Exame Logo

Crise da Parmalat chega ao Brasil

Apesar de a subsidiária Parmalat ter divulgado nota na segunda-feira (29/12) afirmando que a crise na matriz não afeta suas operações no Brasil, a empresa já está inadimplente com parte de seus fornecedores locais de leite e oficializou nesta terça-feira (30/12) a primeira baixa entre seus executivos no país. Em comunicado enviado hoje à Bolsa […]

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Apesar de a subsidiária Parmalat ter divulgado nota na segunda-feira (29/12) afirmando que a crise na matriz não afeta suas operações no Brasil, a empresa já está inadimplente com parte de seus fornecedores locais de leite e oficializou nesta terça-feira (30/12) a primeira baixa entre seus executivos no país.

Em comunicado enviado hoje à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a Parmalat anunciou que seu diretor de relações com investidores no Brasil, Paulo Carvalho Engler Pinto Junior, renunciou ao cargo. Em reunião do conselho de administração da empresa realizada em 19/12 (o escândalo da empresa veio à tona em 8/12), o nome de Andrea Ventura, atual diretor-financeiro, foi aprovado para substituí-lo.

Veja também

Sem citar os motivos da saída do executivo, o comunicado diz apenas que ele apresentou seu pedido de renúncia em caráter irrevogável e irretratável. Procurada, a empresa negou que a renúncia do diretor esteja relacionada com a crise que envolve o grupo.

A Parmalat S.A. Indústria de Alimentos possui ações negociadas na Bolsa brasileira. Mas, segundo a empresa, apenas 0,2% do total de ações estão nas mãos de acionistas minoritários. Os outros 99,8% estão em poder da própria Parmalat.

Nesta segunda-feira, a empresa não pagou, conforme prometido, uma dívida de 2,3 milhões de reais com 11 cooperativas produtoras de leite de Itaperuna, no Rio de Janeiro. Eles deviam ter recebido no dia 15/12, mas a Parmalat havia negociado o adiamento do pagamento para 29/12. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, as cooperativas produtoras de leite respondem por cerca de 20% do total do produto comprado pela Parmalat Brasil (os outros 80% são comprados diretamente dos produtores). Desses 20%, os cooperados de Itaperuna respondem por cerca de 8%. A empresa afirma que as demais cooperativas receberam o pagamento por meio de notas promissórias da Parmalat entregues a agentes financeiros, que agora passaram a ser credores da subsidiária brasileira.

O caso Parmalat já começa a mobilizar inclusive esferas do governo brasileiro. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deve convocar nos próximos dias uma reunião da Câmara Setorial do Leite e Derivados. O objetivo é discutir o impacto que a crise na multinacional italiana possa ter nos pequenos produtores de leite de regiões que fornecem o produto exclusivamente para a Parmalat Brasil.

Durante interrogatório nesta terça-feira, em Milão, onde está preso desde sábado (27/12), o ex-presidente e acionista majoritário da Parmalat, Calisto Tanzi, admitiu que estava ciente de que foram feitos ajustes nos balanços da empresa nos últimos anos, com o objetivo de superar a crise que se agravou a partir de 1998, causada principalmente pelas operações no mercado sul-americano, e que, no último ano, ela piorou principalmente com a situação cambial no Brasil e na Argentina.

A afirmação, segundo as versões online dos jornais italianos La Repubblica e Corriere della Sera, constam das 14 páginas do pedido de prisão de Tanzi assinado pelo juiz Guido Salvini. Um pedido de prisão domicliar, solicitado pelo advogado de Tanzi, foi negado.

Durante o interrogatório de segunda-feira, Tanzi admitiu que retirou da empresa cerca de 500 milhões de euros, mas negou que o dinheiro tenha sido desviado para contas no exterior. Ele disse que os recursos foram aplicados em outras companhias do grupo, como a Parmatour, uma agência de turismo que pertence à sua família.

Nesta terça, o filho de Tanzi, Stefano, que também já ocupou a presidência da Parmalat e preside o time de futebol Parma, depôs por cerca de nove horas.

Na segunda-feira, fontes ligadas ao processo de investigação afirmaram que os débitos do grupo Parmalat ao final de 2002 somavam 8,2 bilhões de euros, cerca de um bilhão de euros a mais do que havia sido divulgado oficialmente no relatório anual da empresa. Enrico Bondi, nomeado há duas semanas novo presidente do grupo, teria dito ainda que a situação da empresa se agravou sensivelmente ao longo de 2003.

O caso da Parmalat está sendo comparado aos escândalos financeiros das americanas Enron e WorldCom, que registraram fraudes contábeis de 9 bilhões de dólares e 12 bilhões de dólares, respectivamente. O rombo da Parmalat, em dólares, é estimado em pelos menos 10 bilhões.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame