Varig nomeia presidente-interino para acalmar o mercado

O comandante muda, mas a rota da Varig continua a mesma. Nesta quarta-feira à tarde, o diretor de Controladoria e de Relação com os Investidores da Varig, Manuel Guedes, de 41 anos, foi nomeado o novo presidente da companhia. Guedes assume o comando da empresa interinamente disposto a dar continuidade ao processo, em curso, de reestruturação da Varig. Amanhã ele deve ter sua primeira reunião com o BNDES para discutir com o banco o plano de recapitalização da empresa.

Para acalmar o mercado, receoso de que a saída de Arnim Lore da presidência pudesse significar uma guinada nas negociações da empresa com seus credores, Guedes garantiu que a Varig está preparada para efetuar pagamentos diários para seus fornecedores. Desde o último dia 11 estamos pagando a BR Distribuidora diariamente e faremos o mesmo com a Infraero , disse. Afirmou também que a Fundação Ruben Berta, a maior acionista da Varig, continua aceitando a perda do controle da empresa. Essa decisão foi tomada em março e não houve recuo da fundação quanto a isso , afirmou, embora seus curadores tenham ido contra o plano de reestruturação da companhia o que acabou resultando na saída de Arnim Lore da presidência da Varig esta semana. Lore deixou o cargo acusando a fundação de vetar o memorando de entendimento para a solução da grave crise da empresa.

Na avaliação de Guedes, o problema da dívida da Varig - de 764 milhões de dólares - são os prazos de vencimento, não seu volume. Até o fim deste ano, vence uma dívida de cerca de 50 milhões de dólares. Em 2003, outros 150 milhões deverão ser pagos, aproximadamente. É necessário buscar a reestruturação da dívida e a renegociação das condições de pagamento , disse o executivo, que já vem participando das conversas com os credores. Sua intenção, em seu mandato interino, é já entrar em contato com investidores interessados em fazer negociações com a Varig.

Sobre a possibilidade de a Star Alliance - o consórcio de aéreas formado pela Varig, United Airlines e outras companhias - ajudar a empresa, Guedes afirmou não acreditar nessa possibilidade pois as companhias aéreas, que passam por sérias dificuldades em todo mundo, estão sem hoje condições de investir. Mas isso não significa que ela não possa apoiar-nos contatando investidores ou fornecedores.

No curto prazo, o novo presidente da Varig aguarda a apresentação do plano de recapitalização do BNDES. A partir dele, procuraremos novos investidores e veremos como será a participação dos credores no controle da empresa , afirmou Guedes. Quanto às chances de alterar itinerários e mexer na folha de pagamentos, Guedes foi reticente. É possível que, depois de analisar as recomendações das consultorias contratadas, façamos uma adaptação de rotas , disse ele. Nesse caso, haveria também uma adaptação do nosso quadro de pessoal.

Guedes não vê problemas em administrar a empresa embora esteja interinamente no cargo. Estamos nessa vida interinamente, como diz algum filósofo por aí , afirma ele. O Conselho de Administração da FRB-Par, a holding que controla as empresas do grupo Varig, pensa da mesma forma. A interinidade não prejudica a execução do trabalho. Além disso, o Conselho nem parou para pensar em efetivação , disse o economista e contador Luiz Carlos Vaini, que passa a integrar o Conselho. Além dele, faz parte desse grupo o administrador Yutaka Imagawa, presidente do Conselho de Curadores da Fundação Ruben Berta há sete anos, que passa a acumular com a presidência do conselho da FRB-Par. Imagawa havia se afastado do comando da Varig por exigência dos credores que o acusam de atrapalhar todos os planos de reestruturação da empresa). Também estão no conselho outros três conselheiros da FRB-Par: Joaquim Fernandes dos Santos, André Beer e Waldir Dias Sant Anna. Com essa nova composição da diretoria, a situação da Varig com os credores volta à estaca zero já que quem tocará a empresa é o mesmo grupo que vinha sendo acusado de fazer uma administração ineficaz na companhia.