. Para uma seleção de primeira divisão, a troca de nome pode chegar a custar cinco mil reais, enquanto a veiculação da marca pode sair por 40 mil reais.

Clubes de futebol tradicionais, como o Vitória (Bahia), possuem seus times próprios de FIFA já cadastrados na plataforma, assim como o CNB, clube de e-sports que possui o jogador Ronaldo Fenômeno como sócio. Nessa criação de equipes do zero, a VPSLeague não cobra nada das marcas.

“Essas empresas possuem como benefício estar dentro de uma comunidade totalmente segmentada e difícil de se atingir pelos canais tradicionais, como os estádios. É um público jovem e extremamente engajada com algumas formas de mídia, como os e-sports”, afirma Cavalcanti. “Temos um mercado muito bom, por atingirmos não só os gamers, mas os interessados em futebol. A torcida dos times associados a clubes tradicionais é grande.”

Monetização e faturamento

Antes do investimento, a VPSLeague só se monetizava por meio dos patrocínios e da entrada esporádica de marcas anunciantes. Junto aos dez milhões de reais veio a proposta de tornar a liga um negócio realmente rentável.

“A gente sempre teve planos de monetização, mas não tínhamos ido em frente. Agora, vamos usar o capital para tocar esse projeto, que inclui subir a premiação e melhorar nossa plataforma”, diz o empreendedor.

O próximo CBPro, marcado para outubro, será o primeiro a cobrar taxas dos jogadores profissionais e a ter uma premiação de peso, desvinculada dos recursos dos patrocinadores.

O torneio contará com 400 equipes, divididas entre os circuitos amador (274 seleções) e profissional (126 seleções). Os amadores não pagam taxa de inscrição e o time vencedor ganhará quatro mil reais. Enquanto isso, cada profissional paga uma taxa de inscrição de 15,90 reais e a equipe que ficar em primeiro lugar levará 50 mil reais.

Ao mesmo tempo, a VPSLeague criou sua própria moeda virtual e seu e-commerce, que reúne desde passes para os campeonatos até produtos temáticos. No último mês, o negócio faturou 135 mil reais.

A VPSLeague possui 40 mil jogadores em sua base. Mas o número ainda tem muito para crescer: apenas um décimo dos jogadores de FIFA é adepto ao Pro Clubs, diz Cavalcanti. A liga também irá expandir para as partidas tradicionais, com cada jogador controlando um time inteiro (o conhecido 1x1).

A meta é chegar a 100 mil jogadores na liga durante os próximos cinco anos, com um faturamento projeto de 500 mil reais para os próximos doze meses. Os atuais oito funcionários devem dobrar até o fim deste ano. Já dá para montar o próprio time de FIFA, com alguns jogadores na reserva.

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