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The Wall Street Journal enfrenta saia-justa no escândalo de Murdoch

Em meio ao escândalo das escutas telefônicas, tradicional jornal americano tem de se desdobrar para noticiar o caso sem irritar o chefe e ainda manter a credibilidade

The Wall Street Journal: boa reputação construída antes da entrada de Murdoch mantém prestígio do jornal (Spencer Platt/AFP/Getty Images)

The Wall Street Journal: boa reputação construída antes da entrada de Murdoch mantém prestígio do jornal (Spencer Platt/AFP/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2011 às 17h17.

São Paulo – Um bom escândalo ajuda a aumentar as vendas de qualquer jornal. Mas, e se o tal escândalo aconteceu dentro da empresa onde você trabalha? Melhor deixar o caso de lado? É nessa saia-justa que se encontra o The Wall Street Journal (WSJ), na cobertura das acusações de  escutas ilegais e pagamento de propinas a policiais que envolvem os tabloides britânicos de Rupert Murdoch.  

Murdoch, claro, é o dono do Journal, através de sua empresa News Corp. O site do WSJ  não tem empurrado o assunto para debaixo do tapete: todos os dias as notícias do escândalo inglês, cada vez piores, estão no topo de sua home.  

Foi assim inclusive na hora de comunicar que o chefe da Dow Jones, que publica o Journal, Les Hinton, estava deixando a News Corp, também sob suspeitas pelo período em que trabalhou na Inglaterra na época das escutas ilegais.

 Mas se o WSJ não está fugindo do tema, também não está se destacando como o concorrente New York Times ou o britânico The Guardian, que estão dando show no assunto.

Varrer o escândalo para debaixo do tapete corporativo não seria mesmo a melhor solução, segundo Beth Saad, professora titular e pesquisadora do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP. “A reputação do The Wall Street Journal foi construída antes de Murdoch, e ele trata o jornal como um de seus ativos mais importantes. Ele comprou prestígio, não apenas um jornal e não brincaria com isso”, diz.

Murdoch, que comprou o jornal em 2007, promoveu mudanças editoriais significativas. Uma delas foi estender o foco de cobertura do WSJ, que ampliou sua cobertura de economia e negócios para assuntos variados, como esportes e problemas urbanos.  Com esse ecletismo, o jornal começou a rivalizar com o tradicional The New York Times. O concorrente, aliás, vem aproveitando a maré de denúncias envolvendo as empresas de Murdoch para impulsionar suas vendas.

Pisando em ovos

De qualquer forma, o WSJ precisa atuar com cautela para não irritar o chefe Murdoch. O resultado, para a professora da USP, é água-com-açúcar. “A cobertura do The Wall Street Journal está sendo meramente protocolar. Tornou-se um porta-voz de Murdoch”, diz Beth. “É um meio para que os outros saibam como ele vai se posicionar. A investigação, de fato, está sendo feita por outros jornais como o The New York Times e o The Guardian”, diz.

Numa busca no site do jornal, há apenas 130 resultados -- entre vídeos e reportagens – publicados entre o dia 11 de março e 18 de julho. Uma delas é exatamente um morno pronunciamento de Murdoch sobre o escândalo.

Apesar disso, Beth acredita que a credibilidade do jornal não sairá arranhada. “Se eles tivessem optado por ficar quietos, poderiam gerar uma incerteza sobre a credibilidade ainda maior. Agora, a concorrência quer aproveitar para caracterizar o que aconteceu no News of The World como ‘o estilo Murdoch’, mas se sabe que o sensacionalismo é tradicional da imprensa britânica”, diz ela se referindo ao fechamento do tabloide.

Se a credibilidade do WSJ se mantém em alta, o mesmo não pode ser dito sobre a News Corp, cujas ações caíram 15,5% desde o final de junho. “O fechamento do tabloide foi uma maneira de encerrar temporariamente as eventuais dúvidas que Murdoch pode gerar no mercado”, avalia Beth. Agora é esperar para que nenhum escândalo surja nos outros veículos de Rupert Murdoch e prejudiquem ainda mais sua imagem – e a do jornalismo sério.

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