7 empreendedores que faturam com cervejas artesanais
Empresários contam histórias e diferenciais de seus negócios
Da Redação
Publicado em 16 de janeiro de 2012 às 05h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h27.
São Paulo – Atrás de países como Alemanha e Estados Unidos, o Brasil não é o maior consumidor de cerveja do mundo. A produção da bebida, ainda dominada por grandes empresas, no entanto, começa a atrair empreendedores para microcervejarias, muitas com produção ainda artesanal.
Apesar dos reajustes de impostos nas bebidas – cervejas e refrigerantes sofreram um aumento médio de 15% em 2011 -, a produção de cerveja alcançou 13,3 bilhões de litros no ano passado – em 2010 foram 12,8 bilhões, um crescimento de 3,37%. Os dados são do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) da Receita Federal. Em expansão considerável desde 2005, as microcervejarias – pequenas indústrias com produção inferior a cinco milhões de litros por ano, que seguem receitas tradicionais – são uma nova tendência. Segundo a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), esse crescimento se deve à busca de novos sabores por um consumidor cada vez mais exigente e pelo aumento de renda da população. Dados da entidade mostram que as microcervejarias representam 0,5% do mercado cervejeiro nacional – correspondente a cerca de 66,5 milhões de litros no ano passado. A expectativa, no entanto, é de crescimento acelerado. De acordo com a Abrabe, as microcervejarias devem alcançar 2% do mercado brasileiro de cerveja em 10 anos. Hoje, são 175 micro fábricas registradas no país, em especial no Sul e Sudeste. Veja a seguir as histórias e peculiaridades de sete microcervejarias espalhadas pelo país.
A paixão por cerveja surgiu quando Luis Fabiani morava em Nova York. Na volta para o Brasil, começou a experimentar produzir a bebida em casa. Os chopes servidos a amigos e familiares começaram a ganhar adeptos e, em 2006, ele se juntou a Dudu Toledo e Peter Jancso para abrir a Cervejaria Nacional. “No começo tínhamos uma produção pequena, mais de teste”, conta Fabiani O projeto cresceu com a entrada de Alexandre e Marcus Ribas, da consultoria AyB, e em 2011, os sócios transformaram a Cervejaria Nacional em fábrica-bar em Pinheiros, bairro boêmio de São Paulo. Segundo Fabiani, o investimento médio chegou a 2 milhões de reais. Com a aposta de combinar chope com churrasco, os clientes podem acompanhar o cozimento da bebida – a fase quente do processo de produção. “O público da casa é muito diverso e também já temos alguns clientes fiéis, que sempre retornam”, diz Luis Fabiani. São cinco tipos da bebida, com receitas desenvolvidas pelos sócios, que fizeram testes e foram se aperfeiçoando na produção. Cada uma traz um nome inspirado em alguma figura folclórica: Y-îara Pilsen, Kurupira Ale, Sa´si Stout, Domina Weiss e Mula IPA. A casa fatura uma média de 150 mil por mês.
Com a aposta de misturar frutas, raízes, madeiras e sementes típicas da Amazônia, a Amazon Beer, atualmente com distribuição restrita a Belém (onde fica a sede) e São Paulo, pretende alcançar todo o país. “O planejamento é, neste ano, expandir para o Brasil e, em 2013, para o mundo. Produzimos cervejas com a cara da Amazônia”, afirma o diretor-geral Arlindo Nogueira Guimarães Filho. A microcervejaria, inaugurada em 2000, fatura cerca de 700 mil reais por mês com a venda dos 70 mil litros produzidos. Arlindo e os sócios Carlos Mendes e Caio Guimarães investiram 14 milhões de reais no negócio e fabricam seis tipos diferentes da bebida: pilsen, lager, weiss, stout, frutada e red ale. Uma das atrações da casa é a Bacuri Beer. A bebida é produzida com o fruto bacuri e tem teor alcoólico de 3,8%. Há também opções com aromas de cereais e biscoitos.
A história dos irmãos José Felipe e Tiago Carneiro com a produção de bebidas vem desde os anos 90, quando fabricavam refrigerantes e sucos para restaurantes da família. No início de 2000 eles decidiram abrir a Cervejaria Wäls, em Belo Horizonte, onde começaram a fazer cervejas especiais. “Um projeto que teve início apenas para verticalização de nossos restaurantes transformou-se em um novo nicho”, afirma Tiago. Amante da produção de bebidas, Tiago descreve as receitas que produz como “obras de arte”. “Uma Wäls Brut, produzida pelo método champenoise, leva meses para ficar pronta. São nove meses são empíricos, mas podem ser até doze. A dificuldade de produção é recompensada pelo valor agregado dos produtos.” Distribuídas em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, as cervejas estão divididas em seis tipos: três belgas, com frutas e especiarias na composição; a brut, que utiliza a técnica de produção de espumante, conhecida como champenoise; e duas no estilo large. No ano passado, a cervejaria e os restaurantes faturaram juntos 8 milhões de reais. A expectativa para esse ano é que o negócio cresça ainda mais, já que no início do segundo semestre deve ser inaugurado um espaço de visitação, que já atrai, mesmo antes de pronto, 80 visitantes por semana.
A produção de cervejas com o avô quando criança e com os colegas de faculdade no período em que cursava arquitetura fez Micael Eckert, de 37 anos, ter a ideia de se especializar. “Acreditava que faltavam nas cervejas nacionais sabores e aromas que as cervejas de outros países têm”, diz. Em 2004, Micael e o sócio Rafael Teixeira Netto Rodrigues propuseram terceirizar a produção em Teutônia, Rio Grande do Sul. Atualmente, a fábrica, com capacidade de 100 mil litros ao mês, está instalada em Forquilhinha, Santa Catarina, e tem outro sócio, Abrahão Paes Filho, proprietário da Cervejaria Santa Catarina. A marca Coruja tem opções não pasteurizadas (que não passam pelo processo de tratamento térmico destinado a eliminar microrganismos, as chamadas cervejas vivas), e pasteurizadas – com mix de lúpulos aromáticos, avermelhada, de trigo com aromas de cravo, e escura. Na fábrica são feitas cervejas de outras duas marcas, a Saint Bier e a Duff – a famosa marca consumida por Homer Simpson e que chegou recentemente ao país. A distribuição da Coruja abrange toda a região Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.
O alemão Jörg Frans Schwabe é mestre cervejeiro diplomado pela Universidade Técnica de Berlim desde 1972. Por anos, trabalhou na indústria cervejeira até que, em 1993, decidiu abrir a própria fábrica. Inicialmente instalada na cidade de Sumaré, às margens da rodovia Anhanguera, no interior de São Paulo. A fábrica foi transferida para Monte Verde, Minas Gerais, em 2009, onde um poço com mais de 190 metros de profundidade fornece matéria-prima para o produto. Além do restaurante anexo à indústria, o Chopp do Fritz tem bares em Americana, São José dos Campos, Taubaté e Campinas, que deve ganhar uma nova unidade em abril. Além dos próprios bares, os cerca de 25 mil litros de chope produzidos por mês – a fábrica tem capacidade para até 85 mil litros – são entregues também em alguns bares de Monte Verde. São cinco tipos diferentes da bebida: três pilsen, uma original de Colônia, na Alemanha, e uma escura. O preço do litro varia de 6,5 a 12 reais. Além de não usar conservantes e nenhum tipo de reação química para agilizar o processo de fermentação, o cervejeiro aposta na mistura de amora e malte torrado como combinações.
A intenção de resgatar o mercado de microcervejarias em Joinville levou o publicitário Luiz Alexandre de Oliveira a investir em um negócio do tipo. A produção mensal da Opa Bier varia de 90 mil a 110 mil litros, mas chega próximo a 160 mil litros, capacidade máxima da fábrica, em outubro, quando acontecem as tradicionais festas de cerveja em Santa Catarina, como a Oktoberfest. “O mercado é muito pequeno, mas está mudando. É gastronômico e quem bebe quer apreciar o produto e harmonizar com o tipo de comida”, destaca Oliveira, que divide a sociedade com outras três pessoas. Embora em pequena escala, a cerveja Opa Bier é distribuída em vários estados brasileiros, por empresas terceirizadas. Até 2009, a fábrica fazia apenas chopes, mas deu início à fabricação de cervejas também. Entre os seis tipos da bebida produzidos, um é sem álcool. Luiz de Oliveira destaca as embalagens descartáveis utilizadas pela Opa Bier. Ele conta que a última aposta da fábrica foi a lata de 5 litros, mas que também já investiram nas torres de chope e em garrafas de alumínio. “Estamos sempre inovando em tendências e buscamos proteger o meio ambiente. Temos uma estação de tratamento de afluentes”, conta.
A experiência em uma grande fábrica de cerveja e a descendência alemã formaram os ingredientes que faltavam para que o mestre cervejeiro Hermes Balcon trouxesse ao Brasil o conceito das microcervejarias gastronômicas europeias, em que se bebe a cerveja no local de produção. Ele importou da Alemanha uma planta industrial de microcervejaria e inaugurou, em maio de 1998, a Haus Bier, em Vilhena, Rondônia. Em 2000, além da microcervejaria, Balcon montou uma indústria metalúrgica para fabricar equipamentos de moagem. Assim, a Haus Bier começou a vender franquias e já tem unidades, além de Rondônia, no Acre, Mato Grosso, Amazonas e Paraná. O valor para montar uma microcervejaria com um bar ou restaurante anexos varia de 500 mil a 3 milhões de reais. O foco é na venda interna, que, de acordo com o tamanho da loja, vai de 10 mil a 40 mil litros por mês. São produzidos cinco tipos de cerveja: grün, weiss, ale red, stout e chicha. Entre os diferenciais utilizados, Hermes ressalto o aroma acentuado de cravo, pera e banana ou ainda de cacau e café em duas de suas combinações.