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Sadia prepara ofensiva no exterior com aquisições ou novas fábricas

Concorrentes como Perdigão e JBS-Friboi foram mais agressivos e cresceram mais nos últimos meses

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Os planos de internacionalização dos negócios da Sadia dão sinaisde que vão assumir um ritmo mais acelerado a partir de agora - uma espécie de reação à concorrência, que tem andado a passos mais largos. Além da recém-inaugurada fábrica em Kaliningrado, Rússia, sua primeira fora do Brasil, a empresa já estuda a possibilidade de uma segunda unidade fabril naquele país, calcada no avanço da demanda interna. A Sadia se prepara também para enfrentar as duras barreiras sanitárias impostas pelo mercado japonês que, segundo cálculos da empresa, consome 4 bilhões de dólares em carne de porco por ano. Até agora, nenhum quilo de sua marca. Mas essa realidade poderá mudar por meio de ações no estado de Santa Catarina, que conseguiu receber o certificado da Organização Mundial de Saúde Animal como área livre da febre aftosa, sem vacinação. A Sadia não descarta ainda, aumentar os recursos disponíveis para novas transações, a possibilidade de se capitalizar com a participação de grande fundo de investimentos. "Todos esses são projetos que estão em nossas mentes. Pensamos em todas as possibilidades existentes no mercado, inclusive aquisições de novos ativos dentro e fora do Brasil, desde que agreguem valor às nossas operações", diz Gilberto Tomazoni, presidente da Sadia.

Otimista com o Brasil, ele acredita que a crise de crédito dos Estados Unidos não irá atrapalhar os planos de investimentos e expansão da empresa - já previstos em 1,6 bilhão de reais neste ano, sem contar os recursos para eventuais aquisições. "O consumo de carne vem aumentando no mundo inteiro, com o aumento da renda em países como a China, Rússia e Índia. E nós estamos cada vez mais competitivos na nossa área. Temos condições de expandir bem mais no exterior. A menos que essa crise tenha uma dimensão muito maior do que a já anunciada, não irá nos afetar", afirma ele. No que tange aos concorrentes de mercado, que muitas vezes têm demonstrado mais apetite e impetuosidade em operações de aquisição e fusão, Tomazoni faz uma leitura própria e, obviamente, favorável a seus negócios. Admite que ficou surpreso com a ousadia dos irmãos Batista (Joesley, Wesley e José Batista Júnior, donos da JBS Friboi) e suas compras fora do país (referindo-se às incorporações da americana Swift e, mais recentemente, de três outros frigoríficos, um australianos e dois americanos). Mas prefere não comentar as aquisições da principal rival, a Perdigão (que arrematou três empresas na Europa, além das operações da Eleva no Brasil e Argentina). Em termos gerais, e aproveitando para dar uma alfinetada, Tomazoni diz não entender como algumas operações ocorridas ';valeram'; tanto dinheiro. Contra a concorrência defende-se com um mantra: "quanto mais forte o meu concorrente, mais atento e eficaz eu serei. Um concorrente mais forte faz com que eu acorde mais cedo e trabalhe mais. E isso é positivo".

 Reino Unido

 De fato, parece que a Sadia vem levantando mais cedo neste ano e correndo para não ficar para trás. A empresa montou um departamento independente com executivos que têm a missão de analisar 24 horas por dia novos mercados e oportunidades, incluindo as de aquisições externas. Isso ajudou a ampliar os rumores de analistas do mercado que apontam o interesse da Sadia em uma das maiores empresas de alimentos do Reino Unido, a Grampian Country, avaliada em 788 milhões de dólares. A indústria, que estaria com problemas financeiros, também está sendo disputada por outros possíveis compradores: a holandesa Vion e o fundo de private equity americano CCMP Capital.

Caso efetivada, a aquisição da Grampian faria com que a Sadia retomasse com mais folga a dianteira de mercado em relação a Perdigão, hoje mais agressiva após ter enfrentado e, superado, uma crise financeira há pouco mais de três anos. No ano passado, a Sadia obteve receita líquida de 8,6 bilhões de reais (cerca de 46% do total vieram dos negócios externos) e lucro líquido de 689 milhões, com evolução de 83% ante 2006. Já a Perdigão, encerrou 2007 com receita de 6,6 bilhões de reais (45% oriundos do mercado internacional) e ganhos de 321 milhões, 174% superiores ao ano anterior.

 Internacionalização crescente

 O processo de internacionalização das operações da Sadia começou no ano passado, com a inauguração em dezembro da fábrica na Rússia. A unidade recebeu aportes de 70 milhões de dólares, sendo 60% provenientes da Sadia e o restante de sua parceira local, a Miratorg Holdings. A nova unidade, com o nome de Concórdia, oferecerá inicialmente produtos industrializados. Neste ano, 100 milhões de reais devem ser investidos na construção de uma fábrica nos Emirados Árabes. Para 2009, há plano de investir valor igual em um país da Ásia.

Apesar de ter montado uma estratégia que visa o crescimento orgânico dentro e fora do País, a Sadia está sendo obrigada a se render à pressa do mercado, demonstrada pelas ações de concorrentes de longa data (Perdigão) e mais recentes (Friboi). "Estamos avaliando oportunidades no Brasil e no exterior. O nosso desafio é dobrar a empresa a cada cinco anos", diz Tomazoni. Além da construção de fábricas no exterior, o projeto de internacionalização da Sadia prevê a aquisição de ativos e o fortalecimento da presença de seus produtos em importantes mercados internacionais.

Principal mercado exportador da Sadia na Eurásia e o quinto maior mercado no exterior, a Rússia respondeu por mais de 8% do total embarcado pela empresa em 2007. A empresa já comercializa no mercado russo pratos prontos e industrializados com a marca Sadia. Quando estiver em funcionamento, a nova unidade de terá a capacidade para produzir 53 000 toneladas por ano e deverá empregar 700 funcionários.

A Sadia, que já abastece restaurantes do McDonald´s na América Latina, Inglaterra, Alemanha, França e Japão, será a fornecedora exclusiva de produtos processados de frangos para a rede de fast food também na Rússia. Duas marcas serão trabalhadas no mercado russo - a própria marca Sadia e outra, batizada de Clube da Carne.

 Outras unidades

 Na Holanda, a Sadia adquiriu em 2007 os ativos da BK Poultry, localizada na cidade de Neede, a 140 quilômetros de Amsterdã e próxima à fronteira com a Alemanha. Foram investidos 2 milhões de dólares no negócio, e hoje a unidade tem capacidade para produzir 10 000 toneladas por ano de alimentos processados de carne bovina e aves. Em 2008, com investimentos de 4 milhões de reais, a capacidade dessa unidade será dobrada. A Sadia também está ampliando o contato direto com redes varejistas da Europa onde, historicamente, as vendas eram feitas por meio de distribuidores. A partir de agora, pretende fornecer produtos diretamente para essas redes. Na Alemanha os produtos são vendidos para as empresas Rewe, Penny e Markant (que representa as varejistas Ratio, Bela, Tegut, Coop, Okle, Wasgau, Famila e Nahkauf). Está buscando clientes também na Inglaterra, por meio da rede Iceland, e no Leste Europeu.

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