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Por que a TAM e a Gol não decolaram com o petróleo barato?

TAM apostou em combustível caro e teve perdas financeiras; Gol parou de ganhar dinheiro com a compra da Varig

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Nos tempos de disparada dos preços do petróleo, as empresas aéreas brasileiras e estrangeiras viveram uma fase de penúria. O barril cotado a mais de 140 dólares elevou as despesas das companhias com combustíveis e corroeu os lucros. Muitas empresas chegaram a registrar prejuízos volumosos ou até mesmo faliram, especialmente em mercados bastante competitivos, como os Estados Unidos e a Europa. Nos últimos meses, entretanto, a cotação internacional do petróleo levou um tombo. O barril encerrou a última terça-feira abaixo dos 60 dólares. Era de se esperar, portanto, que as ações das companhias aéreas passassem a ser consideradas pelos investidores algumas das maiores pechinchas da bolsa, mas não foi isso que aconteceu. Nos últimos três meses, as ações da TAM acumulam uma queda de 45% e chegaram a 19 reais. Já os papéis da Gol fizeram ainda mais feio, com queda de 51%, para 8,05 reais. Por motivos diferentes, analistas de corretoras continuam desconfiados dos resultados futuros das duas principais empresas aéreas do Brasil.

No caso da TAM, os problemas da empresa estão mais ligados ao aumento das despesas financeiras. A companhia aérea fechou contratos de hedge (proteção) de mais da metade de suas despesas com petróleo nos próximos 12 meses. O problema é que nesses contratos a empresa apostou que o petróleo se manteria acima de 100 dólares. Para a corretora do Itaú, a TAM deve ter uma perda de mais de 320 milhões de reais em 2009 com o hedge de 7,2 milhões de barris de petróleo. Apenas no terceiro trimestre deste ano, a empresa perdeu 287 milhões de reais com o hedge dos combustíveis, um prejuízo considerado surpreendentemente acima das estimativas pela corretora do Santander. Essas despesas foram as principais responsáveis pelo prejuízo líquido de 113 milhões de reais no trimestre.

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Ao menos a TAM ainda apresentou um desempenho operacional considerado positivo pelo mercado. A geração de caixa cresceu de 313 milhões de reais no terceiro trimestre de 2007 para 423 milhões de reais no mesmo período deste ano. A empresa continuou a elevar sua participação de mercado em vôos internacionais. O ingresso no grupo internacional de companhias aéreas Star Alliance deve elevar sua receita anual em 60 milhões de dólares. Até a maior concorrência prevista para 2009 com a chegada da Azul e o crescimento da Webjet ainda não são vistos como uma ameaça à TAM porque a empresa divide com a Gol os melhores espaços nos principais aeroportos do país.

O que começa a preocupar os investidores é a expectativa de desaceleração do crescimento do setor aéreo como um todo. A TAM reduziu nesta semana sua expectativa de expansão dos vôos domésticos em 2009, que devem crescer entre 5% e 9%. Já a Gol estima que o tráfego aéreo interno cresça 6% no próximo ano - apesar de prometer uma expansão bem acima do mercado (11,5%). Com o encarecimento das passagens internacionais devido à alta do dólar e com a provável redução de demanda doméstica com o esfriamento da economia brasileira, entretanto, analistas do setor já começam a duvidar das promessas mais otimistas. "O setor deixa para trás um momento difícil, de petróleo a quase 150 dólares o barril, para entrar em outra situação complicada, com desaceleração no crescimento do tráfego de passageiros tanto nos vôos domésticos quanto nos internacionais", diz a corretora Link em relatório.

A desaceleração do setor é uma notícia especialmente negativa para a Gol, que vinha apresentando números ruins desde a aquisição da Varig. Em outubro, a ocupação dos aviões da Gol foi de apenas 58% - contra 65% da TAM. A participação do mercado doméstico da Gol caiu para 35,23% no mês passado. Já a Varig teve apenas 9,1% dos vôos internacionais. Para a corretora do Itaú, a demanda por vôos da Gol tem sido prejudicada pelo dólar, pela redução das rotas e pelos reajustes das tarifas. Apesar disso, a Gol não deve ter despesas com a aposta na direção errada do petróleo, como a TAM. De qualquer forma, a corretora Link é bastante clara sobre um possível investimento em ações das empresas aéreas neste momento: "Mantemos nossa recomendação de ficar de fora de TAMM4 [o código da ação preferencial da TAM] e GOLL4 [a ação preferencial da Gol]".

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