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Visanet é maior e lucra mais que Redecard, mas IPO será mais arriscado

Incertezas sobre a maior regulação do setor de cartões e sobre a recuperação da economia mundial sugerem cautela ao investidor

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Redecard foi uma das maiores da história do mercado de capitais brasileiro. A empresa de processamento de transações com cartões levantou mais de 4 bilhões de reais e gerou, no curto prazo, ganhos extraordinários aos investidores que participaram do IPO. Mesmo com a chegada da crise, a empresa continuou a apresentar índices robustos de crescimento e suas ações se encontram praticamente no mesmo patamar de 27 reais da estréia na bolsa.

Agora é a vez da maior concorrente da Redecard chegar à BM&FBovespa - o que gera expectativas entre os investidores. A Visanet, que processa as transações com os cartões Visa, é maior e mais lucrativa do que a rival. Além disso, possui um modelo de negócios que lhe dá a exclusividade para no processamento das transações da Visa - enquanto a Redecard não tem um vínculo tão forte com a bandeira Mastercard.

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Então o IPO da Visanet, que deve ocorrer nas próximas semanas, tem tudo para render lucros ainda mais polpudos do que o da Redecard? Em termos, dizem os analistas consultados pelo Portal EXAME. Apesar de sua maior participação de mercado e mais barreiras de entrada a concorrentes, a Visanet estreará na bolsa em um momento ainda complicado para a economia mundial. Além disso, de acordo com a Fator Corretora, o governo deverá em breve aumentar a regulação do setor de cartões no Brasil de forma a aumentar a concorrência - o que poderá gerar perdas às empresas do setor e a seus acionistas.

Os sócios da Visanet - Bradesco (com 39% do capital), Banco do Brasil (31%), Santander (14,4%) e Visa (10%) - planejam há anos ter ações listadas na BM&FBovespa e têm todo o interesse em fazer o IPO rapidamente, ainda com a legislação atual em vigor. A recuperação da economia mundial criou a janela necessária para a transformação desse sonho em realidade. A empresa aguarda o sinal verde da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para divulgar o prazo e as condições detalhadas da oferta, mas só deve postergá-la caso haja sinais de que não haverá demanda pelos papeis enquanto o governo não anunciar as novas normas para o setor.

Fim da exclusividade?

Segundo reportagem publicada pelo jornal “Valor”, o governo não quer que a Visanet continue a ser a credenciadora exclusiva da bandeira Visa. Também não aceita mais que a Visanet e a Redecard mantenham a atual estrutura verticalizada, em que controlam também a prestação de serviços de rede (captura e processamento de transações e aluguel dos terminais utilizados para os pagamentos, conhecidos como POS) e as operações de compensação e liquidação dos pagamentos feitos com cartão. Para o governo, essa estrutura terá de ser desmontada para permitir a entrada de outras empresas no mercado ou então a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE) deverá denunciá-las por práticas monopolistas, ainda de acordo com o “Valor”.

Também já há no Congresso quatro projetos em tramitação que aumentam a regulação do setor de cartões. Basicamente todos são voltados para o interesse dos lojistas - descontentes com os custos e as comissões cobradas pelas empresas nas transações com cartões. Os projetos preveem mudanças como a permissão para que o lojista cobre um preço diferenciado do consumidor quando o pagamento for feito com cartão ou a concessão de poderes formais para o Banco Central regular o setor.

A Fator Corretora se reuniu recentemente com analistas da consultoria Arko Advice - especializada em Congresso - e concluiu que alguma dessas alterações deve ser votada em plenário em breve. Os analistas da Fator, entretanto, não apostam em uma mudança radical des regras que possa colocar em risco o crescimento das transações com cartão. O dinheiro movimentado pelos plásticos está dentro da economia formal e ajuda a “dedurar” eventuais sonegações de impostos por empresas e consumidores. Jayme Alves, analista de investimentos da corretora Spinelli, também diz que a Visanet e a Redecard teriam força para compensar os possíveis efeitos negativos das novas regras com o crescimento de receitas em outros serviços - dada a baixa penetração dos cartões no Brasil.

Pontos fortes

Independente do risco regulatório, os bons fundamentos da Visanet podem amenizar a desconfiança dos investidores e garantir o sucesso da oferta. A companhia é líder do setor de cartões de pagamento no mercado brasileiro. Sua participação é de 46,8% do volume de transações em um mercado que movimentou 375,4 bilhões de reais em 2008, segundo a Abecs (a associação do setor de cartões).

A empresa possui a maior abrangência no território nacional e conta com cerca de 1,4 milhão de estabelecimentos credenciados para aceitar pagamentos com cartões da Visa. De acordo com o prospecto preliminar enviado à CVM para a realização da oferta, a Visanet também registrou um crescimento robusto e contínuo nos últimos anos. Entre 2006 e 2008, a empresa teve uma expansão anual de 25,9% em volume financeiro de transações, atingindo o valor de 175,6 bilhões de reais ao fim do ano passado. Nos três primeiros meses de 2009, tal número chegou a 47,7 bilhões, um avanço de 22,4% frente ao valor apresentado no mesmo período de 2008.

Comparando o desempenho financeiro da Visanet e da Redecard, a primeira também leva vantagem. O lucro líquido da Visanet foi de 1,393 bilhão de reais no ano passado, um número 26% maior que o da concorrente. Já a receita líquida foi de 2,875 bilhões de reais, ou quase 300 milhões a mais que a Redecard. Apesar disso, em indicadores de rentabilidade, a Redecard leva vantagem, como no caso da margem Ebitda. Em 2008, a companhia apresentou margem de 69,4%, enquanto que a Visanet ficou nos 62,3%.

Resultados comparados de 2008
Em milhões de reais Redecard Visanet
Receita Líquida2.588,802.875,50
Lucro Líquido1.103,401.393,80
Ebitda1.767,401.802,90
Margem Ebitda69,4%62,3%
Estabelecimentos credenciados1,3 milhão1,4 milhão
Volume financeiro:
Cartões de Crédito82.941110.897
Cartões de Débito42.27364.655

Tamanho da oferta

A Visanet ainda não divulgou o tamanho de sua oferta de ações. Segundo analistas, o montante captado pela Visanet deve ficar em torno de 5 bilhões de reais. No entanto, se a empresa perceber que há demanda dos investidores - principalmente dos estrangeiros, que garantiram o sucesso das três ofertas de ações feitas pela Redecard desde 2007 - poderá aumentar o lote de papéis que será colocado no mercado e levantar até 10 bilhões de reais. Isso suficiente para torná-la a maior oferta já realizada no mercado brasileiro.

Independente da quantidade de ações à venda, não faz sentido que a Visanet tenha um valor de mercado inferior ao da Redecard (17,8 bilhões de reais, de acordo com a cotação de fechamento da última sexta-feira). Jayme Alves, da Spinelli, diz que o momento da economia mundial não é tão bom para ofertas iniciais de ações se comparado ao cenário na época do IPO da Redecard, mas lembra que as atuais condições são iguais para as duas empresas.

Atrativos do setor

O setor de cartões tem apresentado excelentes taxas de crescimento no Brasil. Entre 2006 e 2008, o volume financeiro de transações teve uma taxa de avanço anual de 23,9% devido à expansão do consumo privado e ao aumento da penetração dos serviços financeiros e de meios eletrônicos de pagamento.

"A ação é atrativa porque a Visanet é uma empresa com uma margem muito alta em um setor de grande potencial, com crescimento acima de 20% ao ano", explica Patrick Corrêa, analista de renda variável da Máxima Asset Management.

Apesar do forte avanço nos últimos anos, os analistas acreditam que o setor de cartões de pagamento no Brasil ainda apresenta um grande potencial de crescimento se comparados os percentuais de sua utilização no Brasil e nos países desenvolvidos. Também pesa a favor o fato de que a crise financeira ter tido impactos limitados sobre as empresas do setor. O aumento do uso do cartão no consumo foi mais do que suficiente para que a Redecard compensasse os efeitos da crise. Além disso, muitas empresas passaram a usar o serviço de desconto de recebíveis da empresa com o encarecimento do crédito - sendo que quem fica com o risco dessas linhas não são as companhias de cartão, mas o banco emissor do plástico.

"É um setor de que gostamos bastante, em que há a possibilidade de explorar nichos ainda não explorados, permitindo um credenciamento maior de estabelecimentos", opina Luciana Pazos, analista de investimentos da Gradual. Segundo ela, o setor pode ser considerado uma opção bastante defensiva de investimento nos momentos de turbulências econômicas.

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