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Interventor da Parmalat no Brasil quer vender fábricas

A Parmalat Brasil Indústria de Alimentos vai sair bem mais magra da intervenção judicial, instituída há 15 dias pela justiça paulista. O plano de recuperação preparado pelos interventores Keyler Carvalho Rocha, nomeado como presidente, e Rubens Salles de Carvalho prevê o enxugamento da empresa, processo que já havia começado há dois anos na gestão do […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

A Parmalat Brasil Indústria de Alimentos vai sair bem mais magra da intervenção judicial, instituída há 15 dias pela justiça paulista. O plano de recuperação preparado pelos interventores Keyler Carvalho Rocha, nomeado como presidente, e Rubens Salles de Carvalho prevê o enxugamento da empresa, processo que já havia começado há dois anos na gestão do presidente destituído Ricardo Gonçalves.

O ponto de partida da reestruturação que Rocha pretende imprimir à Parmalat é eliminar da estrutura da empresa (veja o quadro abaixo) as unidades menos rentáveis e ficar apenas com as lucrativas. "Não se pode manter uma estrutura desse tamanho sem fonte de recursos", afirmou ao Portal EXAME o interventor-presidente. No fim do processo, o braço operacional do grupo italiano deverá ficar com um terço do total de unidades produtivas no Brasil.

O esboço do plano de recuperação foi enviado ao administrador da Parmalat na Itália, Enrico Bondi. Apesar disso, Rocha afirmou que não espera a aprovação dos acionistas para dar andamento ao processo. "Não estamos pedindo para o Bondi para aprovar. Mas é de bom tom informar ao dono o que pretendemos fazer", disse. Quanto à tentativa do administrador italiano de reverter a intervenção judicial no Brasil, Rocha afirmou que não vê conflito de interesses. "Como todo administrador, ele quer zelar pelo patrimônio do grupo. Mas, no fundo, para resolver o endividamento do grupo, ele conta com o bom funcionamento de todas unidades no mundo."

Não é a primeira vez que Keyler Rocha, professor de finanças da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente tesoureiro do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef), se mete em encrenca. O primeiro convite que ele recebeu para participar do saneamento de uma empresa foi há 38 anos. Já graduado em Economia e Direito, Rocha assumiu aos 26 anos a administração da companhia Aga, subsidiária da multinacional sueca de mesmo nome, então em processo de concordata.

Conhecido por investir do mercado acionário, Rocha dedicou-se nos últimos 14 anos à carreira de professor - tanto na Universidade Mackenzie, onde coordenou a pós-graduação, quanto na USP - e a prestar consultoria a empresas. Na década de 80, chegou a vice-presidente da Cimento Itaú e foi diretor financeiro da Nitroquímica, ambas do grupo Votorantim. Foi ainda diretor financeiro e de relações com investidores da Agroceres.

O último cargo diretivo que ocupou numa organização foi no Banco Central (BC), onde atuou como diretor do Mercado de Capitais. De lá, o mineiro de Conquista saiu depois de denúncias de uso de indevido de crédito subsidiado (sem juros nem correção monetária) na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Na carta de demissão, Rocha afirmava ao então presidente da República José Sarney que as operações na Bolsa eram anteriores à nomeação no Banco Central, que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) havia considerado os negócios legais e que as acusações eram de caráter político. O inquérito administrativo na CVM inocentou todos os indiciados.

Arrendamento
O interventor descarta a hipótese de arrendar unidades da Parmalat. "O arrendamento é ruim por dois motivos", diz Rocha. O primeiro: o que se ganha com o aluguel não resolve o problema de capital de giro. O segundo: o estado em que retornam as unidades arrendadas é uma incógnita. Mais do que postergar o problema, o arrendamento pode piorar, já que, durante o período, o maquinário se deteriora, tanto fisicamente quanto pela tecnologia. Para o interventor, a única saída é vender os ativos. Isso, segundo ele, permitirá a capitalização da empresa, a redução de custos a folha de pagamento da companhia registra 6,2 mil funcionários e a menor dependência de capital de giro.

Sobre a relação com os credores, Rocha diz que, nesta semana, conseguiu aprovar duas operações de desconto de duplicatas. Ele não revela valores nem o nome dos bancos. Resume os acordos da seguinte forma: "Quebramos o gelo. O importante é tirar o processo da inércia. Depois de um período de mudez dos credores, conseguimos esse primeiro passo".

A postura aparentemente hostil do Banco do Brasil (BB), que entrou com um pedido de execução de dívida da Parmalat na 9ª Vara Cível, foi descrita como simpática pelo interventor-presidente. Rocha afirmou que novas linhas não foram liberadas mas que o BB demonstrou boa vontade em parcelar dívidas antigas e em atender a novos negócios, financiando parceiros da Parmalat Alimentos.

Para sanar as dívidas com fornecedores, a nova administração determinou o pagamento dos produtores de leite de acordo com as disponibilidades de caixa e a troca de duplicatas com os fabricantes de embalagens. Segundo Rocha, o pagamento de funcionários e o recolhimento de tributos têm sido feitos em dia.

Os dois interventores, Rocha e Rubens Salles de Carvalho, aguardam a chegada de um terceiro, nomeado pelo juiz da 42ª Vara Cível de São Paulo, Carlos Henrique Abrão, para completar a equipe dirigente da empresa. Os dois administradores nem sequer conhecem o advogado Aroldo Joaquim Camillo Filho. Ele entra para substituir o também advogado Jorge Lobo, radicado no Rio de Janeiro. Depois de assinar a ata de posse na sede da Parmalat em São Paulo, Lobo enviou uma carta ao juiz Abrão renunciando ao cargo para não "pôr em risco (sua) reputação" profissional. Enquanto esperam a posse do novo interventor, Rocha e Carvalho tentam, conforme descreveram, continuar a apagar o incêndio.

A Parmalat em números
9 fábricas (uma sob intervenção no Rio de Janeiro)
4 centros de distribuição
2 operadores logísticos
6 centros logísticos (cross-dock)
8 pontos de apoio
6.200 empregados
Observação: antes da gestão do presidente destituído Ricardo
Gonçalves, a Parmalat tinha 17 fábricas, 12 centros de distribuição e 9
mil empregados, além de unidades para logística.
Fonte: Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos
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