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Renault manipulou emissões de motores a diesel, diz relatório

Segundo um relatório dos serviços antifraude do governo da França, as "estratégias fraudulentas" foram adotadas por mais de sete anos

Renault: foram analisadas as grandes diferenças entre as emissões de veículos Renault nos testes de homologação e em condições reais de utilização (Lionel Bonaventur/AFP)
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EFE

Publicado em 15 de março de 2017 às 09h58.

Última atualização em 15 de março de 2017 às 10h01.

Paris - A Renault utilizou "estratégias fraudulentas" durante mais de sete anos para manipular os níveis de poluição de seus motores a diesel, segundo um relatório dos serviços antifraude do governo da França revelado nesta quarta-feira pelo jornal "Libération".

"A Renault SAS enganou os consumidores sobre os controles efetuados e, em particular, no controle regulamentar de homologação sobre as emissões de poluentes", afirmou o órgão antifraude que é vinculado ao Ministério da Economia (DGCCRF, na sigla em francês) em um documento de novembro de 2016, que serviu para a abertura de uma investigação judicial em janeiro deste ano.

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Um porta-voz da companhia disse à Agência Efe que o grupo divulgará um comunicado hoje para informar sua posição.

A Justiça francesa anunciou em 13 de janeiro que três juízes instrutores realizariam investigações sobre se a Renault tinha manipulado as informações sobre a qualidade de seus motores em termos de poluição, e sobre os controles aos quais são submetidos os carros para sua homologação.

As investigações tinham como base este estudo da DGCCRF, no qual foram analisadas as grandes diferenças entre as emissões poluentes de óxido de nitrogênio (NOx) de veículos Renault nos testes de homologação e em condições reais de utilização.

No caso do Renault Captur, a diferença constatada nas partículas de NOx chegou a 377% e no do Clio IV a 305%.

"Esses resultados permitem suspeitar que ocorreu a instalação de um dispositivo fraudulento que modifica especificamente a função do motor para reduzir as emissões de NOx nas condições específicas do teste de homologação, para que as emissões respeitem os limites regulamentares", afirmaram os autores do relatório.

Para reforçar essas suspeitas, os agentes antifraude que realizaram diligências na sede da Renault nos arredores de Paris e em dois centros de pesquisa em janeiro de 2016 encontraram mensagens de e-mail que viriam a confirmá-las.

O "Libération" publicou uma dessas mensagens, de 25 de novembro de 2015, entre a diretora de assuntos jurídicos da empresa, a chefe de comunicação e o responsável de relações institucionais, na qual se concluía que o sistema de descontaminação dos motores é desativado nas estradas, mas funciona durante os testes.

Segundo os cálculos da DGCCRF, durante os mais de sete anos em que esteve em andamento esse sistema de fraude, o fabricante comercializou cerca de 900 mil veículos que tinham sido homologados de forma duvidosa, o que representou um faturamento de 16,8 bilhões de euros.

Caso seja constatada juridicamente a infração, a companhia poderá receber uma multa equivalente a 10% de seu volume de negócios, cerca de US$ 3,5 bilhões de euros, indicou o jornal.

Desde que em setembro de 2015 explodiu o escândalo da Volkswagen por seus dispositivos de manipulação descobertos nos Estados Unidos, a Renault insistiu que respeitou as regras técnicas e jurídicas.

Poucos dias depois da explosão desse caso, o governo francês iniciou uma comissão técnica independente que trabalhou durante meses sobre uma centena de modelos de marcas comercializadas na França e concluiu que não tinha conseguido detectar sistemas de manipulação desse tipo, mas que também não podia descartar sua existência.

Os técnicos afirmaram que em alguns carros, especialmente os da Renault, a diferença de emissões entre os testes de homologação e o funcionamento em condições reais era inexplicavelmente distinto.

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