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Um casamento de 66 bi de dólares

David Cohen Demorou, mas a Monsanto finalmente cedeu aos encantos da Bayer. E ponha encantos nisso. Na sua terceira proposta em quatro meses, a companhia química alemã ofereceu desembolsar 66 bilhões de dólares pela empresa de biotecnologia americana (57 bilhões líquidos, outros 9 bilhões em pagamento de dívidas). O dote vai ser todo em dinheiro […]

PROTESTO CONTRA A MONSANTO: a compra faz da Bayer líder em agricultura, mas atrai uma enxurrada de críticos / Sean Gallup/ Getty Images
DR

Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2016 às 18h15.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h46.

David Cohen

Demorou, mas a Monsanto finalmente cedeu aos encantos da Bayer. E ponha encantos nisso. Na sua terceira proposta em quatro meses, a companhia química alemã ofereceu desembolsar 66 bilhões de dólares pela empresa de biotecnologia americana (57 bilhões líquidos, outros 9 bilhões em pagamento de dívidas). O dote vai ser todo em dinheiro – é a maior compra já feita por uma empresa alemã e a maior transação em dinheiro da história, ultrapassando a compra da Anheuser Busch pela InBev (60,4 bilhões de dólares, em 2008).

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A primeira proposta da Bayer, em maio, era de 122 dólares por ação. O valor subiu para 125 e, agora, 128 dólares por ação. Mesmo assim, as ações da Monsanto eram negociadas na Bolsa de Nova York por volta dos 107 dólares, ontem, um indício de que os investidores não estão pondo muita fé na concretização do negócio.

Bayer e Monsanto pretendem estar unidas no final de 2017. Mas os planos podem ser desfeitos pelas autoridades reguladoras. O negócio ainda vai ter de passar pelo crivo de agências de defesa do consumidor nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia e no Brasil. Analistas da Bernstein Research estimam que a chance de o negócio se concretizar são de 50%, embora citem uma pesquisa entre vários analistas com prognósticos de 70% de chances, na média.

Um dos pontos que estava impedindo a transação, aliás, era o baixo valor que a Bayer ofereceu como compensação para a Monsanto caso o negócio não se realize. A última proposta era de 1,5 bilhão de dólares, agora subiu para 2 bilhões. Esse tipo de compensação é comum porque, ao aceitar o negócio, a empresa abre seus livros e segredos para a concorrente.

A consolidação na indústria

Não só este negócio, mas outras duas grandes fusões – Syngenta com a ChemChina e DowChemical com DuPont – serão avaliadas nos próximos meses. A consolidação que varreu a indústria de química agrícola do ano passado para este foi motivada pela queda nos preços das commodities e consequente redução de compra dos produtos.

Se os três casamentos se concretizarem, dois terços de todas as sementes e defensivos agrícolas ficarão nas mãos de apenas três conglomerados. Associações de fazendeiros já se manifestaram contra a consolidação na indústria.

“Nós fizemos nossas averiguações”, disse o CEO da Bayer, Werner Baumann. “Discutimos os potenciais tópicos antitruste que as agências regulatórias podem levantar e acreditamos que eles serão manejáveis.”

A fusão é uma grande aposta de Baumann. Ele lançou a companhia nesta direção apenas três semanas depois de assumir o cargo, e enfrenta o ceticismo de vários acionistas que preferiam um investimento na área de saúde.

A união com a Monsanto deve tornar a área agrícola da Bayer tão grande quanto a de saúde (hoje ela representa pouco mais de 20% da receita do grupo, que foi de 46 bilhões de euros no ano passado).

Além da dúvida sobre a estratégia, investidores e analistas têm preocupações com a dívida em que a Bayer vai incorrer, de cerca de quatro vezes o seu Ebitda (lucros antes de impostos e amortizações). Isso pode levar a classificação de risco da companhia a cair de A para BBB.

Mas o negócio era simplesmente irresistível, segundo Baumann. Em conferência de imprensa nesta quarta-feira, 14, em Nova York, ele afirmou que “a combinação vai criar o líder global em agricultura”. Trata-se, disse, “de uma irresistível oportunidade para acionistas das duas companhias”.

Os executivos esperam ganhar sinergias de 1,5 bilhão de dólares nos próximos três anos. Mais que isso, as duas empresas são complementares. “Há muito pouca interseção entre as companhias”, disse Hugh Grant, o CEO da Monsanto. Uma é gigantesca em defensivos, a outra é líder em sementes geneticamente modificadas.

Tecnicamente, a união faz todo o sentido: alguns anos atrás, a Monsanto apostou todas as fichas nas sementes, que prescindiriam de defensivos. Mas os germes e pragas estão se tornando resistentes. A fusão permitirá um ataque combinado às pragas. Em termos de marketing, a união não é assim tão saborosa. A Monsanto tem péssima reputação, especialmente na Europa, onde o público aceita menos a manipulação genética.

Também não deverá ser um casamento apreciado pelos consumidores. “A aquisição da produtora de sementes ‘Frankenstein’ Monsanto pode ser uma história de horror tanto para a Bayer como para seus clientes, o fazendeiros”, disse à BBC o professor John Colley, da Warwick Business School. “Os fazendeiros vão perder com a racionalização de produtos e as tentativas de aumentar preços.”

Ainda não está claro o que vai acontecer com a marca Monsanto. “Isso ainda não foi discutido”, disse Grant, na conferência de imprensa. Será curioso se o nome desaparecer. A Monsanto foi a empresa que deu início à onda de fusões, quando tentou comprar a Syngenta, no ano passado, sem sucesso.

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